O presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, é um gestor de primeira linha. Isso não precisa ser comprovado com argumentos. Bastam as conquistas que vem empilhando pelo Tricolor de Aço.
Mas com o devido respeito, gostaria de contrapor uma ideia que ele utilizou dentro do seu esclarecimento sobre a polêmica da presença, sem vacina, da deputada federal Carla Zambelli (PSL) na partida Fortaleza X Sousa, disputada domingo (30), na Arena Castelão.
Não vou entrar no mérito do caso. Confira o noticiário do caderno Jogada para entender todos os detalhes e as possíveis explicações para o ocorrido, mas um ponto específico da fala de Marcelo Paz me chamou atenção.
Ele disse que o Fortaleza não vai virar palanque político. De fato, não ocorreu, nem deve ocorrer que um político discurse no Estádio Alcides Santos ou dê entrevista coletiva no clube de forma literal, mas tendo a discordar que o Fortaleza (ou qualquer outro time de futebol) esteja imune a ser envolvido em ações políticas intencionais ou não intencionais, dentro ou fora do clube.
🇫🇷 Marcelo Paz, presidente do Fortaleza, se pronuncia sobre a polêmica envolvendo a deputada bolsonarista Carla Zambelli, que não se vacinou contra a Covid-19 e esteve domingo, na Arena Castelão, para assistir jogo do clube. pic.twitter.com/XGlVC2QkP2
— Jogada (@diariojogada) February 1, 2022
É que num mundo carregado de significados que vivemos, todos os detalhes importam, influenciam, fazem a diferença. O Fortaleza é uma paixão na vida de milhões de torcedores e tudo que gira em torno do clube, por mais sutil que seja, é assimilado e tem efeitos.
A história recente da política e do futebol cearense está aí para mostrar que intencionalmente ou não, explicitamente ou não, os ambientes político e esportivo se interagem e até se influenciam.
Da eleição de 2018, que Marcelo Paz cita em sua fala, saiu um senador da República com uma ligação direta com o Fortaleza Esporte Clube, o senador Eduardo Girão (Podemos).
O atual presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Evandro Leitão (PDT), tem forte história ligada ao Ceará Sporting Club, como um dos presidentes mais festejados do clube.
Fora do corpo diretivo, membros de torcidas organizadas, ex-jogadores e influenciadores do esporte tentam ingressar na carreira política com frequência ou trabalham em campanhas de políticos conhecidos, carregando toda a imagem e popularidade conquistadas em torno da instituição desportiva.
No caso da deputada Zambelli, o membro do conselho deliberativo do clube, Eduardo Salles, que segundo Paz a convidou para o estádio, é assessor dela. Ela também esteve na sede do Tricolor, no meio da semana, de onde gravou um vídeo para as suas redes sociais (veja foto acima).
Portanto, os clubes de futebol são envolvidos em interações políticas das quais é difícil negar. E também é fato que tais situações são difíceis de evitar, tendo em vista as ligações clubísticas e envolvimento histórico de alguns atores da política.
Contudo, é preciso maior cuidado. A repetição de eventos pode levar à institucionalização de determinadas posições ideológicas, que nem sempre representam o pensamento geral dos milhões de torcedores tricolores, repleta de posicionamentos distintos. O mesmo vale para o Ceará.
Tudo é política, especialmente em um mundo onde atenção e paixão são extensões de interesse e/ou exibições de poder.