Não vá na onda dos que teimam em desvalorizar o Campeonato Cearense. Resista. Os estaduais foram a origem de tudo. Têm seus encantos. Desde 1957 acompanho esse tipo de disputa. São 63 anos de olhar, de janela. Do PV pequeninho ao gigante Castelão. As dimensões mudaram, mas os corações batiam forte como forte batem os corações de agora. Exatamente iguais. Em 1957, Ceará x Usina. Hoje, Ceará x Fortaleza. O Leão me parece melhor, inclusive menos desgastado. O Ceará oscilante. Um Vozão que brilha e ganha do Flamengo, mas tropeça nos lanternas da vida. Um Fortaleza otimista pelo empate com Santos na Vila, mas ressabiado pelo que aconteceu na Copa do Nordeste. Quando a bola rolar, esqueçam tudo o que foi dito. Em campo, começará uma outra história. É aquela que não tem roteiro, composta ao sabor das manifestações do momento. Fatores imprevisíveis poderão definir o rumo das coisas. Um erro de arbitragem. A sorte, que às vezes resolve ficar de um lado só. Ou mudar de lado no último minuto. Há jogadores que crescem nos clássicos. Há jogadores que amarelam nos clássicos. Tudo isso assegura a importância histórica das decisões estaduais, que agora alguns querem negar.
Momento
Há jogador de decisão. É aquele que exerce liderança e conduz o time principalmente nos momentos mais delicados. Nesse caso não interessa a posição. No Fortaleza pode ser o goleiro Felipe Alves, que há se mostrado um freezer. No Ceará, Vina, que experimenta sua melhor fase desde que aqui chegou. São jogadores que fazem a diferença.
Surpresas
Há também os que surpreendem. Agora mesmo cito um fato interessante. Gabriel Dias é tido por muitos como reserva de Tinga. Gabriel tem mais inclinação para marcar. Muito bem. Pois embora tenha tido a missão de marcar Soteldo, ele apareceu em lances de ataque, projetando-se muito bem. E foi o autor do gol. Acontece muito isso em clássico.
Conhecidos
Os treinadores terão papel especial hoje. Guto e Ceni sabem as propostas e alternativas de cada. Os recentes jogos entre os rivais permitiram observações que serão de grande valia. Quem assimilou as variantes pode tirar bom proveito. Leão tem a vantagem de dois resultados iguais (vitória e derrota pelo mesmo placar ou empates).
No ano de 1957, o mundo sofria com a pandemia da gripe asiática que matou um milhão de pessoas. Ceará e Usina disputavam a melhor de três da decisão do Campeonato Cearense. O Alvinegro de Porangabuçu ganhou o primeiro jogo (2 x 1). Aí pediu adiamento do segundo jogo, alegando que nove atletas estavam com a gripe.
Descobriram que era mentira. O Ceará queria ganhar tempo e recuperar três atletas que estavam contundidos. A FCD não atendeu. O Vovô, sem os três contundidos "asiáticos", perdeu o segundo jogo. Deu Usina, 2 x 0. O Ceará ganhou a 3ª partida (1 x 0), sagrando-se campeão estadual daquele ano.