Sofrimento grande. O Fortaleza não consegue encaixar a sequência de vitórias para sair da zona de rebaixamento. Quando a primeira fase do certame começa, todos estão iguais: zero ponto. Quando começa a segunda fase, há vantagem para os que adicionaram boa pontuação. E há grande desvantagem para quem a inicia devendo. O Fortaleza já começa precisando de seis pontos. Isso para sair da zona pela situação atual.
Conseguirá seu intento? Há os que já perderam a fé. E há os que ainda acreditam na reação. No futebol tudo é possível. Entretanto, se continuar com o atual padrão, ficará mais para a queda do que para a classificação. Além de tudo, ainda terá o desgaste de jogos com o Fluminense pela Copa do Brasil. Ora, se já dá sinais de desgaste pelos compromissos com a Série A, imaginem juntando tudo em três dias, ou seja, o Fluminense na quinta-feira no Castelão e o Cuiabá no domingo na Arena Pantanal. Além dos jogos, a viagem longa. Quando o time entra numa fase de descrença, a condição psicológica também sofre forte pressão. O peso da responsabilidade faz com que os jogadores passem a errar passes de três metros. A trave do adversário diminui de tamanho e o goleiro cresce.
Minha posição está entre os que ainda não jogaram a toalha. Estou entre os temerosos de algo pior, mas não aceito assinar a certidão de óbito com o paciente ainda vivo, embora em estado grave na UTI. Não é permitido desligar os aparelhos que sustentam a respiração da esperança. Não se pode desligar as máquinas, quando o coração e o cérebro ainda emitem os sinais de vida.
A história do Fortaleza é rica em reviravoltas inacreditáveis. Foi daí que nasceu a mística daquelas camisas, traduzida pela pena genial e inspiradora do saudoso jornalista Blanchard Girão. Seria, pois, uma força interior, superior, transcendental. Algo divino a alargar os caminhos para chegar à vitória. Muitos certamente dirão que isso faz parte de um romantismo passado, não mais existente.
Compreendo os torcedores que não mais acreditam na força mística da camisa. Afirmam que hoje somente a camisa não ganha jogo. E mostram o motivo: naquela época existia o amor à camisa mais que ao dinheiro. Hoje existe o amor ao dinheiro mais que à camisa. Os tempos são de negócios de alto preço, não de bobas manifestações sentimentais. Pode ser.
Digo sem medo de errar: o Fortaleza somente escapará da degola, se reencontrar a mística daquelas camisas. A mística dá ao atleta a força física que ele não tem, a confiança que estava perdida e a fé que remove montanhas. São milagres raros, mas acontecem nos campos de futebol. Não faz muito, o Ceará foi contemplado com um milagre assim. Basta lembrar o que fez o técnico Lisca.