Em plena campanha pela Presidência da Câmara dos Deputados, os dois nomes já colocados na disputa, Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP), fazem uma maratona de viagens pelo País. De olho nos votos de parlamentares, o emedebista estará nesta quarta-feira (13) em Fortaleza, em encontro com o governador Camilo Santana (PT) e deputados federais cearenses, enquanto o concorrente desembarcará na Capital na quinta-feira (14), para um jantar, também com membros da bancada do Ceará. A eleição interna, assim, sai de Brasília, mas por que a busca por apoio nos estados é estratégica na disputa? Não se trata de uma questão simplesmente “nacionalizada”: o comando da chamada Câmara Baixa do Congresso Nacional pode afetar os rumos de discussões determinantes para os estados, inclusive para o Ceará.
São necessários ao menos 256 votos – dos 513 em jogo – para que seja definido, no início de fevereiro, o “maestro” responsável pela regência do que será votado na Câmara dos Deputados nos próximos dois anos – e também do que não será votado.
Até o momento, Baleia Rossi conta com um bloco de apoio formado por 11 partidos, que, juntos, totalizam 281 parlamentares. O principal fiador da candidatura do emedebista é o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Outras dez legendas, por outro lado, fecharam questão em torno de Arthur Lira, que também é o nome defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ainda há partidos com posicionamentos indefinidos, como Novo, Podemos e Psol, mas a matemática da eleição não é tão simples assim.
A batalha é acirrada porque os dissidentes, ou os ainda indecisos, têm potencial para alterar a balança dos blocos partidários até a última hora antes da definição do resultado. O exemplo de repercussão mais recente é o do PSL, que, embora faça parte do arco de aliança de Rossi, tem 32 deputados que já declararam apoio a Lira. Há divergências também em outras siglas. Como o voto é secreto, embora ainda não se saiba como será feita a votação, por conta da pandemia, não há garantia de cumprimento de determinados acordos.
É diante deste contexto, portanto, que os candidatos “caem em campo”. Ouvir parlamentares de forma mais segmentada, a partir de realidades – e demandas – muitas vezes específicas de cada estado, é uma outra estratégia de convencimento.
Protagonismo
É fato que, em meio às recorrentes intempéries provocadas por ações – ou pela ausência delas – do Governo Federal, o Poder Legislativo tem assumido protagonismo ao trazer à tona e fazer avançar discussões sobre medidas urgentes para a população brasileira.
Rodrigo Maia, na condição de adversário declarado de Jair Bolsonaro, é um dos principais responsáveis por isso. Uma autonomia necessária diante do vácuo. O desequilíbrio institucional, por certo, é um risco, mas é extensa a lista de vezes em que o Congresso Nacional, a partir da Câmara dos Deputados, buscou balizar movimentos do Poder Executivo. Nesta perspectiva, demonstrou também mais disposição para ouvir os estados. Terá o próximo presidente da Câmara Baixa a mesma postura?
No Ceará, o governador Camilo Santana sabe bem disso. Tem Rodrigo Maia como um aliado importante em Brasília e, por isso, o encontro desta quarta com Baleia Rossi e deputados cearenses sacramenta o apoio do petista ao candidato do MDB.
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Há, na bancada do Ceará, quem acredite na influência que o gesto pode ter para “virar” algum voto ou atrair os que ainda dizem não ter definido posição. Outros minimizam qualquer conflito que pudesse significar ser membro da base governista estadual e apoiar o postulante do PP. Apostam na “nacionalização” da questão, que envolve decisões partidárias em outras instâncias, e no argumento de que se trata de uma eleição interna.
Auxílio emergencial e outras pautas
Apesar de interna, o que deve vir depois interessa – e muito – ao Ceará. Viabilizar alternativas ao auxílio emergencial extinto, por exemplo, é prioridade zero apontada por parlamentares do Estado para a retomada dos trabalhos legislativos. Mecanismos de apoio a estados e municípios que ainda enfrentam impactos da pandemia, assim como a discussão sobre o Pacto Federativo, são pautas também aguardadas.
Há ainda expectativa de que outras mais abrangentes, como as propostas de uma reforma tributária e de outra administrativa, possam avançar em 2021. É preciso, além disso, que outras questões entrem no radar do próximo presidente.
A busca por apoio nos estados, assim, evidencia uma relação de mão dupla, relevante não apenas para a definição do resultado. Independentemente de quem seja eleito, o comandante da Câmara dos Deputados para o próximo biênio, portanto, tem por obrigação a tarefa de dialogar.