Como LGBT, foi angustiante a resposta das urnas

No país ranqueado entre os mais violentos contra essa população, é um alerta a eleição de tantas lideranças reacionárias

Pela primeira vez, o Congresso Nacional vai ter mulheres trans como deputadas federais: Duda Salabert (PDT-MG) e Erika Hilton (PSOL-SP). Além do fato inédito, elas representaram um pouco de alívio na população LGBTQIANP+, que acordou preocupada com o caminho que as urnas traçaram para o Brasil.

No país ranqueado entre os mais violentos contra essa população, é um alerta a eleição de tantas lideranças reacionárias, com discursos flagrantemente LGBTfóbicos (o que é crime), que chamam de ideologia de gênero a teoria que explica a dignidade e o direito de ser quem se é. 

Além da escolha desses que passam a ser representantes de todos nós, serve de reflexão o movimento silencioso do voto. A gente que é LGBT fica refletindo sobre o quanto o nosso modo de viver e de amar são reprovados com tal força a ponto de atrair tantos votos.

Talvez só a pauta ambiental seja tão rejeitada como a nossa. No país da maior floresta do mundo, plantar árvore e lutar por espécies ameaçadas parece não ser o bastante para as urnas. Ícone LGBT, Maria Bethânia, minha artista favorita, disse esses dias que eleição no Brasil precisa falar de água e de terra.

Não precisa, diva. E parece até que é melhor que se cale sobre esses assuntos. A onça tem valor na novela. Na mata, os dias dela estão contados. No país dos 3 séculos de escravidão, qualquer grito por inclusão e igualdade de oportunidades é visto como mera pauta identitária. Ironicamente, nada é mais identitário do que uma imensa maioria eleita de governadores homens e brancos.