A crise do novo coronavírus, além do imensurável impacto na saúde, trouxe reflexos claros no mercado de trabalho cearense.
Segundo dados da Pnad Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Fortaleza perdeu mais 102 mil postos de trabalho formal entre o primeiro trimestre de 2019 e igual período de 2021.
Contudo, de acordo com o analista de políticas públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Alexsandre Cavalcante, a perspectiva é de que o Estado retornará aos patamares pré-pandêmicos até o fim de 2022.
As perspectivas foram apresentadas durante reunião do Conselho Municipal do Trabalho (Comut) de Fortaleza, realizada na última quinta-feira (11), em auditório da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).
Segundo os dados IBGE, a variação do número da população ocupada, que considera pessoas que exercem qualquer atividade profissional (formal ou informal, remunerada ou não) por pelo menos 1 hora na semana, foi reduzida em 423.635 pessoas no Ceará.
Em Fortaleza, a queda foi de 134.230 pessoas, sendo 102.131 em postos formais de trabalho e 32.099 informais.
Apesar do revés acumulado durante a pandemia, Cavalcante afirmou que o Ceará já está mostrando sinais de recuperação da economia e dos empregos, destacando o número de pessoas ocupadas no Estado que passou de 3,082 milhões no primeiro trimestre deste ano para 3,196 milhões no segundo trimestre.
Na Capital cearense, a população ocupada passou de 1,044 milhão no primeiro trimestre de 2021, para 1,126 milhão no segundo.
"A crise trouxe cenários dramáticos para o mercado de trabalho, a própria política de isolamento social agravou isso, mas claro que ela foi necessária, não podemos desconsiderar isso. Agora, ela teve efeitos no mercado de trabalho e em Fortaleza, a crise gerou a perda de mais de 100 mil postos de trabalho e isso é muito forte, mas os próprios dados do IBGE já mostram um início de recuperação, então entendemos que em 2022 chegaremos próximos ao patamar pré-pandemia porque a economia se aproxima do funcionamento natural e isso com uma certa velocidade", disse.
Projeção para 2022
Alexsandre ainda destacou que o retorno dos empregos formais, de fato, acontece mais lentamente do que os informais, considerando a permissões de funcionamento aplicadas durante o período de restrições no Estado.
Contudo, ele projetou que 2022 já deverá apresentar cenário mais positivo para a economia local, com o Ceará registrando novo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
"Claro que o emprego formal se recupera de maneira mais lenta, porque o informal, assim que se abre a rua, 'o cara' volta, enquanto o formal demora um pouco mais. Mas esperamos que em 2021 tenhamos um crescimento expressivo da atividade econômica, o PIB já vai mostrar isso, e o PIB do ano que vem já tem uma expectativa positiva, mesmo que não tão grande quanto este ano. E 2022 devemos alcançar o padrão pré-crise", afirmou.
"Já temos a perspectiva do PIB para 2022 e 2021, e são duas altas, com 2022 sendo um pouco menor, mas com 2022 sendo um 2020, que era um ano promissor. Além disso, a população já está quase toda vacinada e isso é muito bom, pois aumenta a confiança", completou.
Concentração do mercado
O analista do Ipece também falou sobre a importância do mercado da Capital, que ainda concentra, segundo dados do IBGE, 43% da população ocupada em postos formais de trabalho de todo o Ceará.
Ainda de acordo com o levantamento da Pnad Contínua, 70% dos empregos formais perdidos no Estado durante a pandemia estavam em Fortaleza.
"O retorno é um processo natural. Fortaleza continua sendo uma cidade importante para o Brasil, quinta capital do País, maior PIB como capital do Nordeste, então a nossa expectativa é de que o retorno seja muito rápido. O último dado de 2018 demonstra que temos uma concentração do PIB do Nordeste em Fortaleza e do Ceará também, então temos uma cidade extremamente dinâmica, e o retorno será rápido e natural", disse o analista.
Discussão de pautas
Sobre a atuação do Comut, o presidente do Conselho, Sebastião Gomes, afirmou que o grupo continuará convidando órgãos ligados ao mercado de trabalho no Ceará para entender melhor o cenário atual no Estado.
A partir das discussões, ele espera melhorar o entendimento dos conselheiros para se fazerem análises precisas das políticas públicas que estão sendo aplicadas na Capital.
"Fundamentalmente, quando trazemos essas discussões, estamos concorrendo para a qualificação dos conselheiros para que eles entendam melhor o papel do conselho para essas formulações. Nós não temos o papel de propor políticas públicas, mas temos de ter o olhar de que se essas políticas estão sendo adotadas para Fortaleza, elas precisam estar adequadas para a realidade que está sendo apresentada pelos dados do IBGE", disse.
"Queremos ouvir e, agora, o papel do Conselho é ouvir para depois confrontar as políticas públicas que estão sendo aplicadas para confrontar e ver se estão atendendo essa realidade na Capital", completou Gomes.