Feliz Dia das Mães da Resistência!

Para aquelas que lutam e protegem suas crias LGBTIQAPN+

O Dia das Mães chega em breve e, para mim, essa sempre é uma data de comemoração. Me pego pensando na sorte que tive por ser filho de quem sou. De Dona Rita Invenção, não herdei esse sobrenome peculiar, mas tive a quem puxar na força e na garra de lutar pela minha vida e por aqueles que eu amo.

Durante quase toda a vida, minha mãe foi lavadeira. Uma mulher semi-analfabeta, que precisou abdicar de seus sonhos para criar os filhos e dar a eles a oportunidade de estudar. No fundo, sei que naquela época, vivendo no sertão do Ceará com as condições que ela vivia, sonhar nem era uma opção.

Apesar das adversidades, Dona Rita tentou (e conseguiu) construir uma vida feliz, pautada no respeito, no amor, na responsabilidade, na disciplina, na honestidade, na fé e no acolhimento. Ela é dessas mães que sempre esteve atenta aos passos dos filhos, como quem guia e abençoa o caminhar, sem nunca questionar os nossos desejos, mesmo sem entender ou concordar com todas as decisões dos filhos.

Justamente por admirar todo esse cuidado, durante muito tempo me distanciei um tanto de minha cidade, optando por não me apresentar em Mombaça.

Eu pensava que depois de me apresentar, eu voltaria para Fortaleza, mas ela ficaria lá lidando com o machismo e a lgbtfobia, ainda que para ela o mais importante era que eu estivesse feliz.

Quando penso em minha mãe, penso no privilégio que é ter esse bem tão precioso, tão valente, capaz de entrar na frente dos filhos para defendê-los, capaz de dar a própria vida em troca da felicidade dos seus, penso nessa mulher feroz, despachada, que se tornou mãe quando escolheu gerar ou amar incondicionalmente por meio da adoção.

Quando penso em minha mãe, penso também em como esse domingo de maio pode ser tão doloroso para tanta gente LGBTQIAPN+. O preconceito expulsa, inibe e exclui filhos, filhas e filhes do convívio, do abraço, da escolha do presente, do almoço com familiares, da ligação ou mensagem carinhosa de homenagem.

Por outro lado, lembro também das mães que sofrem com o luto da perda por aqueles que foram vítimas da lgbtfobia e encaram a dor do lugar vazio na mesa, da falta do abraço, da ausência daquela voz que não as felicita mais pelo Dia das Mães.

Acho que vem desse amontoado de pensamentos, sentimentos e sensações sobre Dona Rita e sobre as relações maternas, que acompanho e admiro o coletivo “Mães da Resistência” - um coletivo que funciona como uma rede de apoio, que auxilia e acolhe familiares que necessitam de esclarecimentos, de incentivo e de compreensão, coloca-se na sociedade como uma organização política e dialoga com diversos órgãos pela garantia de dignidade, direitos e no combate ao preconceito.

O “Mães da Resistência” tem um papel fundamental no princípio de que é importantíssimo compreender a família enquanto local de segurança e de amor.

Quem tem uma família com base sólida no respeito às diferenças, pode vencer outras batalhas de exclusão social fora de casa.

Se uma mãe já é capaz de mudar o mundo, imagina milhares delas unidas por seus familiares LGBTQIAPN+.

Tem muita gente que daria tudo por uma Mãe da Resistência. Tenho certeza de que muita gente daria tudo por uma Dona Rita. São tantas violências que nos atingem física e simbolicamente, que sigo considerando um privilégio ter a minha ao meu lado. Talvez, mães sejam mesmo essas feras que, com amor e valentia, nos dão asas para voar. E eu, sempre que voo, aterrizo de volta em seu colo.

Neste domingo de Dia das Mães, se você tem o privilégio de estar com a sua, ame-a! Deixe que ela saiba o quanto é importante pra você. Se você tem o privilégio de estar com seu filho/filha/filhe LGBTQIAPN+, ame-o! Tudo o que a gente precisa para enfrentar o mundo é de uma mãe.

Feliz Dia das Mães da Resistência! Feliz Dia das Donas Ritas!