“Veja meu bem, Gasolina vai subir de preço/ E eu não quero nunca mais seu endereço/ Ou é o começo do fim ou é o fim”. Aqui me pego, do nada, cantarolando esse clássico do paraibano Vital Farias, coisa dos anos 1980. Talvez sob influência do noticiário e dos preços dos combustíveis, a música tenha saltado da buraqueira do inconsciente para a minha lista de sucessos. Até lembro quando a escutei pela primeira vez, em uma farra no balneário do Caldas, bebendo Kariri com K e ouvindo a rádio Salamanca de Barbalha, sob a batuta do amigo e locutor Josélio Araújo.
A canção é linda demais, o que incomoda é o motivo da sua volta no exato momento. Encostar o carro em um posto virou um inferno. Leio agora a manchete no “DN” que também parece algo de antigamente: “Mudança de cidade, moto e patinete: cearenses refazem rotinas devido ao preço da gasolina”. Haja aperreio no juízo.
Vivemos o retorno de muitas coisas que estavam nas prateleiras — cheias de teias de aranha — do museu dos anos 1980 e 90. Aquela maquininha remarcadora de preços é uma dessas velhas novidades, para espanto de moços e moças que estão na casa dos 30 e tantos anos e nunca haviam convivido com o dragão inflacionário como ele se reapresenta agora, botando fogo pelas ventas.
E dos fiscais do Sarney, você se lembra? Cidadãos e cidadãs de bem colocaram suas camisetas e broches de patriotas e foram à guerra contra os preços altos das feiras, bodegas, mercantis e supermercados. Quem nunca ligou para o 198 da Sunab não viveu os eletrizantes anos finais da década de 80. Era tão rotineiro como assistir a um capítulo de “Vale Tudo”, novela das nove escrita pelo Gilberto Braga.
A crônica na mudança dos costumes não para de nos surpreender nos tempos do Bolsoguedes. Repare no consumo de carne. A fartura do churrasco voltou a ser “coisa de rico”. A passarinha de boi está de novo em alta nas camadas populares. E haja colágeno de pé de galinha e de frango, como vendem por aí, principalmente em alguns programas de tv, as vantagens de estar lascado nessa crise de 2021.
Tá osso. E esse dizer não é mais uma simples metáfora. Agora o açougueiro já classificou até osso de primeira e osso de segunda. Que fase, Brasil!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.