Indefinição, guerra interna e busca por mais aliados: os bastidores da sucessão de Camilo Santana

O grupo numeroso de aliados tem suas vantagens eleitorais, mas gera impasses que deverão ir até a véspera do pleito

Faltando um ano e quatro meses para a eleição, são muitas as indefinições e dúvidas acerca do processo eleitoral de 2022 no Ceará. Em público, poucos políticos arriscam anunciar seus planos, mas o certo é que, nos bastidores, as articulações estão acontecendo em diversos rumos, no grupo governista e também na oposição. Vamos tratar dos governistas. 

A base aliada, todos sabem, é liderada pelo ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência da República, e pelo senador Cid Gomes. O governador Camilo Santana, que terá oportunidade de construir sua sucessão, evidentemente, tem um peso grande na definição.

O grupo governista, entretanto, terá que usar da liderança e do traquejo político de seus líderes para contemplar todos os aliados interessados no projeto de 2022. 

Plano nacional

A primeira questão a gerar impasse é a candidatura a presidente. Ciro Gomes se apresenta como pré-candidato. A retomada dos direitos políticos do ex-presidente Lula e a liderança que ele ainda exerce no País, a julgar pelas pesquisas de opinião, dividem o grupo governista, afastando um pouco o PT das negociações internas no Ceará. 

Essas duas candidaturas nacionais põem o governador Camilo em uma saia justa. Para onde vai rumar o chefe do Executivo que não tem planos de deixar o PT?

Em contrapartida, Camilo tem demonstrado lealdade aos irmãos Ferreira Gomes desde o início de sua gestão em 2015, mais um gerador da dúvida. 

A pandemia tumultuou as conversas políticas, mas Camilo já começou a receber prefeitos e deputados, acalmando os ânimos na base aliada, ávida por proximidade com o Palácio Abolição. Todos têm planos para elevar o capital político e fechar compromissos administrativos às gestões que também pesam na eleição vindoura.

Cadeira no Senado

O segundo ponto de interrogação no grupo governista é em relação a definição da disputa pelo Senado. O governador, embora não fale sobre o assunto, é, claramente, um candidato a senador, com o apoio de muitos aliados atuais. Mas há que se esperar o caminhar das conversas políticas porque há em meio a tudo isso o senador Tasso Jereissati, com o peso do PSDB (nacionalmente), cuja posição sobre 2022 ainda merece uma melhor observação. Só há uma vaga ao Senado em disputa. 

É possível o grupo governista cearense abrigar PT e PSDB sob o mesmo guarda-chuva eleitoral? Ambos estarão juntos sob a liderança de um nome do PDT? São questões que precisam ser respondidas. 

Sucessão do governo

A disputa pela cadeira ocupada hoje por Camilo Santana é outro ponto a demandar articulações. No PDT há três nomes mais fortes: a vice-governadora Izolda Cela, o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Claudio, e o deputado federal Mauro Filho. Izolda não se movimenta para buscar apoios até pela razão de estar no cargo de vice-governadora, indicada por Cid e Ciro Gomes. 

Já os outros dois nomes se movimentam à sua maneira. Roberto Cláudio, residindo em São Paulo, segue presidindo o PDT na Capital e movimentando as conversas políticas com seus aliados. Mauro Filho também busca formar uma base de aliados para ter força no momento decisivo. 

Quem conhece o comando do grupo governista sabe que gritar antes da hora pode prejudicar a competitividade. Por isso, tudo corre nos bastidores. Há, porém, outros nomes.

Zezinho Albuquerque é filiado ao PDT, mas seu filho, o deputado federal AJ Albuquerque, lidera o PP, um partido estratégico para os planos governistas cearenses. Ambos mantêm uma liderança sob um grupo importante de prefeitos que mantém fidelidade à base. 

Outro aliado que se movimenta é Domingos Filho (PSD). Os analistas que fazem contas políticas descartam que ele possa romper com o grupo governista para lançar uma candidatura independente. De uma forma ou de outra, significa um aliado que vai querer uma cadeira na mesa de líderes que baterá o martelo sobre os rumos de 2022. 

Busca por mais aliados

A base aliada tem sido marcada pelas amplas coligações que consegue formar em torno de um candidato, quase sempre definido em cima da hora da campanha. São blocos acima de 10 partidos. E as articulações em curso fazem crer que esse grupo pode ser ainda maior.  

Lideranças governistas estão em conversa com líderes de partidos hoje alinhados com o grupo de oposição, como o Republicanos, para tentar arrumar uma cadeira a mais à mesa. Em outra frente, conversas ocorrem com prefeitos eleitos pela oposição para reforçar a possibilidade. Até o limite, tudo pode acontecer.