Quando os ares de junho entram no calendário do nordestino, divindades como Santo Antônio, São Pedro e São João ganham fôlego em festejos movidos a xote, aluá, bolo de milho e muita animação. Há dois anos, devido à pandemia, esses festejos foram suspensos, assim como toda nossa rotina.
Muitos artistas se utilizaram das “lives” para não parar os shows e arrecadar certas reservas financeiras, mas as comemorações de São João precisam do calor humano, do forró e daquele calor que aquece os pés e os corações. Agora, podemos reviver isso. Ainda que com cuidados importantes, voltamos a respirar e sentir o cheiro do mugunzá quentinho e do pé de moleque.
Eu, claro, por nascer quase no dia de São Pedro, convivi na infância com meus aniversários com temas de bandeirinhas, coloridos e toalhas xadrez. Mesmo depois da infância, na adolescência, virei “forrozeiro” e não nego a ninguém um arrasta pé coladinho no chamego, então nessa época me realizo.
No último sábado, com amigos, me deu uma saudade dessa folia e, com amigos, sai pela cidade atrás de um xaxado. Obviamente, com toda essa vontade procurei o som da brilhante Gabriela Mendes para poder dançar. A vontade de escrever sobre a cantora já é antiga e esse momento é crucial para exaltarmos mais um novo talento nosso.
Anavantu, Anarriê
O registro só firma seu nascimento em Fortaleza, mas a cantora passou a infância em Itaiçaba, no Vale do Jaguaribe. Lá, ainda na pré-adolescência, se descobriu artista e aos treze anos começou uma luta que todos os operários das artes enfrentam. Logo o violão virou seu companheiro e os rumos sempre lhe levaram à música.
Mesmo conquistando importantes sonhos no Ceará, a cantora foi morar em Mossoró, no Rio Grande Norte. A cidade foi fundamental para seus altos voos. Apesar de se dedicar à faculdade de direito, Gabriela não largou o sonho de embarcar nas canções. Ela começou a estudar flauta transversal no Conservatório de Música D’alva Stella Nogueira Freire, da UERN e fundou o grupo “Siapó”.
“Mossoró foi muito importante para mim, lá também fiz parte do “Ser Tão Raízes” com a Caroline Melo e Severo Ricardo destaque no São João de lá”, me contou a cantora que gentilmente me contou sua trajetória por telefone em uma conversa gostosa. “São João e esse forró mais raíz é o que me chama, além das versões que faço no ritmo”, complementou Gabriela.
Regressar é unir dois lados, já afirmava a canção. Depois de regressar para Fortaleza, sua terra de origem, Gabriela foi abraçada também por outro grande instrumentista, o maestro Tarcísio Sardinha, a quem ela responsabiliza parte importante de sua trajetória, afirmando ser um de seus pais no ramo cultural.
“Recentemente perdemos Sardinha que é uma grande luz para mim e tantos outros músicos. Nossa relação foi muito importante para meu amadurecimento profissional, ele é um grande guia e sempre será”, falou emocionada. Ela inclusive foi uma das escolhidas para participar do show em homenagem ao músico que aconteceu no Cineteatro São Luiz.
O acender da fogueira
Apesar da carreira que já vem caminhando passos importantes, um dos principais aconteceu nesse tempo tão turbulento que é a pandemia. Gabriela lançou seu primeiro trabalho intitulado “Diga que Vem”, uma parceria com Kathyane Queiroz e que já está disponível nas plataformas digitais.
Com o retorno dos festejos juninos, os shows voltaram a ser frequentes. Ouvir e dançar Gabriela Mendes é revigorante e nos faz lembrar uma saudade de celebrações não tão antigas, mas que já estamos sentindo enorme falta.
Quando questionei a cantora sobre a expectativa de trabalhos para esse período recebi uma resposta sensacional: “Não estou preocupada com shows, esse ano eu quero viver o São João de muitas formas”. Silenciei e me despedi, mas acho que posso rebater a frase da artista e indicar ao público: assistir Gabriela Mendes também é viver o São João!