O embate entre o prefeito José Sarto (PDT) e o governador Elmano de Freitas (PT) na noite de terça-feira (8), nas redes sociais, tem todos os ingredientes políticos para antecipar o debate eleitoral do ano que vem.
Ao justificar o reajuste no valor da passagem de ônibus, o prefeito argumentou que "até 2022 havia uma parceria com o Governo do Ceará que aportava mais R$ 3 milhões" para custear o subsídio. "Porém, chegamos em março de 2023 e, até agora, esse recurso do Estado não chegou", disse o pedetista.
Sarto disse ainda que, "desde o primeiro dia do ano" está "trabalhando para manter a tarifa integrada de transporte público entre as mais baratas do País".
Minutos depois, o governador rebateu a publicação do prefeito alegando que "o Governo do Estado ajuda a manter o transporte público da capital há muitos anos com cerca de R$ 30 milhões/ano, através da redução em 66% na base de cálculo do ICMS do Diesel".
O governador falou ainda de "responsabilidades". "O que não posso admitir é distorção de fatos para confundir a população e desviar o foco de suas responsabilidades".
Divergências
Se alguém ainda tinha dúvidas, as alfinetadas públicas deixam claro que não há qualquer alinhamento político entre as duas lideranças pensando em 2024. Nos últimos dias, Elmano e Sarto foram vistos juntos em eventos institucionais. Mas tudo parou por aí.
As militâncias sabem disso e já começam a se movimentar nos bastidores. O próprio PT, que sempre fez oposição a Roberto Cláudio e Sarto, já fala em candidatura própria. Por outro lado, o PDT organiza o diretório para tomar as decisões no ano que vem.
Os encontros entre Elmano e Sarto neste ano, que poderiam ser o ensaio de uma aproximação política após o rompimento na eleição de governador em 2022, só reforçam que foram estritamente administrativos. O episódio do reajuste no valor do transporte público só reforçou as divergências políticas que de fato existem entre o governador e o prefeito.
É bom lembrar que Elmano foi derrotado na disputa pela prefeitura em 2012 por Roberto Cláudio, que ajudou a eleger Sarto em 2020. O rompimento entre PT e PDT em Fortaleza completou uma década no ano passado e segue mais firme do que nunca. A influência da deputada federal Luizianne Lins (que é aliada do governador) no PT da Capital fortaleceu isso nas disputas eleitorais de 2016 e 2020.
A preço de hoje não há qualquer expectativa de aproximação política entre o governador e o PDT de Fortaleza – embora o cenário a nível estadual seja outro.
Com as divergências cada vez mais expostas, o cenário vai se construindo para a consolidação de um palanque apoiado pelo governador em confronto com a atual gestão na Capital. Se a candidatura será do PT ou de algum partido aliado do governador, a futuro dirá.
O assunto já chegou a ser discutido por partidos que integraram a aliança do PT na disputa de outubro do ano passado, como PP e MDB.
Pontes
Apesar desse contexto, o embate público surpreende o cenário da política local no momento em que o prefeito de Fortaleza busca estabelecer pontes com diferentes lideranças políticas que estão, inclusive, na oposição. Sarto também vinha adotando um discurso pacificador em meio à crise interna do partido e a relação com Elmano de Freitas.
O movimento pacífico já vinha sendo construído quando o gestor fez registros com parlamentares em Brasília nos últimos dias. O prefeito reforçou nesta semana que está "visitando todos que abram a porta" para ajudar a administração da cidade.
O episódio do reajuste na tarifa de ônibus, portanto, interrompe essa trajetória e coloca em dúvida qual será a postura do prefeito daqui pra frente.