O quanto estamos dispostos a entender a depressão em tempos de urgência e busca por excelência?

Considerado o mal do século, a depressão atinge milhares de pessoas no mundo. No Brasil, segundo dados atuais da OMS, 5,8% da nossa população está deprimida. Os antidepressivos estão entre os remédios mais vendidos, gerando lucros de bilhões de dólares a indústria farmacêutica.

Como o médico, no nosso sistema, quer seja rede pública quer seja privada, em especial dos planos de “saúde”, que passa de 10 a 15 minutos com o paciente, conseguirá fazer uma boa avaliação diagnóstica? Claro que a pressão do tempo trará prejuízos ao seu trabalho e principalmente para o paciente.

A cultura da medicalização da vida induz a população a buscar no remédio o alívio ou mesmo a solução rápida para acabar com qualquer dor e sofrimento que esteja sentindo e às vezes até evitar que venha a sentir.
 
Então, temos soluções para quem está muito triste, para quem está alegre demais, para quem está com insônia e para quem está dormindo demais, para quem está sem apetite ou comendo muito, se não está conseguindo se concentrar... Enfim, para todas as situações.

Identificamos essa realidade em todas as idades, da criança ao idoso. O Brasil aparece como segundo maior consumidor de metilfenidato – usado principalmente em crianças diagnosticadas com TDAH.

A medicação adequada, e no momento adequado, é necessária e pode ajudar, e muito, a quem realmente está precisando. Diferentemente do que frequentemente temos visto.

Acontece que, em qualquer doença, física ou psíquica (separação apenas didática), precisamos nos deter nas causas e nas lições que nos traz.

Por exemplo, o paciente pode ter sintomas ditos depressivos por estar com um desequilíbrio hormonal na tireoide. Um outro pode estar exausto pela carga de trabalho excessivo. A pessoa pode estar atravessando um momento difícil no relacionamento afetivo, financeiro ou profissional.

Por estar tão desgastada, pode apresentar vários sintomas pelos quais, apressadamente, pode ser diagnosticada com depressão e ser medicada para tal quadro.

A automedicação, aliada à facilidade em se conseguir a receita, só atrapalha a saúde coletiva e dos profissionais que fazem um trabalho responsável.

Vivemos num tempo em que nos cobramos, e somos cobrados, a excelência, temos que ser fortes e vencedores, em que não podemos desistir. Tudo isso para sermos bem-vistos e aceitos, para não corrermos o risco de sermos abandonados pelos outros.

Com tanta dedicação para atingir esse objetivo, acabamos por nos esquecermos de nós mesmos. Desrespeitamos nossos limites e acabamos por adoecer.

O que a doença pode significar? Quais lições precisam serem aprendidas para que não se recaia?

A urgência de se livrar dos sintomas pode vir do intuito de continuar no circuito de alta performance, não se mostrando frágil, para não ser excluído. Como também de uma estratégia inconsciente de se anestesiar e não ver o que está gerando o adoecimento, pois, vendo as causas, é necessário mudar o comportamento, os hábitos, os relacionamentos. O que pode ser bastante desafiador, como também desencorajador, visto que tudo tem um preço.

Quero destacar que a pessoa com depressão precisa ser cuidada e se cuidar. São pessoas que sofrem por um trauma acontecido na infância que, não necessariamente foi um grande fato, pode ser uma sequência de pequenos fatos que a marcaram o suficiente para jogar seu autoconceito e sua autoestima para baixo, gerando uma visão ruim e triste de si, dos outros e da vida.

Portanto, cuide-se e cuide daqueles que a sua volta precisam de ajuda.

Paz e bem!

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.