Há luz no fim do túnel! Essa é a sensação que fico ao ver os avanços no retorno das atividades culturais no Ceará e, especialmente, em Fortaleza. Não falo apenas das grandes inaugurações dos últimos meses e nem das grandes atrações que nosso Estado tem recebido; falo dos importantes passos dados no retorno do Teatro, assim mesmo, com T maiúsculo, como a grande entidade que ele é.
Quem despertou essa sensação em mim foi o espetáculo Conjunto Ceará Show, peça de Moisés Loureiro, Denis Lacerda, Mateus Franklin e Maurício Batuta. O quarteto arrastou quase duas mil pessoas ao Teatro Dragão do Mar, desde o dia 9 de abril, lotando a plateia e esgotando ingressos. Com ou sem chuva, mesmo com parte do teto do lugar em obra, as pessoas estavam lá. Havia um público sedento por teatro, indo mais de uma vez, querendo viver aquela experiência. Foi bonito de ver. Eu também estava lá.
A linguagem da comédia tem um incrível poder de conexão com as pessoas e vai muito além do entretenimento. Provoca o riso do deboche, da denúncia das mazelas do mundo, do escárnio do rei, da autocrítica, dos padrões da sociedade, faz pensar e refletir sem perceber. Quando junta uma plateia inteira, então, aí é que o riso é certeiro e contagiante. E cá pra nós, depois de tanto tempo sem teatro, vivendo em meio a uma pandemia e um desgoverno, uma risada pode ser uma salvação.
Na peça, o quarteto vive as tentativas de montar um grande espetáculo em homenagem ao Conjunto Ceará e, assim como o bairro da capital cearense, também é dividido em quatro etapas. Não é à toa que, devido ao sucesso, prolongaram a temporada. A história contada no palco tem efeito imediato de identificação com a plateia, mexe com nossas memórias, nossas trajetórias, nosso sotaque, nossa cearensidade.
Com forte apelo nas redes sociais, o público pode pagar meia entrada compartilhando um filtro criado especialmente para a peça. Se for morador do Conjunto Ceará, basta levar o comprovante de endereço, que também paga meia entrada. Há ainda a meia solidária que visa a doação de leite em pó, entregue posteriormente pelo elenco a instituições de caridade. A derradeira oportunidade de ver os quatro em cena é no próximo fim de semana, nos dias 7 e 8, às 20h.
Tão boa notícia quanto essa é saber que, finalmente, o Dragão do Mar retornará com as temporadas de apresentações “Teatro da Terça”, “Quarta do Circo”, “Quinta com Dança” e “Teatro Infantil”, que há anos estava suspenso. Isso é de extrema relevância para a sobrevivência de toda uma cadeia cultural que envolve não só artistas, como grupos e coletivos, produtores culturais, técnicos, figurinistas e comunicadores. Uma prova de que a classe artística pode e deve sempre reivindicar seus direitos.
Com os caminhos abertos, seja pelo edital de convocação, seja pela promoção de pautas convencionais, agora é aguardar os próximos espetáculos, as próximas temporadas e, mais uma vez, lotar os teatros, assistir os artistas da nossa terra que estarão nos palcos. Que possamos continuar esse movimento de retorno ainda mais forte. Eu acredito nessa força.
Quero ver grupos e mais grupos de volta às ativas. Quero me reconhecer nos artistas em cartaz.
Quero poder ir não só ao Teatro Dragão do Mar, como ao Cineteatro São Luiz, ao Sesc Emiliano Queiroz, ao Carlos Câmara, ao Teatro Antonieta Noronha, ao São José, ao Theatro José de Alencar. Eu quero ver Teatro e quero ver você, caro leitor, no Teatro também. Simbora prestigiar o que é nosso!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.