Os investidores brasileiros poderão viver, mais uma vez, um cenário peculiar nos próximos meses, com os títulos de renda fixa de curto prazo rendendo mais do que os de longo prazo, representando o que os especialistas chamaram de "inversão da curva de juros".
Essa movimentação pode ajudar a reduzir o ritmo de recuperação da bolsa brasileira. No entanto, esse momento pode gerar boas oportunidades de rendimento na renda fixa para quem aproveitar o fluxo.
A perspectiva foi apontada por Louise Porto, assessora de investimentos da VLGI Investimentos, que destacou o momento econômico nacional como sendo de muita incerteza do mercado. A leitura desse cenário de juros e inflação muito altos pode fazer com as empresas decidam paralisar os planos de investimentos e reduzir o avanço dos números de geração de emprego e renda na economia real.
"Essa inversão da curva de juros já está acontecendo, e é quando você faz investimento em renda fixa atrelados à inflação para se ter taxas boas. Quando os títulos são de menor tempo, a previsibilidade é maior, então é um menor risco, o que gera uma remuneração mais baixa, mas quando acontece uma inversão da curva, quando os títulos de curto prazo remuneram igual ou mais que os de longo prazo significa que estamos vivendo um momento muito incerteza, que pode ser visto agora", disse Louise.
Isso é momentâneo, e vai passar algumas semanas ou meses assim, então a gente diz que esse é o momento de aplicar em títulos de renda fixa de curto prazo porque isso não vai se manter. A oportunidade precisa ser observada com mais prioridade, até porque os títulos de curto prazo vão ficar com as taxas mais atrativas até o que mercado sinta que a inflação vai dar uma trégua", completou.
Para tentar aproveitar esse momento mais vantajoso para os títulos de curto prazo, Louise comentou que é importante buscar opções atreladas à inflação, podendo ser encontradas em Certificados de Depósito Bancário (CBDs) e no Tesouro Direto.
Projeções de juros
A opinião é corroborada pelo vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) do Ceará e sócio-fundador da Aveiro Consultoria, Raul dos Santos Neto. Ele comentou que a perspectiva atual é de que os juros de curto prazo rendam mais que os de longo prazo, mas é preciso estar atento às projeções do mercado para a taxa de juros e para a inflação.
"A gente tem de deixar mais claro é que os juros vão subir mais até lá para 2024, 2025, e aí ele deverá cair e depois ir para patamares menores, mas ainda elevados. Então, eu diria que hoje você pode buscar títulos percentuais acima de 100% do CDI no mercado privado, índice de preços mais alguma coisa, como IPCA+, e também pode usar dos pré-fixados. E dentro da renda fixa você ainda tem boas opções, como as LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LCA (Letras de Crédito do Agronegócio)", disse Raul.
"Mas a gente precisa dizer que isso não é bom para o empreendedorismo porque no momento que os juros sobem, as pessoas voltam a deixar o dinheiro no mercado financeiro e isso prejudica o movimento de recursos na economia real", completou.
Títulos para monitorar
- CBDs
- Tesouro Direto
- Tesouro IPCA+
- Títulos do mercado privado com mais de 100% do CDI
- LCIs
- LCAs
Estruturação do orçamento
Apesar de destacar as boas possibilidades de investimento com os títulos de renda fixa de curto prazo, Louise Porto apontou que é preciso estruturar bem o orçamento da família ou da empresa antes de comprometer recursos em certos títulos. Ele afirmou que planejamento pode evitar problemas de aplicação de recursos dos quais poderá se precisar no futuro.
Como muitos títulos não têm um período de liquidez muito curto, tendo de ficar investidos por alguns anos, em certas condições, caso a pessoa precise daquele dinheiro, pode haver problemas.
"Primeiro é preciso fazer uma organização dos projetos de curto prazo. Um título indexado a 2023 se você vai precisar do dinheiro em 30 dias. É preciso estudar o orçamento e da casa e da empresa e ser muito conservador. Sobrou dinheiro, é preciso ser mais assertivo na alocação, com títulos atrelados à inflação, pode ser via CDB, tesouro, onde a pessoa ou empresa conseguir uma remuneração melhor", disse Louise.
"Mais importante do que acertar as melhores taxas, é fazer um planejamento, dar prioridade ao orçamento. Quanto maior o planejamento, melhor os resultados e para isso sempre é possível procurar assessores de investimento", completou.