Nos últimos dias, o presidente Jair Bolsonaro tem elevado a capacidade de lançar mão do linguajar chulo e até escatológico contra autoridades da República e até instituições democráticas brasileiras. A incontinência verbal do chefe do Executivo teve como alvo, na quinta (8), a CPI da Pandemia e, nesta sexta (9), o ministro Luiz Roberto Barroso e o Tribunal Superior Eleitoral.
Ao baixar o nível da crítica, o presidente revela desconforto com o quadro delicado que atravessa do ponto de vista político e administrativo.
Bolsonaro tem defendido – sem argumentos plausíveis, diga-se de passagem – supostas fraudes no sistema eleitoral brasileiro. Para ele, seria necessária uma forma de impressão do voto para garantir “eleições limpas”.
Como o presidente, em nenhuma ocasião, apresenta qualquer prova ou ao menos indício das supostas fraudes, não há outra alternativa que não a de desqualificar a ideia.
Aliás, 11 partidos, incluindo alguns aliados de Bolsonaro, já fizeram isso. E o TSE, com a devida razão, mais do que desqualificar, tem mostrado todos os mecanismos de segurança da urna eletrônica.
Ofensiva contra as instituições
A semana que está se encerrando foi marcada pela ofensiva de Bolsonaro contra as instituições e uma entrada indevida das Forças Armadas no debate político. Uma subida de tom que gera incertezas sobre o necessário distanciamento de militares da arena política. As Forças devem servir à nação e não a qualquer que seja o governista de plantão.
O momento, como esta coluna tem reiterado, é delicado para o presidente Bolsonaro. Há um ambiente bastante hostil com denúncias que estão na mira da CPI da Pandemia e do Ministério Público Federal, um cenário de deterioração da popularidade do presidente, um horizonte de dificuldade eleitoral, apontados pelas pesquisas, e a insatisfação nas ruas.
Há indícios consideráveis para aprofundar análises de casos como o da vacina Covaxin e das possíveis omissões no combate à pandemia. E a cada dia que isso fica mais claro, o presidente sobe o tom do destempero verbal.
Aliado a isso, as dúvidas que ele põe sobre o sistema eleitoral brasileiro e a entrada de militares aliados no debate político engrossam a tese de que tudo isso não passa de uma cortina de fumaça para desviar o foco daquilo que é mais importante no momento.