Hangar que era da TAM Executiva no Aeroporto de Aracati está vazio há 5 anos

A coluna teve acesso exclusivo ao hangar do Aeroporto Dragão do Mar, em Aracati. O espaço, que foi construído para abrigar um centro de manutenção aeronáutica, então gerido pela TAM Aviação Executiva, está vazio desde 2019, quando a empresa deixou o equipamento.

O hangar que custou cifras da ordem de R$ 30 milhões, começou a ser construído em 2012, valor pago pelo Estado.

O espaço é muito amplo, possui mais de 10 mil metros quadrados (m2 de área construída, possui pé direito superior a 11 metros e grande quantidade de laboratórios de manutenção: motores, materiais compósitos, elétrica, baterias, dentre outros. O hangar possui ainda gerador elétrico.

O pátio do hangar possui 75m de comprimento por 300m de largura, sendo amplo o suficiente para receber dezenas de jatos simultaneamente. De frente, a estrutura construída possui mais de 140m e mais de 80m de fundo.

Ainda, muito bem equipado com salas de instrução, auditórios, salas para permanência de pilotos, escritórios de reunião. Contíguo ao grande hangar de recebimento de aeronaves, há espaço para pintura de aviões.

A estrutura mesmo se depreciando por anos sem manutenção, de tão robusta e bem construída, ainda possui boas condições, não carecendo de complexas melhorias.

Entretanto, o Estado não conseguiu ainda repatriar a atividade de MRO (Manutenção, Reparos e Operação) para o espaço. As atividades de manutenção são bastante concentradas no Sudeste do Brasil.

O espaço é o único do tipo no Nordeste e tem o que há de melhor em termos de equipamentos para suportar a atividade.

Pós-construção do equipamento, a ideia era fazer do hangar o 2º maior do tipo da TAM Aviacão Executiva e tornar Aracati conhecida no mapa de manutenção aeronáutica.

Há capacidade de atender, simultaneamente, um total de 50 aeronaves por dia - 35 na estrutura coberta e as demais no amplo pátio. À época da inauguração em 2016, a crise pelo qual passava o país foi um entrave para o recebimento de mais aeronaves:

"O nosso plano de negócios não emplacou porque fizemos há uns três anos e, de lá para cá, boa parte dos aviões do Nordeste foi embora. Nós tínhamos previsto uns 30 atendimentos, mas acredito que vai ficar em 15 até dezembro. Tínhamos também previsto iniciar com 50 pessoas, mas a situação não deu para fazer isso", lamentou, à época, um funcionário da TAM Aviação Executiva, apontando como motivo do arrefecimento do mercado a alta do dólar, que fez com que a compra e a manutenção dos jatos encarecessem, estimulando a venda da frota brasileira para o exterior.

O timing da saída da TAM Executiva (2019) foi sucedido do período mais adverso da história à aviação mundial: a terrível pandemia de 2020 que devastou a aviação mundial, causando uma enorme aversão ao risco por investimentos.

Câmara de pintura

O hangar de Aracati possui extensa câmara de pintura de aeronaves: um local para lavagem, secagem e a câmara de pintura de aeronaves e peças.

Quem poderia assumir agora o hangar?

Antes de pensar em parceiros para assumir o espaço vazio, seria mais coerente pensar se algum voo comercial relevante poderia aportar na cidade. Infelizmente, o momento não é favorável também porque, como informamos, a Azul Conecta deixará de operar na cidade.

O aeroporto contará com apenas um voo aos sábados com a Voepass que, por operar em horário noturno, deixa de ser um produto melhor.

Objetivamente, o Governo precisa buscar atividades aeronáuticas para serem realizadas nesse espaço. O equipamento é qualificado demais para passar mais 5 anos renegado.

O hangar é multi-uso e poderia ser até uma base secundária de companhias aéreas. O espaço não deixa a desejar em nada a instalações do tipo no Sudeste brasileiro.

Histórico

O hangar TAM Executiva foi pensado em 2011. Em 2012, o estado do Ceará assina memorando de entendimento com a empresa para início das obras do hangar.

As obras foram iniciadas em 2013  e em 2014 estavam em estado avançado. No mesmo ano, a TAM Executiva iniciou a transferência de equipamentos.

Após período de homologação pela Anac, em 2016, foram iniciadas as operações propriamente ditas.

Os relatos eram que o tempo de crise (ano de impeachment inclusive) fez regredir bastante a quantidade inicial de operações de manutenção aeronáutica.

Em 2019, sob análise de condições desvantajosas para as partes (TAM Executiva e Estado), a companhia deixou as instalações.

Desde então, o hangar está vazio.

As ideias então eram que novas companhias assumissem o espaço com a Passaredo/Voepass que passou a operar no Ceará em 2019.

O Ceará precisa fomentar esse viés aeroespacial no Estado, é objetivo estratégico inclusive que pode ganhar força com a chegada do campus do Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA a partir de 2027.

Ao mesmo tempo, outros estados nordestinos se preparam para investir na área. O estado da Bahia, por exemplo, terá complexo aeroespacial.

Recife quer se tornar centro regional de manutenção de aeronaves.

No Ceará e em municípios como Fortaleza, legislações estaduais e municipais buscam reduzir carga tributária para movimentações de peças e aeronaves, porém, o setor não cresceu desde o fim de 2019.

Até mesmo, parte do chamado precocemente de hub aéreo, se desfez desde 2020.

O Ceará precisa correr.

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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.