O resultado das urnas na Eleição 2018 para deputado estadual no Ceará revelou uma surpresa até para políticos e analistas mais experientes. Até então pouco conhecido, André Fernandes, do PSL – partido que acolheu os aliados de Jair Bolsonaro naquele pleito – apareceu no topo da lista de votação com mais de 109 mil votos.
Fernandes desbancou políticos tradicionais e habilidosos, experientes no ramo de contabilizar apoios, cabos eleitorais e necessidades financeiras para a campanha política.
Três anos depois de eleito, ele se tornou um dos cearenses com maior acesso ao Palácio do Planalto e ao presidente Bolsonaro. Neste tempo, coleciona polêmicas, inclusive uma suspensão do mandato por 30 dias - inédita na Assembleia -, fustiga adversários no plenário e nas redes sociais e reza numa cartilha cuja pauta conservadora é dominante e mistura religião, armamentismo e certo maniqueísmo político.
É fruto dessa mistura a preparação de Fernandes para alçar voo maior e ser, muito provavelmente, o candidato a deputado federal mais identificado como a família Bolsonaro no Ceará. A política tradicional, inclusive, põe o bolsonarista na lista dos pré-candidatos com real chance de eleição.
Lista robusta
Entretanto, diferentemente do que ocorreu em 2018, as chapas das eleições legislativas com viés conservador, ancoradas na influência bolsonarista, devem ser turbinadas em número de candidatos que ganharam visibilidade desde o início da gestão federal atual.
Os pré-candidatos movimentam-se individualmente em busca dos votos, em uma atuação difusa que aposta na identificação de parte do eleitorado com defesas que têm elementos de religião, conservadorismo e a contestações de um ‘status quo’ que parece estar mais no discurso. Basta olhar as práticas do presidente Bolsonaro ao entregar o governo ao controle do ‘centrão’ e abandonar o viés liberal prometido na campanha, mas que virou fumaça de tanque na esplanada dos ministérios.
Além de Fernandes, há pelo menos quatro nomes destacados cotados para a disputa de vagas na Câmara Federal. O comandante da Força Nacional de Segurança, coronel PM Aginaldo Oliveira, esposo da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), uma das mais fieis aliadas de Bolsonaro no Congresso, está disposto a oficializar a entrada na disputa por votos.
Aginaldo, embora comande uma tropa de segurança, faz aberta defesa política de pautas do presidente nas redes sociais e acompanha, com frequência, Bolsonaro e aliados em eventos políticos. Deverá ser testado nas urnas no ano que vem.
A médica Mayra Pinheiro, secretária do Ministério da Saúde, que se notabilizou desde o início da pandemia pela defesa de medicamentos cuja a eficácia nunca se comprovou contra a Covid-19, é outra que, desde 2019, coleciona polêmicas e se cacifa neste universo para buscar votos no ano que vem. Esta coluna apurou com fontes da corrente política que ela deverá ser uma das apostas eleitorais do bolsonarismo aqui no Ceará.
Em 2018, Mayra concorreu ao Senado pelo Ceará e obteve mais de 800 mil votos, um resultado expressivo, mas ficou em quarto lugar, não sendo eleita. A disputa de deputado federal terá um peso diferente e será um desafio para ela.
Outro nome que já se colocou na disputa é o da vereadora de Fortaleza Priscila Costa (PSC). Ela, inclusive, já tem uma agenda organizada voltada a se fortalecer para a disputa de deputada federal no próximo ano. Com influência no segmento evangélico, a parlamentar tem se movimentado para a disputa.
O atual deputado federal Jaziel Pereira (PL) foi outro que se aproximou do Planalto desde a eleição de Bolsonaro. Ex-aliado do grupo governista no Ceará, hoje faz postagens nas redes contra os antigos aliados e assumiu postura bolsonarista. Ele e a esposa, deputada estadual Dra. Silvana farão parte da corrente conservadora no próximo pleito.
Grupo mais amplo
Some-se ao grupo, os aliados do deputado federal Capitão Wagner (Pros), que se apresenta como pré-candidato ao governo do Estado. Caso se confirme a candidatura ao Executivo, Wagner já trabalha com a campanha de sua esposa, Dayany Bittencourt, ao cargo de deputada federal.
Capitão vem fortalecendo atuação no campo conservador, mas sua influência política é anterior à eleição do presidente Bolsonaro, a quem Wagner pretende somar com suas pretensões no próximo pleito.
Além da esposa, ele possui um grupo de aliados, a maioria ligada a forças de segurança, cuja movimentação indica outras candidaturas que também poderão ter peso eleitoral no próximo ano.
A presença destes e de outros nomes que ainda irão surgir farão da disputa ao cargo de deputado federal a mais acirrada aos cargos legislativos no Estado.