Ivan Lessa, jornalista, um dos fundadores do Pasquim, acertou no alvo quando disse que: “De 15 em 15 anos, o brasileiro esquece os últimos 15”.
Essa sentença tem quase 50 anos, e Lessa, que morava em Londres, ficava recluso, quando de suas visitas ao Brasil, porque se sentia mal, diante do que os bárbaros fizeram com a Nação.
Preferiu ficar estacionado em algum lugar do passado do Rio de Janeiro, não a tempo de deixar de perceber que o seu aforismo ficou datado: “De quatro em quatro anos, o brasileiro esquece os últimos quatro”.
É que, numa democracia desmemoriada, o exterminador do passado passa a ser esperança do presente, como se esperança fosse remuneração.
O adubo do esquecimento, fertilizando o terreno para aparecimento do outsider, falso caçador de privilégios, bem apessoado, mauricinho, limpinho e com grande vocação para a gatunagem.
Lembrar, apenas, um pouco vagamente, que não há necessidade de exibir armas para conquistar os nossos corações.
Esqueceram que não deu certo?
Deve ser duro esquecer, com facilidade, o que foi feito no verão passado, mesmo quando se conquistou, materialmente, coisas tão valiosas.
A memória de titica da população (não é o mesmo que povo) nos leva à história de um sujeito que estava esquecido demais das coisas, em prejuízo, principalmente, de suas atividades profissionais.
Apreensivo, procurou o médico e disse dos problemas causados por esse esquecimento.
“Quando começou isso?”, perguntou o médico.
“Isso o quê?”, respondeu o esquecido.
No Brasil, a coisa está assim: “Penso, logo esqueço”.
Como disse Mário Quintana: “Como é admirável a nossa democracia. O sujeito sai das páginas sociais e políticas direto para as páginas policiais, com naturalidade”.
Caiu na vala do esquecimento, acontece isso.
“Quem não tem memória é fantasma de si próprio”, já dizia Elton Medeiros.