Para expandir grupo político, oposição precisa de habilidade e vai lidar com contradições

Um dos desafios é atrair partidos de peso, o outro é conviver com a divisão do palanque nacional entre Bolsonaro e Moro

Os últimos acontecimentos políticos no Ceará mostram que a disputa pelo Governo do Estado e pelos demais cargos em disputa já começou, com os grupos políticos em constante movimento. Na oposição, em especial, os fatos revelam a necessidade de mais capilaridade para ser competitiva e também as dificuldades típicas da política brasileira para formar um grupo coeso e significativo. 

O início do ano eleitoral começa a mostrar aos oposicionistas no Estado a necessidade de contornar contradições para agregar partidos, parlamentares e prefeitos em nome de uma candidatura competitiva. Outra questão bastante delicada é a divisão nacional do palanque entre Bolsonaro e Sérgio Moro.
  

Com um grupo volumoso e diverso, os governistas locais experimentam há algum tempo as contradições que envolvem, por exemplo, a formação de alianças heterodoxas e as turras entre PDT e PT. 

Do outro lado do espectro político, as dificuldades estão claras e demandam habilidades políticas para serem superadas. A primeira é em relação ao arco de alianças para o pleito. Há a necessidade de a pré-candidatura de Capitão Wagner (Pros) formatar o apoio das legendas, uma dificuldade que o grupo já teve na última eleição para prefeito de Fortaleza. 

Impasse no União Brasil

Atualmente, Wagner espera para os próximos dias uma definição do União Brasil, partido recém-criado após a fusão de DEM e PSL. Caso a sua articulação surta efeito esperado, ele deve se filiar à legenda para concorrer ao Governo do Estado e deve levar consigo um grupo de aliados para candidaturas ao Legislativo.  

O entrave é a disputa entre ele e o senador em exercício Chiquinho Feitosa, presidente local do DEM, até a fusão. Feitosa é aliado do grupo governista e também tem expectativa de ficar com o comando da legenda. 

Como trata-se do maior partido em atuação no País em número de deputados federais – 81 no total - não resta dúvida de que essa é uma decisão importante para a sucessão. Mais até para a oposição.

Outro partido importante que está ao lado da oposição, mas pode mudar é o Republicanos, presidido no Estado pelo vereador de Fortaleza, Ronaldo Martins. Na última semana, houve tensão entre as partes.

PL está dividido

Além dele, o PL, do presidente Jair Bolsonaro, é uma legenda que já começou a filiar parlamentares e lideranças do campo conservador, mas é presidido pelo prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves, um aliado do grupo governista local.  

Neste fim de semana, por sinal, o comando da legenda foi renovado para o prefeito e, pelo que apurou esta coluna, teria havido compromisso de liberar os filiados para se posicionarem como quiserem na eleição estadual no Ceará, o que seria ruim para a oposição. Aliados de Bolsonaro, ao que parecem, devem reagir.  

Toda a articulação com esses importantes partidos vai demandar perícia política dos líderes da oposição para fortalecer a chapa. 

Uma formatação igualmente relevante é a atração de lideranças locais, notadamente, prefeitos que possam dar mais capilaridade à oposição no Interior. Na eleição 2020, os opositores conquistaram um menor número de prefeituras, mas conseguiram eleger líderes em importantes cidades como Caucaia, Maracanaú, São Gonçalo do Amarante e Juazeiro do Norte. 

Após as eleições, o grupo governista fez investidas para atrair alguns desses gestores. Com a chegada do novo ano eleitoral, será desafiador aumentar essa lista. 

Apoios nacionais 

Em relação ao cenário nacional, uma eleição que deve ser uma das mais nacionalizadas desde a redemocratização, os opositores comandados por Capitão Wagner e pelo senador Eduardo Girão (Podemos), ao que parece, terão que dividir o palanque.  

Wagner está cada vez mais próximo do presidente Jair Bolsonaro, a quem se referiu na última visita do chefe do Executivo ao Estado como “estadista”. A postura de Wagner deve manter a atração de figuras políticas identificadas com Bolsonaro no Estado. 

Por outro lado, o senador Eduardo Girão (Podemos), na última semana, foi o maior anfitrião da passagem do ex-ministro Sérgio Moro pelo Ceará. Em alguns dos discursos, Girão fez críticas ao governo Bolsonaro, a quem acusa de ter retrocessos no combate à corrupção. 

Wagner e Girão devem estar juntos na eleição, mas terão que contornar os empecilhos deste fato e acalmar ambos os lados. Bolsonaristas não mostram tolerância com a candidatura de Moro. O contrário também ocorre. 

Os próximos meses vão demonstrar quais foram as articulações bem-sucedidas e quais os resultados delas.