Júlio Salles, meu mestre e amigo
Leia a Coluna desta quarta-feira (12)

Saudade. Muita saudade. Ontem, a notícia doeu. Doeu demais. O narrador Júlio Salles partiu. Deus o chamou. Assim que eu soube, vieram as lembranças. Um filme dos primeiros tempos da década de 1960, quando ele foi contratado pela Rádio Uirapuru. Bem jovem, veio de Belém. E aqui fez morada.
Um profissional completo. Bela voz, versátil, criativo, preciso nos lances, vibrante. Além de narrador, também apresentava com bastante desenvoltura diversos tipos de programa. E assim, com o passar do tempo, ganhou os corações cearenses. Tornou-se um dos maiores ícones do rádio.
Minha eterna gratidão. Para mim ele foi um mestre. Em 1965, Júlio fez parte da banca que me aprovou no concurso promovido pela “Tarde Esportiva”, um programa que o saudoso Gilvan Dias apresentava da Rádio Uirapuru. Foi o início de uma amizade sincera, que em setembro próximo completaria 60 anos.
Meu querido amigo, obrigado. Aqui você cumpriu a missão que lhe foi dada por Deus. Guardo, com muito carinho, as melhores recordações. Fiquei muito feliz ao vê-lo abraçar a fé cristã, seguindo o caminho que leva ao Pai. Valeu, Julinho!
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Nome
Quando ingressei na Uirapuru, acharam meu nome, Francisco Antonio, não radiofônico. Sugeriram alguns nomes. Eu não quis mudar. Júlio Sales, vendo a minha insatisfação, interveio. Ouvindo sugestão do saudoso César Coelho, Júlio propôs Tom, no lugar de Antonio. Os dois lembraram Tom Jobim. Passei a ser Tom. Até hoje.
Lições
Jamais esqueço. Antes da minha primeira narração esportiva, ele fez questão de me ensinar muitas coisas. Levava para o PV um gravador enorme (não havia os pequenos de hoje). Eu gravava os jogos preliminares. Então ele me ensinava o ritmo ideal para cada parte do campo, as mudanças de posição dos atletas, tudo. Um mestre.
O Rei
Em 1966 ou 1967, fui cobrir um jogo em Natal. O Júlio foi também. A Jovem Guarda no auge. Os passageiros todos já sentados no avião, quando entrou Roberto Carlos, o “Rei da Juventude”. Júlio levantou-se e cantarolou um dos sucessos do “Rei”. Roberto sorriu e o cumprimentou. Os passageiros aplaudiram. Era o Julinho brincalhão.
Campeão
1967, Fortaleza campeão cearense. Croinha deu de presente ao Júlio a camisa número nove. Júlio foi buscá-la no Pici. Fui com ele. Júlio colocou a camisa na frente de sua lambreta. Veio para a Beira-Mar. Na descida da ladeira da Av. Barão de Studart, ficou em pé na lambreta e soltou o guidão. Tomei um susto. Ele sorriu, feliz, comemorando.
Último contato
Eu e o Gomes Farias visitamos o Júlio no hospital, um dia após a cirurgia. Ele estava bem. Foi uma conversa alegre. Assuntos do presente e do passado marcaram o que seria a nossa despedida. Lá estavam a dona Ana (esposa) e Ana Júlia (filha). Ele nos agradeceu e fez um sorriso. Ficamos de voltar. Não deu tempo. Julinho seguiu em paz.