Qual é a expectativa de vida de um artista?

Chegar até o final da vida como artista é ainda mais difícil do que começar uma carreira.

Qual é a expectativa de vida de um artista? Qual a quantidade de anos que um artista pode esperançar viver de seu ofício? Com quantos anos um artista passa a não servir mais? Qual a última vez que você viu um artista com mais de 50 anos em uma peça de teatro?

Coloco estes questionamentos na mesa, porque precisamos falar sobre como é extremamente difícil e doloroso manter uma carreira artística até o final da vida. Não que antes disso seja fácil, mas sem dúvidas manter uma carreira é muito mais difícil do que começar, sobretudo pelo cansaço e as porradas que se leva ao longo do caminho.

O artista está o tempo todo em processo de convencimento. Seja no palco, seja na vida. A gente começa tendo que convencer a própria família e depois a sociedade de que arte é profissão e não um passatempo, um hobby que dá pra fazer quando estiver desocupado.

O pior é que a gente nunca consegue convencer pela palavra, é preciso provar. Passamos uma vida inteira “prestando contas” com aqueles que nos “avisaram sobre ter uma profissão de verdade”.

Caso você não se saia bem sucedido, vai amargar para sempre por não ter seguido o conselho, por não ter construído um futuro seguro.

Se conseguir se tornar um artista profissional, então você terá a obrigação de nunca ter que passar por nenhuma crise financeira, cometer erros, lamentar de dificuldades enfrentadas ou jamais recorrer a um parente. Não! O profissional artista não tem o direito de falhar ou falir. E se falir, que aguente sozinho e calado o preço por ter sido “avisado”.

A sociedade aposta no fracasso do artista! É quase como um leilão, onde não há ninguém para incentivar ou valorizar. Os lances mais altos miram na derrota. Só se reconhece um quando esse se torna famoso e fama não tem, necessariamente, a ver com qualidade artística. Por outro lado, esquecemos nossos ídolos na mesma velocidade que os idolatramos.

Hoje, com a cultura da inovação, da trend do momento, do viral da semana, parece que somos forçados a não gostar mais de artistas, somente de criadores de tendências.

Tenho a sensação de que mais do que nunca nos dizem que não adianta estudo, dedicação ou produção de trabalhos de engrandecer a cultura, fomentar conhecimento crítico, causar impactos cognitivos, sensoriais e intelectuais. Parece que o mais importante é a audiência, os seguidores, os likes, emplacar com uma coreografia ou um bordão.

Existe um abismo muito grande entre ser artista e ser um criador de conteúdo, às vezes, é possível ser os dois, outras não. Mas como a nova geração vai acreditar que ser artista é uma profissão segura e valiosa, se o mercado conduz o público a só consumir o raso, o superficial, o efêmero? Será que existe saída para isso?

Não digo que o fato de termos cada vez menos artistas com mais de 50 ou 60 anos nos palcos seja culpa das redes sociais. É um problema muito mais complexo e estrutural, mas precisamos avaliar a nossa formação educacional que leva a arte como disciplina de descanso e não como algo preparatório para a vida profissional.

Precisamos entender que o etarismo - o preconceito com pessoas de idade avançada - também permeia a arte.

Agora junte a desvalorização geral, a cultura do like e o preconceito contra os mais velhos. É, temos um grande problema!

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor