Como é o comércio exterior no Nordeste? China e EUA disputam mercados

Na coluna anterior, abordamos aspectos da pauta comercial do Nordeste e como ela difere do restante do país. Apontamos que, apesar de a pauta comercial dos estados da região apresentar certa diversificação, predomina a importância do setor petroquímico e da nova fronteira agrícola.

Também mostramos que, enquanto os dois principais parceiros comerciais são os mesmos, o Nordeste importa mais dos EUA do que da China, ao contrário do restante do país.

Nas exportações, a China ocupa o 1º lugar tanto para o Brasil quanto para a região, mas, novamente, os estados do Nordeste exportam proporcionalmente menos para a China e mais para os EUA que os demais estados.

Consideremos primeiramente as exportações. A China é o principal destino das exportações de 14 estados brasileiros, sendo cerca de 50% em Goiás e no Pará, e cerca de 40% no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro.

Tratam-se basicamente de exportações de matérias-primas, como produtos agrícolas, minérios e petróleo. No Nordeste, apenas três entre os nove estados têm a China como o principal destino das exportações: Maranhão (33% do total), Piauí (63%) e Bahia (29%).

Nota-se que, fora do Nordeste, mas vizinho, o Tocantins também destina grande parte de suas exportações para a China (62%). Não coincidentemente, os estados com maior exposição ao mercado chinês são aqueles na nova fronteira agrícola, que contém a região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

Os outros seis estados nordestinos têm destinos de exportação diversos. Pernambuco exporta mais para Singapura, enquanto Ceará e Alagoas exportam mais para os EUA. Já Rio Grande do Norte, Sergipe e Paraíba exportam mais para a Europa.

A pauta de exportações é dominada pela soja e pelo petróleo no caso dos estados mais voltados para a China. Pernambuco e o Ceará, em particular, apresentam uma pauta mais diversificada, incluindo vendas de automóveis, semimanufaturados de ferro e aço e outras ligas de aço.

No caso de Alagoas, cujo principal mercado é a economia americana, bem como os estados voltados para o mercado europeu, predominam vendas de petróleo, produtos de petróleo e açúcares.

Quanto à origem das importações, os EUA são o principal fornecedor da economia nordestina, em especial por sua vantagem, em relação à China, nas vendas para a Bahia, o maior estado da região. Além da Bahia, os EUA predominam nas importações do Maranhão e da Paraíba.

A pauta é dominada por petróleo, produtos de petróleo e fertilizantes. Já as importações vindas da China incluem tanto commodities (carvão, produtos de petróleo) quanto produtos manufaturados (peças para automóveis, diodos e transístores etc.).

Esse olhar mais detalhado mostra a diversidade da economia nordestina, bem como as mudanças culturais que vêm acontecendo. Produtos manufaturados têm um peso relevante nas exportações, em particular para os EUA.

E as compras de bens intermediários ilustram a importância do setor industrial na região. No entanto, o comércio exterior nordestino reflete, também, as alterações que ocorrem dentro do próprio setor primário, especialmente o forte crescimento da produção de grãos na nova fronteira agrícola, tomando o lugar das exportações agrícolas tradicionais.

Em resumo, uma análise do comércio exterior oferece uma perspectiva interessante sobre a estrutura da economia nordestina, bem como sua diversidade. O predomínio de China e EUA no comércio exterior e a baixa relevância do comércio dentro da América do Sul chamam a atenção, mas não são exclusivos do Nordeste.

Mário Mesquita é economista-chefe do Itaú Unibanco