Invasão de muriçocas e jumentos, obra parada e modernização: 25 anos do Aeroporto de Fortaleza

O Aeroporto Internacional Pinto Martins, localizado na avenida Carlos Jereissati, em Fortaleza, completou 25 anos nesta semana. O terminal, inaugurado em 7 de fevereiro de 1998, revolucionou a aviação cearense com modernidade e mais conforto.

Como mostra o Diário do Nordeste do dia 7 de fevereiro de 1998, o presidente Fernando Henrique Cardoso e o então governador do Ceará, Tasso Jereissati, inauguravam o novo terminal que inovava pela climatização, pela adoção de sete pontes de embarque, pelas escadas rolantes e pelo grande espaço que tinha para expansões futuras.

O terminal era bastante festejado, também por passar a adotar padrões internacionais de operação e dar mais segurança aos voos.

Fluxo crescente de passageiros

O novo terminal teve grande acréscimo de passageiros já nos primeiros 10 anos de operação, quando mais que dobrou a quantidade de viajantes embarcados. Em 2019, movimentou mais de 7 milhões de passageiros entre embarques e desembarques, tendo sido o 11º aeroporto mais movimentado do Brasil.

Entre 2000 e 2019, o aeroporto mais que quadruplicou o fluxo de passageiros.

Início de operações internacionais regulares

A edição do Diário do Nordeste trazia ainda como destaque a atração do aeroporto por voos internacionais chaters, voos não-regulares e não periódicos. 

Menos de 60 dias após a inauguração, em 30 de março daquele ano, a realidade era ainda melhor, quando às 05h45 da manhã, pousava no novíssimo terminal do Pinto Martins, o Airbus A310 da TAP (companhia portuguesa) que iniciou operações regulares no aeroporto.

Desde então, muitas outras companhias iniciaram voos internacionais, fazendo do Ceará uma das principais portas de entrada do Norte e Nordeste para turistas estrangeiros.

Obras

O Aeroporto Pinto Martins entrou em obras para se preparar para receber os turistas para a Copa do Mundo de 2014.

À época, a Infraero havia iniciado as obras de uma expansão de terminal para o leste - lado da BR-116.

As obras se iniciaram em 2012, mas em 2014, poucos meses da Copa do Mundo, tinham avançado de forma irrelevante. 

A primeira licitação fora paralisada pelo Ministério Público Federal, sobretudo pela morosidade das obras. O Pinto Martins ficava num limbo, com um esqueleto feio paralisado por anos.

Puxadinho à brasileira

A solução dada foi construir um terminal chamado MOP (Módulo Operacional de Passageiros), temporário para que rapidamente, o aeroporto ganhasse capacidade de acomodar passageiros.

O MOP passou a ser chamado de puxadinho e pouco tempo após a competição foi desativado.

Saturação do aeroporto

Em 2012, o aeroporto atingira a capacidade nominal máxima de passageiros, em torno de 6 milhões por ano e daí em diante o Pinto Martins atingia momentos de saturação do terminal em determinadas etapas do dia, demonstrando que ampliações seriam necessárias. Centenas de passageiros se aglomeravam em filas no saguão em frente à praça de alimentação até conseguirem passar pelo raio-X antes da implementação desta.

Entre 2013 e 2015, a falta de investimentos relevantes dava notoriedade a problemas primitivos, como infestação por muriçocas (pernilongos), incorreto funcionamento do ar-condicionado e até invasão de jumentos ao check-in. 

Idos de 2015, foi liberada a segunda sala de embarque do Pinto Martins: passava a existir a sala leste (atual embarque doméstico) e a sala oeste (atual embarque internacional) para atenuar a grande lotação.

Hub TAM e concessão

Ainda em 2015, três cidades do Nordeste (Recife, Natal e Fortaleza) disputavam o famigerado hub TAM, companhia que deu origem à Latam, junto com a LAN (chilena). O Pinto Martins, porém, sem melhorias, certamente seria carta fora do baralho.

À época, porém, o Governo Federal era correligionário do Governo cearense, aproximação que permitiu a Fortaleza entrar num plano de concessão juntamente com Salvador, Porto Alegre e Florianópolis, num eficiente “lobby” cearense junto ao Governo Federal. Fortaleza entra no pacote bilionário de concessões, prometendo o mínimo de R$ 1,5 bilhão de investimentos em até 30 anos.

Assim, a Fraport AG Frankfurt Airport Services, deu o melhor lance e, por R$ 425 milhões, venceu um acirrado leilão em maio de 2017.

As primeiras melhorias da ampliação da Fraport foram entregues já em 2018 com banheiros reformados, wi-fi, além do início das obras de ampliação do terminal de passageiros.

Em 2019, houve ampliação de salas de embarque, entrega de um viaduto para o piso de desembarque, leitores automáticos de cartão de embarque, novo check-in, novas esteiras de bagagens, o dobro de gates de embarque, de taxiways, ampliação de pista de pousos e decolagens. 

Em 2020, obras dos sistemas de pista (inclusive ampliação) e taxiways, foram entregues, permitindo que o Pinto Martins recebesse aeronaves maiores e mais pesadas.

Incentivos Fiscais e hub

O Ceará foi um estado pioneiro em aprovar decretos oferecendo isenções fiscais para a instalação de centros de conexão no aeroporto Pinto Martins. Nessa época, a coesão do governo local com a Prefeitura de Fortaleza fez nascer também regulação flexibilizando impostos de âmbito municipal.

Essa flexibilização juntamente com a perspectiva de uma relevante ampliação dos terminais atraiu as duas maiores companhias aéreas brasileiras para instalar centros de conexão no Pinto Martins: Gol e a já constituída Latam (2018).
Com as duas companhias, em 2019, Fortaleza passou a ter a segunda melhor conectividade do Nordeste para todo o Brasil e uma das melhores conectividades diretas internacionais do país, voando para:

  • EUA
  • Panamá
  • Colômbia
  • Guiana Francesa
  • Argentina
  • Cabo Verde
  • Portugal
  • Espanha
  • França
  • Alemanha
  • Holanda

Em 2019, o Pinto Martins viveu um milagre aeronáutico, quando passou pela primeira vez a marca de 7 milhões de passageiros. Era pra ser um número muito maior, se não fossem o problema do 737-Max e a falência da Avianca Brasil.

Toda semana havia anúncio de novos voos, aumento de frequências, aeronaves maiores, rumores de que chegariam novas companhias para o grande HubFor!

Pandemia e novos desafios

Esse texto é carregado (ainda) de saudosismo pelo ano de 2019. A pandemia trouxe um tombo histórico para o Fortaleza Airport.

Do Nordeste, foi o aeroporto mais atingido entre os grandes. O hub da Gol se mudou para Salvador, Latam quase vai à falência, KLM não regressou.

Houve dias em abril de 2020, com duas ou três decolagens/dia, aeroporto que frequentemente chegava a 80 decolagens diárias.

Em 2022, com a retomada, ficamos ainda 24% abaixo dos números de 2019, muito influenciados pelo ainda baixo retorno de operações internacionais. 

Este ano, entretanto, se inicia com melhores perspectivas para o internacional. Já há no radar, companhias demonstrando interesse em retornar.

Entretanto, há o que se comemorar também. Ano passado, foi um bom ano para a aviação regional e 2023, pode ser ainda melhor, como aeronaves menores se consolidando novamente por aqui. É uma componente que não tivemos nos últimos 20 anos.

Que a década de 20 traga outro milagre para o maior aeroporto dos cearenses. Que o eterno Pinto Martins (Fortaleza Airport) se alce novamente para as posições de destaque.

Parabéns pelos 25 anos, querido amigo: o cearense que ama aviação, muito provavelmente começa amando você!

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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.