O ano mal começou e um dos assuntos mais falados até agora foi sobre a mudança de trabalho do ator Daniel Erthal. Me chamou atenção a quantidade de pessoas surpresas com os novos rumos na vida do carioca, iludidas com a ideia de uma vida eterna de fama e glamour que a TV proporciona.
Daniel ficou conhecido por atuar em “Malhação”, na Globo, com o personagem Léo, mas trabalhou em uma série de outros projetos da casa e fora dela também. Atualmente, ele se dedica a vender cervejas na rua e, sem medo de pegar no pesado, puxa seu carrinho verde cheio de geladas.
Surpreendidas, as pessoas passaram a criticar Daniel por ter, supostamente, fracassado, “descido de nível”, como se seu novo trabalho ou qualquer outra opção de ganha-pão fora das telinhas fosse uma derrota, motivo de frustração. Parem de confundir trabalho em TV com “dar certo na vida”. A única certeza que podemos ter é que trabalhar não faz vergonha.
Eu paguei os custos da minha graduação pintando camisas e vendendo-as na universidade e se um dia eu precisar fazer isso de novo, eu farei. Sabe a Ivete? Ela mesmo, a Veveta, pois é, vendia marmita. O Luan Santana já trabalhou como telefonista. Zeca Pagodinho foi garçom. Lázaro Ramos trabalhava como técnico de laboratório. Tatá Werneck vendia maquiagem/cosméticos de porta em porta. Valesca, a funkeira, foi frentista.
Você viu algo de desonesto ou inferior nessas profissões? Por que, então, elas se tornam sinônimo de derrota depois que se passa pela TV? Por que insistem em matérias sensacionalistas como “Ex-galã vira motorista de aplicativo” ou “Longe das telinhas, atriz vende sanduíche” sempre em tom de fim da linha, como se isso fosse ruim?
Mais difícil do que se tornar artista de TV é permanecer artista de TV. O sistema é difícil e talento não é garantia. Uma série de outros fatores pode te tirar das telas, inclusive, a própria vontade de parar, de seguir outro caminho, de se interessar por outras profissões, outros modos de vida. E tá tudo bem!
Chique é trabalhar com honestidade e glamour é ter contas pagas. Desejo um 2024 chiquérrimo a todos!
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor