Conhecido nacionalmente pela produção artesanal de queijos, o município de Morada Nova, no Ceará, também é destaque quando o assunto é produção de leite. De acordo com dados da Pesquisa da Pecuária Municipal divulgada na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade foi responsável pela produção de 107,6 milhões de litros de leite em 2023.
O volume coloca Morada Nova como a segunda maior cidade produtora do Nordeste, atrás apenas de Poço Redondo, em Sergipe (109,8 milhões de litros), e a décima primeira no País.
Hoje, o Ceará produz 1,13 bilhão de litros de leite, mas há abertura para aumento da produção, podendo o Estado chegar a 2 bilhões de litros por ano até 2027, avalia o primeiro vice-presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Ceará (Sindilaticínios-CE), Nelson Prado Filho.
Veja o ranking das cidades com a maior produção de leite do Ceará
- Morada Nova: 107,6 milhões
- Quixeramobim: 73,2 milhões
- Iguatu: 51,1 milhões
- Acopiara: 40,1 milhões
- Jaguaretama: 38,6 milhões
- Jaguaribe: 38,4 milhões
- Milhã: 33,7 milhões
- Limoeiro do Norte: 29,3 milhões
- Quixelô: 27,6 milhões
- Solonópole: 26,2 milhões
A perspectiva se baseia no fato de que o Ceará, apesar de ter um município entre os maiores produtores de leite do País, ter um mercado consumidor ainda dependente de laticínios de outros estados. "Temos condições de fazer isso, mas é preciso investir e qualificar para que haja concorrência no setor industrial", pontua.
Para ele, há outras cidades com potencial para ampliação da produção leiteira, contribuindo para que o Ceará alcance o patamar de 2 bilhões de litros diariamente. “Quixeramobim, Milhã, com certeza”, exemplifica o primeiro vice-presidente do Sindilaticínios-CE.
Dos estados, o Ceará é o 10º maior produtor de leite, segundo o IBGE, mas importa leite e laticínios de outros estados. Metade do leite consumido em Fortaleza, por exemplo, não é produzido no Ceará, segundo o Sindilaticínios.
Regularização de laticínios
Ele lembra que, atualmente, há mais de dois mil laticínios cearenses, mas a maior parte não possui as devidas licenças. “A regularização vai fazer com que o mercado se abra, saindo um pouco da clandestinidade. Existe um universo muito positivo de novos mercados, de supermercados e também restaurantes, como pizzarias que demandam muito o queijo muçarela”, avalia Prado.
A análise é a mesma feita por Amílcar Silveira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec). Segundo ele, a ausência de uma política de regularização de laticínios cearenses faz com que os consumidores busquem outros mercados, em geral, de maior valor agregado: "Nossa demanda é tentar regularizar novos laticínios no Ceará", pondera.
"Temos muitos laticínios aqui que não têm inspeção sanitária, que não conseguem ingressar em mercados consumidores. Esse mercado consumidor, por vez, compra em outro mercado, como o de queijos finos", completa Amílcar.
Concorrência com o mercado nacional
Mesmo com uma "mercadoria mais barata" em relação ao Sudeste e com altas sucessivas na produção de leite, como explica o presidente da Faec, somente metade do que é consumido do alimento no Ceará é produzido no Estado.
Para Amílcar Silveira, a grande questão está como esse leite é utilizado no território cearense. Boa parte do alimento é processado e transformado em leite em pó, e o Ceará tem apenas uma empresa local capaz de fazer essa produção, ainda bem abaixo da demanda do mercado consumidor.
Temos um negócio que nos é caro e não temos: capacidade produtiva para beneficiar leite. A gente importa muito leite de outros estados, em sua grande maioria, em pó. Só tem a Betânia no Ceará que beneficia algo em torno de 160 mil litros de leite por dia, e a nossa demanda é muito maior do que essa. Para ter uma ideia, a Itambé coloca 10 milhões de litros de leite por mês no Ceará. Existe uma demanda muito grande de leite em pó, e não temos capacidade produtiva.
Uma das saídas encontradas foi o melhoramento genético das vacas-leiteiras, que tem o processo de avançar de gerações acelerado buscando fornecer mais leite. Amílcar conta que, em parceria com o Sebrae, a Faec disponibiliza anualmente 2 mil animais para produtores agropecuários do Estado.
"Uma bezerra dessas que nascem in vitro tem um avanço de sete gerações. Nossa ideia é que daqui a uns quatro, cinco anos, a gente acrescente até 400 mil litros de leite só com essas vacas", projeta.