Já escrevemos em colunas anteriores que a Latam Brasil, de uma vez por todas, transformou Fortaleza em centro de conexões doméstico no Nordeste. O número de destinos e a ampla e rápida conectividade são inequívocos sinais.
A coluna conversou esta semana com a Diretora de Vendas e Marketing da companhia, Aline Mafra, e ela ratifica o crescimento da aérea no Ceará. Segundo a diretora, a empresa quer voar para mais destinos e estão otimistas com o retorno do trecho para Miami a partir da capital cearense.
Queremos abrir mais destinos desde o Ceará, faremos esse investimento sempre que viável. Foi assim que crescemos em Fortaleza, de onde já voamos para 15 destinos nacionais e também para Miami. E foi assim também que inauguramos operações em Jericoacoara e em Juazeiro do Norte no ano passado”.
Aline nos conta que no momento a Latam Brasil não pensa em resgatar o projeto de hub da TAM de 2015 no Nordeste. Naquele ano, a empresa queria transformar a cidade em um grande centro internacional de voos.
“Nosso foco é crescer de forma sustentável onde há demanda potencial e Fortaleza é estratégica para a Latam nesse sentido”.
Fortaleza volta a ter de 2 a 3 vezes mais decolagens diretas da Latam Brasil do que qualquer outra cidade do Norte e Nordeste. Movimenta mais aeronaves do que qualquer capital do sul do País, além de Confins em Belo Horizonte e Galeão, no Rio de Janeiro.
Assim, o Aeroporto de Fortaleza se consolida como a 5ª base da Latam no Brasil, atrás de Guarulhos e Congonhas (SP), Brasília (DF) e o Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro.
Pensando em número de destinos diretos, Fortaleza é a 4ª base do País, logo, de fato, é uma base estratégica para a companhia.
Aline Mafra não nos contou a porcentagem de passageiros que pousam em Fortaleza para realizar conexões para outros destinos, porém explicou que essa quantidade é de 3 a 6 vezes maior do que outros aeroportos que “não são hubs”. Estimo que essa quantidade, portanto, é de 20% a 40% de passageiros realizando conexões. O que está no patamar de grandes hubs como Guarulhos e Brasília.
O termo usado entrega uma nova forma de olhar para a capital do Ceará, já que sempre fomos chamados de focus-city, ou seja, cidade-foco. Hub (centro de conexões) seria um degrau acima. De fato, a Latam sempre teve Fortaleza como a maior base do Nordeste há mais de 10 anos.
A volta desses números é reconfortante, uma vez que há apenas 15 meses, a companhia estava limitada a voos para São Paulo e Brasília, tinha apenas 4 decolagens por dia em Fortaleza, esteve para ser comprada pela Azul e enfrentava recuperação judicial. Estimo que a aviação cearense sofreu seu mais duro momento em 30 anos pela falta de voos e conectividade, duramente impactada pela pandemia de Covid-19.
A Latam está de volta, mais forte, liderando o market share nacional e recuperada de processos judiciais. A companhia ainda lidera de longe a participação no mercado internacional a partir de voos do Brasil.
Segundo a Anac, a participação da aérea no mercado doméstico brasileiro foi de 34,9% em junho em número de passageiros transportados. A lista segue com a Azul (34%) e Gol (30%).
Espaço para crescer mais
A Latam cresce em Fortaleza com bastante cuidado. Desde a alta estação de julho de 2021, o acréscimo de voos diários é paulatino e essa será a tônica. Segundo Mafra, a empresa vai manter o grupamento de voos uma vez por dia em um grande branco de conexões próximo às 13h.
Neste momento, com tantos desafios, estamos nos esforçando para concentrar a operação em um banco (de conexões). Isso é mais eficiente e sustentável. Um banco (de conexões) a mais nem sempre garante o melhor produto”.
Aline Mafra entrega que quer voar para mais destinos a partir de Fortaleza, porém em 2022, ainda serão mais frequências para cidades que já são atendidas. “Faz parte dos nossos estudos colocar frequências adicionais em algumas dessas rotas que estão bastante cheias”.
De fato, até novembro, serão iniciadas algumas frequências adicionais para Natal, Confins-BH, Brasília, Teresina e Recife. A companhia está de fato conectada com a crescente demanda.
Mafra ainda dá indícios inclusive para quais poderiam ser, no futuro, os próximos destinos a partir de Fortaleza: “Recentemente estudamos novas ligações para João Pessoa e Aracaju, mas a demanda potencial ainda é incerta para o calibre dos nossos aviões. Estamos muito atentos à viabilidade comercial de rotas como essas”.
Vale a pena recordar que a Latam pediu em 2019 para voar a Aracaju e chegou a solicitar horários de trânsito para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Corroborando com a visão da Latam, algumas rotas nordestinas para João Pessoa têm mais de 80% em média de conexões: o que significa? Na ausência de voos diretos a partir da capital da Paraíba (e sergipana), outras companhias estão levando os paraibanos para conectarem em outras praças como Recife e Salvador. Logo não se trata de demanda direta.
A diretora de vendas da companhia também diz que percebeu uma demanda considerável para cidades, como Porto Velho (Rondônia) e Macapá (Amapá), via rápidas escalas em Manaus e Belém, respectivamente.
Outro sinal da relevância da base Fortaleza é que a Latam vende em seu site passagens para destinos regionais importantes, como Juazeiro do Norte, Jericoacoara e Parnaíba, finalizando o grande centro de distribuição de passageiros.
Horário de pico
No horário de pico da Latam, que se dá entre 12h e 16h, são embarcados e desembarcados aproximadamente 5 mil passageiros em 14 aeronaves. É um desafio para qualquer sistema de check-in e sistema de processamento de bagagens.
Por dia, passam pelo Aeroporto Internacional de Fortaleza, aproximadamente 14 mil passageiros. Logo, só as 4h de pico da Latam representam mais de 1/3 do movimento do aeroporto.
Rotas internacionais
A Latam é signatária de decreto estadual de isenção de ICMS mediante adoção de um conjunto de voos internacionais: CONVÊNIO ICMS Nº 20, DE 7 DE ABRIL DE 2022.
A adoção dos voos internacionais semanais deve acontecer segundo o seguinte cronograma:
Dessa forma, Aline Mafra ratifica a intenção da empresa de seguir os termos do convênio, de forma que em julho passado a Latam iniciou 1 voo semanal para Miami com o moderno 787-900. Já foram 5 voos desde então com ocupações em torno de 70%.
Aline Mafra aponta que estão otimistas com as operações para Miami e explica que os valores das passagens foram impactados pelo custo do combustível e pelo dólar elevado.
“É nosso desafio encontrar a elasticidade de preço que mova o interesse do passageiro e entregue uma rentabilidade mínima na rota. A alta do combustível é o maior desafio sobre a mesa, mas estamos otimistas com os resultados iniciais. Estamos satisfeitos com a operação do Fortaleza-Miami”.
Ela ainda comentou a possibilidade de aumentar o número de frequências para Miami. “Se a demanda de Fortaleza para Miami continuar respondendo bem, estará sim dentro dos nossos interesses aumentar a frequência da rota”.
Quando perguntada sobre a possibilidade de uma casadinha de destinos nos Estados Unidos e Europa, a diretora ratificou que está atenta a todas as possibilidades, embora Miami seja o planejamento original. “Hoje a nossa estratégia é continuar ligando Fortaleza-Miami, mas estamos atentos a todas as oportunidades”.
Grandes aviões
A Latam tem na família A320 grande espectro de assentos, conseguindo operar aeronaves desde 144 assentos até 224 (A319 até o A321). Isso quer dizer que apenas mudando o avião nos dias da semana, a companhia consegue moldar a demanda que é variante.
Falando especificamente do A321 (224 assentos), a Latam opera dezenas deste e Fortaleza é a casa desse avião de alta densidade. A isso atribuo o fato de a Capital não ter maiores movimentos diários. Dados da Anac mostram que exatamente metade das rotas da base FOR são operados com o A321.
O que isso significa? O A321 consegue ter de 30% a 40% mais capacidade que o A319, A320: é algo próximo de 1,5 avião.
Assim, o avião consegue suprimir algumas aeronaves a mais no Pinto Martins, reduzindo custos operacionais. Mesmo assim, a aeronave está pequena para a elevada demanda em 30% dos destinos.