O sul do Ceará tem a floresta nacional (Flona) mais antiga do Brasil. A Flona Araripe foi criada em 1946. Está localizada no platô da Chapada. Salvaguarda de árvores que fazem deste território um oásis sertanejo, a área protegida é também morada do gato-mourisco, do gato-do-mato e de muitas outras espécies que têm sofrido com o trânsito que cruza a unidade de conservação.
Neste novembro, mais uma vez, foi realizada a campanha Urubuzar, que tem como objetivo sensibilizar sobre os impactos de rodovias e ferrovias na biodiversidade do país mais biodiverso do mundo.
Fazem parte dessa campanha instituições públicas e privadas. Conversei com Raquel Soares, da ONG Biodiverse, que listou números estarrecedores:
“Durante 90 minutos de uma partida de futebol, por exemplo, sem contar acréscimo e intervalo, mais de 80.000 animais são vítimas de atropelamento no Brasil”, calcula a bióloga.
Soares faz a estimativa com base no monitoramento realizado pelo Centro Brasileiro de Ecologia de Estradas (CBEE), da Universidade Federal de Lavras. O CBEE calcula que o número de animais vítimas de acidentes ultrapasse os 475 milhões por ano no Brasil.
O mapeamento é feito a partir de um aplicativo que dá nome à campanha, o Urubu Mobile. Quem baixa o sistema no celular, ao ver um animal atropelado, pode registrar com uma foto, que alimenta o banco de dados, identificando o local. A informação vai para o CBEE. Pesquisadores, então, podem estudar aquelas espécies.
Foi assim que se identificou a existência da Lycalopex vetulus no Cariri. A raposa-do-campo é ameaçada de extinção e não se sabia que havia exemplares na Chapada.
Infelizmente, a informação chegou por meio de um atropelamento. Mas mortes como essa deixaram de ficar abafadas. Quem urubuzeia, ou seja, quem usa o aplicativo, contribui com a proteção, porque, para os pontos onde mais são registrados acidentes, cobram-se iniciativas como passagens de fauna e redutores de velocidade. É a ciência cidadã, que precisa ir além.
Motoristas também podem e devem dar exemplo de cidadania, respeitando o limite de velocidade e reduzindo-a ao dirigir por rodovias que cruzam áreas de vegetação, como a Flona Araripe.