Valente tem 7 anos. Fernanda, 39. A mais jovem (para a idade humana) é uma cadela de raça não definida e pelagem caramelo claro. Já a formanda é uma fortalezense que, após graduar-se em Turismo e não se identificar com a profissão, veio morar aqui, onde cursou Administração na Universidade Federal do Cariri (UFCA). Mais do que isso, Fernanda Bastos afirma ter descoberto na nova vida a sua missão.
"Eu sempre tive vontade de passar por uma universidade pública federal. Eu sempre acreditei muito no que essa instituição pode agregar, não só profissionalmente, mas também humanamente na vida de uma pessoa", afirma Fernanda.
Quando chegou ao campus da UFCA em Juazeiro do Norte, a então estudante viu o resultado da prática criminosa e ainda não satisfatoriamente repreendida pelo poder público: o abandono de cães e gatos. Surgia o UFCão, que acolhe esses animais, castrando-os com a ajuda de outros voluntários e de apoiadores financeiros e também promovendo a boa convivência entre eles e os seres humanos que estudam naqueles prédios da Cidade Universitária.
Durante esses 7 anos, já no limite de colar grau, Fernanda dividiu o tempo entre o trabalho, o estudo e o voluntariado. É a mesma idade de Valente, que apareceu no campus com meses de vida e tornou-se uma espécie de sombra da tutora. Entre todos os animais que vivem no campus, é a mais apegada e ciumenta, inclusive. Daí o nome! Mas ela não morde, só mostra os dentes.
É tão educada que, na formatura, comportou-se bem, posou para as fotos e manteve impecável a beca feita por encomenda. Como a colação foi numa quinta-feira, e a mãe e a irmã de Fernanda moram na Capital, a mais de 500 quilômetros, apenas Valente poderia cumprir essa missão.
Ali na Universidade, o que me acompanhou realmente, que está atrelado, não só à minha graduação, mas à minha vida por inteira, são aqueles animais. Entrar com Valente ali nunca ficou fora de cogitação
Sobre o fato de ter escolhido uma cadela, em vez de um ser humano, Fernanda disse que só recebeu acolhimento da instituição.
"Eu simplesmente entrei. Não teve questionamento. [Na comparação com o começo do UFCão] hoje eu tenho muito mais apoio, gente que entende, que compreende, que ajuda", afirma Fernanda, que deve continuar com o projeto, já que também presta serviço à Universidade.
Valente: um símbolo para milhões
"Ela estava ali representando esses 7 anos de UFCão, representando a causa animal, não só o meu trabalho, mas o trabalho voluntário de todos os meus amigos e amigas da causa animal aqui da região. E ali foi o momento de levantar uma bandeira, de mostrar que a causa animal tem que ter atenção, tem que ter voz, tem que ter espaço. Valente foi ali representante todos os animais em condições de rua", afirma.
Apesar de morar pelos corredores do campus, Valente ainda pode ser considerada de rua. Ela é um símbolo de milhões que perambulam pelos nossos bairros e cidades. São animais que estão por aí esperançosos de que um dia inverta-se a corrente: o abandono seja substituído pelo acolhimento. É o sonho de que as pessoas procurem as ruas para acolher os animais, não o contrário.
Valente representa a espera ansiosa de protetores que, voluntária e exaustivamente, fazem um trabalho sem ajuda do poder público ou com uma ajuda muito tímida. Pelo menos nas cidades do Cariri, ainda não se vê uma busca ativa por cães e gatos no sentido de promover castração em mutirão.
As esterilizações realizadas são a conta-gotas. Parecem medidas cosméticas. É preciso mais. É preciso enxergar com seriedade a causa animal, afirmam os protetores. Que Valente, com seu capelo preso por elástico, ajude a derreter esses corações gelados!
Se você quiser ajudar a UFCão, é só procurar pelas redes sociais: @doguineos_ufcao. Quem sabe você se transforma num padrinho. A Valente tem vários irmãos adotivos esperando por atitude.