No dia em que a terra parou — digo Facebook, Instagram e WhatsApp —, a mais antiga das redes sociais, a das cadeiras na calçada, voltou à ativa na Timbaúba, nos arredores de Juazeiro do Norte.
Foi um sucesso de novo, avisa minha mãe, sempre entusiasta do gesto de tomar uma fresca e resolver os problemas do bairro, do Brasil e da humanidade na sua cadeira de balanço. Mas não pode ser uma cadeira qualquer, exige-se um assento de qualidade, aquela trançadinha de macarrão, fios verdes transparentes, típica dos avarandados e interiores do Nordeste.
Com ou sem WhatsApp, alguns arruados ainda mantêm a cadeira na calçada à boca da noite. Aí está uma ideia de civilização brasileira. E é neste sentido quase da utopia, embora o assunto nos faça sentimentais e nostálgicos, que puxo a conversa de hoje.
O retorno, em larga escala, desse costume ajudaria a recuperar o diálogo que desapareceu com as tretas políticas. Não é que o consenso fofo passe a imperar do dia para a noite, não é isso, falo da volta aos padrões minimamente democráticos.
A cadeira na calçada, em uma abordagem otimista, levaria a mais reivindicações na área de segurança pública. Pelo direito de bater um papo com o vizinho sem ser importunado pela violência. Cadê a patrulha nos bairros que não garante sequer esses dois dedos de prosa? A ocupação das ruas, naturalmente, também traria uma ideia de ajuntamento e defesa. Daí iríamos evoluindo, evoluindo...
Deveria constar da plataforma de todo e qualquer candidato, de vereador a presidente. Tema também obrigatório nos debateis eleitorais: o que Vossa Excelência tem feito pela retomada do saudável hábito? É questão de saúde pública.
Uma boa fofoca de calçada ajuda a manter, inclusive, a sanidade mental. É o melhor lugar do mundo, sou testemunha, para um conselho amoroso — principalmente no momento de um pé-na-bunda, uma desilusão, uma roedeira por alguém etc.
Não é coisa tão-somente da ladainha nostálgica do tempo do ronca. A conversa na calçada pode conviver muito bem com a mais avançada das tecnologias e seus aplicativos. Requer apenas um tempo justo para a dramaturgia do olho no olho. Serve até para você descansar um pouco a coluna vertebral daquela humilhante posição de cochilo de bêbado — a pose do pescoço caído durante o uso irracional dos aparelhos celulares. Te alui, criatura.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.