Ao ser perguntado em uma palestra como conseguimos alcançar tantos números expressivos num momento caótico, respondo que o caos é nossa normalidade e nele habitamos transformando dificuldades em oportunidades, estigma em carisma, porque acreditamos que a favela não é carente, é potente, e isso foi comprovado com a maior a rede de homens e mulheres já criadas no país em torno da solidariedade e ações emergenciais.
O ano de 2022 se aproxima, e o desafio é canalizar esta energia que emerge da mobilização social, engajamento privado e conexão com setor público, para produzir uma onda de esperança e participação para construir uma agenda pública de país, capaz de manter lideranças e organizações mobilizadas e pautar o mundo político em um ano eleitoral.
Se é verdade que as questões estruturais relacionadas à desigualdade se agravaram, é verdade também que nunca se teve tanta gente nas mais diversas áreas atuando num mesmo foco: a solidariedade.
O país vai necessitar e muito desse mutirão de ativismo cidadão, sem monopólios de agendas, mas com colaboração mútuas, reconhecendo o papel de cada liderança e sua contribuição para o processo e seu protagonismo.
Nunca se mobilizou tantos recursos, inteligências e se produziu tantas soluções a curto, médio e longo prazo e esse é o legado que emerge dos escombros de tristeza, luto e descaso de autoridades públicas responsáveis por nos guiar nessa jornada.
Estamos continuando a terceira fase da campanha Mães da Favela para reduzir o sofrimento de irmãos e irmãs, que no Brasil chegam a 20 milhões que não tomam café, não almoçam e não vão jantar, e mais os mais de 70 milhões que se alimentam mal num dos países que mais produzem alimentos e onde a fome não é um acaso mas infelizmente um projeto político.
Demandas são muitas, mas descobrimos todos dentro das nossas realidades que somos mais fortes do que pensávamos e diantes desse cenário complexo e difícil, nossa missão é continuar inspirando, agindo e construindo soluções que vão pouco a pouco se transformado numa grande rede que se conecta de norte a sul do país.
O mundo todo está discutindo vários temas, como mudança climática e limites dos recursos naturais, guerras e migrações, crise de credibilidade na política, em nosso país, temos natureza ímpar, uma diversidade ainda marcada pela desigualdade, mas que não se compara a lugar algum. Um ecossistema de criatividade capaz de produzir uma saída brasileira para o mundo, galgada em equilíbrio social e ecológico, não transformando sua diversidade humana em desigualdades raciais e étnicas e compartilhando riquezas e oportunidades que temos de sobra.