Quem é da minha geração e viu a Mostra Sesc surgir e crescer sabe do que estou falando. Mas sintetizarei aos mais jovens: esse festival resgatou a atmosfera da velha Mostra, com artes distribuídas num espaço em que se possa explorar tudo a pé, envolvendo teatro, literatura e música popular brasileira.
É uma opinião que divido com amigos queridos que reencontrei andando pelo festival e que já quarentaram ou estão perto.
A organização do Unaé caprichou na estrutura, com banheiros em quantidade que me pareceu o bastante. As filas para compra de bebida e comida eram de festival. Tornaram-se enormes nesse domingo, mas nada intransponível para seres pacientes.
O festival Unaé trouxe uma novidade para as festas de hoje em dia: descamarotizou-se. Foi gratuito, com os shows sem diferenciações entre público, como pista, camarote, área VIP.
Claro que nem toda festa pode dar-se esse luxo, por várias questões: cachê de artistas, patrocinadores, interesses múltiplos, tradição etc. Esse parece ser o caso do Festival Expocrato. Assim como a Mostra Sesc descentralizou-se e atingiu outros municípios, onde a cultura chega a conta-gotas.
Mas foi lindo, no Unaé, ver tanta gente de diversas classes, idades, identidades, sexualidades, todos compartilhando um mesmo espaço e sem estarem etiquetados por pulseiras.
Agora vamos ao que mais interessa: a arte, a cultura, que este Cariri jorra feito a água da pedra da batateira desacorrentada.
Zabumbeiros Cariris, Junu, Francisco El Hombre e Liniker estão entre as atrações a que assisti. Mas houve muito, muito mais.
Na língua Cariri, infelizmente adormecida, Unaé significa sonhar. E parece que sonhamos juntos.
Como declamou a poetisa Josenir Lacerda, Unaé fez história, escreveu-se uma página bonita e bem escrita no caderno da memória.
PS: Aproveito o momento para solicitar sensibilidade aos gestores do Centro Cultural do Cariri sobre a situação de animais, principalmente cães, que são residentes no parque. Que sejam tolerados e amados! Pude conhecer alguns, belos exemplares da raça caramelo, dóceis, inteligentíssimos, só lhes falta falar, se é que não o fazem na ausência humana. Hoje, toda instituição, pública ou privada, precisa procurar formas de abrigar animais comunitários. Eles são colaboradores de medidas de antiestresse e, para quem acredita, filtros energéticos que mitigam a melancolia humanoide.