A Latam Brasil vai descontinuar em julho e agosto (períodos de alta estação no Ceará) o exitoso trecho direto entre Vitória (ES) e Fortaleza. Atualmente, a companhia opera um voo diário entre as duas cidades.
Em nota, a empresa informou que avalia a viabilidade de manter ou suspender o trecho a partir de julho. “Qualquer ajuste necessário ou investimento confirmado será comunicado oportunamente pela companhia”, disse em nota.
A alternativa proposta pela companhia é a implementação de um segundo voo Galeão/Rio- Fortaleza, de forma que os capixabas devem desembarcar no Aeroporto Santos Dumont e trocar de aeroporto, a fim de chegarem em Fortaleza e demais conexões. Assim, o passageiro perde um voo direto que dura pouco mais de 2h por uma conexão cansativa e um percurso total de mais de 7h.
Em março passado, as ocupações do Fortaleza-Vitória foram maiores que 80%, média sempre festejada pela indústria de aviação comercial.
Para agravar a lamentação, Fortaleza voltou a ser o maior mercado de Vitória do Nordeste através de voos diretos, e a Latam deixará esses ótimos números para a Azul, que anunciou que retornará com o trecho Vitória-Recife a partir de 24 de junho.
Passageiros em março
- Fortaleza/Vitória/Fortaleza: 8.696
- Salvador/Vitória/Salvador: 7.748
Limitações
Desde 2022, a Latam está se limitando a realizar o mínimo de decolagens por dia, quantidade que lhe garante isenção de ICMS sobre combustível em Fortaleza. A empresa não deveria se limitar ao decreto, uma vez que a relação da Latam com o Ceará é de benefícios mútuos. Todas as partes saem ganhando com os benefícios fiscais.
Em 2012, a companha mantinha uma média de 31 decolagens por dia, mais de 11,2 mil decolagens por ano. É notória a tendência de crescimento pós-pandemia, e 2023 já será melhor que 2019 se as previsões da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) se confirmarem. Porém, será apenas 3% melhor se novos voos não surgirem!
A Latam ainda precisaria implementar mais seis decolagens por dia (média) para atingir os excelentes números que tinha em Fortaleza em 2012 (máximo histórico).
Sugerimos ainda alguns incrementos de frequências em destinos já voados, bem como novos destinos. Seriam os retornos de Curitiba e Confins (Belo Horizonte), implementação das rotas para Aracaju (havia slots e previsão em 2019) e João Pessoa, com objetivo de atingir todos os estados do Nordeste, e por fim, a óbvia necessidade de operar na rota Fortaleza-Juazeiro do Norte, com aviões próprios ou com a Voepass.
Para Juazeiro, rememoramos que há agora desconto de ICMS no combustível de aviação.
A sexta nova decolagem por dia poderia ser um novo destino internacional na América do Sul. Há fontes que mencionam um inédito Fortaleza-Lima, mas a companhia poderia implementar algo mais tradicional como um Fortaleza-Buenos Aires. O voo semanal da Gol para lá, certamente, não é empecilho.
Obviamente, a Latam deverá pensar em mais tráfego para o fim do ano, sobretudo pelo grande vácuo deixado pela Gol. No entanto, já perdeu meses sem incrementar nada.
“Em 2023, a capital cearense permanecerá como uma das cidades-foco dos investimentos brasileiros da companhia, que seguirá observando as oportunidades de mercado e as necessidades dos clientes para promover o crescimento sustentável de suas operações”, disse a empresa em nota à coluna.
Histórico da Latam em Fortaleza
A TAM/Latam já tratava Fortaleza como base concentradora de voos para o Brasil, dado que oferecia ligações para várias capitais, com até 33 decolagens/dia:
- Recife: 4
- Teresina: 3
- Salvador: 2
- São Luís: 2
- Natal: 2
- Belém: 3
- Rio-Galeão: 5
Certamente, a Latam voa atualmente para mais destinos, como Maceió, Vitória e Congonhas, atingindo até 14 destinos. Porém, é um incremento tímido.
A Azul, em Recife, por exemplo, opera mais de 30 destinos, sem contar a Azul Conecta. Já a Gol, em Salvador, atende 19 aeroportos.
Crescimento lento e caminho certo
A Latam tem apresentado esse crescimento lento nas movimentações de Fortaleza, porém, fez e fará movimentações macros no caminho certo:
- Criou um grande banco de conexões entre 13h e 15h em Fortaleza, com 12 destinos integralmente conectados.
- Diferentemente do que nos disse Latam ano passado, a companhia está sim reorganizando seu segundo banco de conexões na madrugada de Fortaleza: em julho alcançará São Luís, Teresina, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo (Congonhas), Guarulhos e Brasília.
- Incrementará as operações para Miami para até três vezes semanais. As operações para a cidade voltarão a ser na madrugada, horário tradicional antes da pandemia e que obtinha sempre excelentes índices de ocupação.
Mais um ano perdido?
A Latam precisará decidir se desejará ter incremento de operações para a alta estação do fim de 2023, novamente, porque a Gol terá acréscimos pífios nesse período. Se a Latam não incrementar destinos de modo a compensar a perda da Gol, teremos novamente uma ruim alta estação 2023-2024.
Estão previstos nos sistemas da Anac aproximadamente 650 mil assentos em Fortaleza em dezembro de 2023. A Latam finalizaria o ano com o mesmo número de decolagens de julho/23, o que seria sinal de que a companhia manterá apenas o mínimo de operações para receber isenção de ICMS.
Se tomarmos 80% de ocupação nesses voos, resultarão 520 mil passageiros, mesma quantidade de passageiros de dezembro de 2022. Mais estagnação.
O Governo do Ceará precisará estar vigilante e diligente para evitar mais um ano “perdido” para a aviação estadual.
Ocupações em março
De forma geral, a Latam teve ocupação de 80% em Fortaleza, média próxima à do mercado no Brasil.
Aparentemente, como já discutimos, a precificação das passagens é feita para não encher o avião, mas buscando máximo lucro.
Chamo atenção para dois pontos: sobre oferta de voos no trecho Fortaleza-Teresina, já que a Azul também está voando a rota, mas a abandonará novamente em junho.
Fortaleza-São Luís está operando duas vezes por dia, mas ainda está sustentando mais de 120 passageiros em média por decolagem.
Fortaleza-Maceió tem apenas 77% de ocupação, mas foi operado em maioria com o A321, com até 224 assentos, demonstrando como a rota se consolidou. Essa consolidação precisa ser encarada pela Latam como a oportunidade de lançar mais rotas no Nordeste, como já dissemos.
Por fim, aguardem para ver em abril como as ocupações de Manaus estarão melhores, dado que agora o destino está dentro do banco de conexão da empresa na Capital cearense.
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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.