Poder reduzir consideravelmente uma dívida e seguir a vida normalmente é o que fazem muitos cearenses buscarem os feirões de renegociação, que segundo relatos ouvidos pela coluna, continuam valendo a pena. Segundo dados da Serasa, a economia média passa dos 90%, mas pode chegar a até 99%.
O caso do atendente de bar Nathanael Freitas, de 31 anos, é bem peculiar por ele ter contraído uma dívida, segundo ele, por erro de uma operadora de telefonia. Após pedir o cancelamento de uma linha, a empresa teria perdido o prazo e informado que ele teria um débito de R$ 89.
Para acelerar o processo e evitar alguns estresses, Nathanael acabou recorrendo ao site da Serasa Experian, que estava ofertando opções em uma espécie de feirão digital, para buscar uma renegociação da dívida. Pensando na possibilidade de algum empréstimo no futuro ou a garantia de um novo serviço telefônico, ele pediu uma oferta da empresa e obteve um desconto de mais de 50%.
A dívida agora era de R$ 42.
“Valeu a pena demais! Fui consultar meu histórico no Serasa, até porque já tenho costume por fazer alguns empréstimos, e vi a possibilidade da renegociação no portal da Serasa Experian, e deram a opção do feirão. Aceitei a propostas e acabei liquidando para caso alguma oportunidade de empréstimo aparecesse. E o processo foi muito rápido, recebi a proposta e aceitei. Recebi o boleto e paguei”, disse.
“A dívida não era alta, mas quando você tem certeza que você não deve você não quer pagar, né? A dívida estava em R$ 89 e passou para R$ 42 e foi muito bom. De quase R$ 100 para R$ 42 foi muito bom, até porque eu podia precisar fazer um novo plano, mudar de operadora e isso me gerar um problema que eu não conhecia ou me impedir de ter um crédito melhor, então eu paguei”, completou.
As empresas de telefonia acumulam 5,31% das dívidas de inadimplentes no Ceará, segundo dados da Serasa.
Importância dos feirões
Sobre a importância dos feirões de renegociação de dívidas, Nathanael ainda comentou que a mãe passou por uma situação semelhante, mas conseguiu garantir uma redução ainda maior do pagamento de uma dívida.
Ela teria emprestado o cartão de crédito e gerado duas dívidas com dois bancos que se aproximaram dos R$ 8 mil. Após negociar com os bancos, o débito passou a ser de R$ 230.
"Apesar do erro da operadora de telefonia, para outras pessoas seria uma oportunidade. E não é bom ficar com dívidas que podem crescer, como dívidas de cartão de crédito e que acumulam juros, então pagar uma dívida até por um valor menor do original é muito bom. Minha mãe chegou a ter uma dívida de mais de 10 anos com bancos, emprestando o cartão dela, e o valor passou dos R$ 8 mil", contou.
O atendente ainda ressaltou o peso desses eventos após um momento de crise gerado pela pandemia de Covid-19, quando várias pessoas tiveram de recorrer a opções de crédito para conseguir manter os gastos.
"Minha mãe recebeu uma proposta de quitar duas dívidas pelo total de R$ 230. Mais de 90% em cima da dívida. Então acho que podemos ver oportunidades tão boas ou melhores que essas, então acho que poderíamos ter mais feirões, até considerando que a pandemia gerou muito gastos, precisando de crédito em momentos difíceis", completou.
Veja os principais setores:
- Bancos/Cartões: 32,90%
- Utilities: 23,77%
- Telecomunicações: 5,31%
- Varejo: 9,87%
A renegociação de dívidas também valeu muito a pena para a estudante Nariádina Maia Araujo, de 28 anos. Ela afirmou ter contraído uma dívida de R$ 800 que evoluiu para quase R$ 2 mil.
Mas após participar de feirão de renegociação, Nariádina conseguiu um desconto de 80% ao escolher a opção de pagar à vista. O pagamento final - de R$ 400 - acabou representando um valor ainda menor que o débito original antes da negociação.
"Sim, valeu super a pena, foi fácil e rápido, pois a empresa estava disponível para negociar parcelamento e desconto máximo caso pago à vista. Consegui cerca de 80% de desconto por ter feito o pagamento à vista, era uma dívida de cartão de crédito que eu nem lembrava, me ofereceram a quitação de quase todo o percentual de juros, paguei praticamente só o que era devido”, disse.
Inadimplência
Dados da Serasa também apontam que 42,93% dos cearenses são considerados inadimplentes (quando a pessoa possui contas em atraso). O dado representa uma parcela da população adulta com cerca de 2,984 milhões de pessoas.
Desse total, 46,6% é formado por homens e 53,4%, mulheres. A maior parcela (36%), considerando a idade, está na faixa entre 26 e 40 anos. O ranking ainda inclui pessoas entre 41 e 60 anos (33,2%), acima de 60 anos (18%), e até 25 anos (12,8%).
Adição de novas empresas
Outro ponto sobre os feirões, segundo Nariádina, é que a adição de mais credores seria importante para gerar um número maior de negociações, reduzindo o volume de dívidas no País e no Estado.
“Acredito que o problema nem seja a quantidade de feirões e sim a adesão de mais credores e instituições financeiras no geral. Sim, até mesmo na minha família, minha mãe, por exemplo, tem acesso à internet, mas não tem habilidade para acessar o site que tem as informações necessárias, assim como ela acredito que tenham muitas pessoas que não conseguem”, disse.
Veja dicas de especialistas para fazer uma boa negociação
O economista Érico Veras Marques, pesquisador da área de Finanças Pessoais e Comportamentais da Universidade Federal do Ceará (UFC), acredita que a negociação em feirões seja uma boa oportunidade para se livrar das dívidas, mas pondera ser necessário considerar alguns pontos para tomar a melhor decisão.
“É preciso avaliar qual a sua condição, a proposta de pagamento e de parcelamento, para o consumidor não ter novos problemas. Ele precisa entender que essa parcela será incorporada ao orçamento”, observa.
“Antes de ir ao feirão, avalie como estão as suas contas para você ter uma boa negociação. Por exemplo, veja quanto está a taxa de juros, como ficará se você pagar à vista, se o abatimento será maior, se vale tirar alguma outra linha de crédito disponível para ter desconto”, lista.
Veras exemplifica que uma dívida de cartão de crédito pode ter um grande desconto quando paga à vista. Neste caso, se a pessoa não tiver recursos para quitá-la, compensa avaliar a possibilidade de substituí-la por um empréstimo com juros menores, como um consignado.
Mas, antes, é preciso colocar tudo na ponta do lápis. “Então, é bom, mas sendo feito de uma forma racional, estudando e vendo as condições para que você faça uma boa negociação”, frisa.
A economista, consultora e professora, Ana Alves, reitera o alerta de não se comprometer com uma pagamento que não caberá no bolso do consumidor.
“Outra dica importante é fazer uma contraproposta. Busque as melhores formas que você tem para poder negociar e aproveitar essas oportunidades. Mas, sem dúvida, no cenário atual, para quem busca ter uma redução do endividamento, é uma grande oportunidade”, aponta.