Fortaleza vai finalizar o ano de 2023 com apenas um voo semanal da Gol para Miami. O número é muito distante de cinco anos atrás, quando a companhia aérea junto ao Governo do Ceará, implementaram o centro de conexões Gol-Air France KLM.
Em 2019, por exemplo, a Gol tinha 14 voos diretos para os Estados Unidos por semana. Eram sete frequências para Miami e outras sete para Orlando.
Passados os anos, o que se vê é uma redução drásticas de voos domésticos e internacionais na cidade pela Gol.
Logo antes da implantação dos voos, em outubro de 2019, a Gol movimentara mais de 190 mil passageiros. Na comparação com outubro deste ano, foram 106 mil passageiros, um tombo de 45% de redução no número de viajantes.
O que explica esse tombo inédito de operações de uma companhia num aeroporto do Nordeste, mesmo ainda estando ativa?
Procurada pelo Diário do Nordeste, a Secretaria do Turismo do Ceará (Setur) informou que está "em constantes negociações com as companhias áreas para a ampliação da nossa malha aérea. Sabemos da importância dessas conexões para atrair mais turistas, empregos e oportunidades para o Ceará".
Já a Gol não respondeu aos questionamentos da coluna até a publicação da matéria.
Acidentes do Boeing 737 Max e o declínio da Gol no Ceará
Entre o fim de 2018 e início de 2019, Fortaleza teve quatro meses de grande atuação como centro nacional de voos em relação aos implementados voos da companhia para os EUA. A cidade teve bastante ascendência como rol de viagens internacionais.
Assim, o hub Gol do Nordeste dava grandes resultados, tanto o eixo EUA, quanto o eixo Europa com Air France-KLM. Isso era o primeiro trimestre de 2019.
Sobretudo de janeiro a fevereiro de 2019, Fortaleza teve o mesmo número de operações internacionais que Brasília e, na média, conseguiu ocupações similares: isso tudo com muito menos voos domésticos alimentadores.
Porém, com o acidente do segundo Boeing 737-Max (em menos de 6 meses) em março de 2019, todos os Boeing desse modelo tiveram suas operações suspensas no mundo.
Fortaleza foi arterialmente atingida pela suspensão dos Max no mesmo mês do 2º acidente (março de 2019). Morreu para voos aos EUA ao final de setembro de 2019.
Brasília permaneceu sozinha, ainda que com operações com escalas em Punta Cana, na República Dominicana, dado que o Boeing 737-800 NG não tinha alcance para percorrer o trajeto direto entre Brasil e Flórida.
Os passageiros que voariam por Fortaleza foram sendo realocados via Brasília. Na esteira do Boeing 737-Max, a pandemia veio a produzir mais e mais restrições a viagens aéreas, sobretudo as internacionais.
Status presente
O novo ponto de equilíbrio se estabeleceu e Fortaleza está totalmente desalinhada do seu eixo, da sua vocação. Os centros do Nordeste com melhores posicionamentos em relação ao Sudeste foram priorizados.
Com a resolução dos problemas mecânicos que poderiam tornar o 737 Max inseguro, este voltou a voar, inclusive com a Gol Linhas Aéreas.
Dessa forma, o retorno do Max sempre induziu esperanças de que a brasileira pudesse reativar o protagonismo da base de Fortaleza, pensada como centro de conexões internacional. Lembrando que apenas de Fortaleza pode-se voar com o Max dos grandes centros do Nordeste para a Flórida.
Porém, o que vimos em 2023 foi totalmente o oposto: grande queda de operações em Fortaleza. Foi o fim do hub Fortaleza na teoria e na prática.
Até os voos alimentadores da Gol para Air France KLM foram suspensos. Apenas Air France segue em Fortaleza com três frequências semanais. A KLM tem seu retorno ainda como incógnita para a Capital e, dadas algumas restrições de operações no aeroporto Schiphol em Amsterdã, esse retorno pode não mais ocorrer.
Em adição, de 14 decolagens semanais para Orlando e Miami em 2019, a laranja retomou apenas 1 voo semanal para Miami, desde dezembro do ano passado.
A Gol Linhas Aéreas tem mantido voos entre Brasília e a Flórida com média mensal de 6 partidas semanais divididas para Miami e para Orlando. A ocupação média de ida é 84,2%.
Difícil recuperação de voos internacionais
Com a fraca alimentação da Gol em Fortaleza em 2023 e já com o que se vê para 2024 (média inferior a 14 decolagens por dia nos primeiros 6 meses), é difícil imaginar um incremento maior de voos para os EUA.
A Gol está desde 2019, priorizando apenas seu 2º maior centro de conexões, que é Brasília.
Penso que não implementa os voos de Salvador (hub nordestino) para os EUA porque o 737-Max não consegue voar para a Flórida sem escalas. Assim, não pode fazer como a Azul faz em Recife por não possuir grandes jatos ou a Latam em Fortaleza. Penso não incrementar voos para os EUA em Fortaleza, porque o destino cearense não é (mais) hub doméstico.
A Gol, pelas características de seus aviões, não pode “servir a dois senhores”: priorizar voos domésticos e internacionais a partir de mais hubs.
Resistência em aumentar número de voos
A Gol continua com altas médias de ocupações (93%) nos voos de e para Fortaleza e, continua tendo baixos números de voos para, por exemplo Guarulhos (menos que 4 decolagens diários), Brasília (apenas duas por dia), Galeão, (três por dia) e, Salvador e Congonhas (menos de uma por dia). Guarulhos teve média de 84% em ocupação.
Fortaleza é uma mina de ouro para a companhia, mas não do jeito que gostaríamos.
Poucos voos, voos lotados, preços altos e a resistência ao aumento de voos. Juntam-se a todos aqueles motivos, o propalado argumento de que faltam aeronaves no mundo para o aumento de operações. Fortaleza não é e nem pode ser prioridade agora.
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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.