A Cadeira dos Algoritmos: um trono para a violência e o consumo

O trono da sabedoria moderna distribui likes, seguidores e retweets, criando a ilusão de uma verdade absoluta

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Há quem diga que o caminho para o conhecimento é árduo e glorioso. No entanto, há uma cadeira – sim, uma simples cadeira – que nos poupa desse esforço cansativo. Ela não é uma cadeira qualquer; é o Trono dos Algoritmos, uma peça revolucionária, feita para aqueles que preferem relaxar enquanto o conhecimento, ou o que chamam de tal, vem até eles. Nada de bibliotecas, debates ou reflexões profundas. Sentar-se nesse trono é garantia de que o mundo será simplificado ao ponto de parecer, vejam só, fácil demais para ser verdade. E é claro que não é. 

Ah, o algoritmo! Esse gênio invisível que faz com que você, sentado no seu trono, não precise se preocupar com opiniões divergentes. “A mente humana é preguiçosa”, diria B. F. Skinner, e o algoritmo a entende muito bem. Ele sabe que é mais confortável receber uma série de informações que apenas confirmam o que você já pensa. Por que se dar ao trabalho de considerar outras perspectivas, não é mesmo? Se o algoritmo diz que você está certo, quem somos nós, pobres mortais, para questionar? 

E assim, a cadeira vai moldando nossa realidade. O trono da sabedoria moderna distribui likes, seguidores e retweets, criando a ilusão de uma verdade absoluta. Mas, na verdade, é a ciência da repetição que está em jogo aqui, uma técnica tão antiga quanto os sermões gregos. “Uma mentira contada mil vezes torna-se verdade”, disse Goebbels, mas em nosso cenário, não precisamos nem de mentira: basta um algoritmo que, de tanto reiterar uma visão de mundo, transforma seus usuários em crentes devotos de uma única realidade. 

Mas, que relação tem isso com a violência? Caro leitor, essa é a parte fascinante. Imagine um grupo de pessoas sentadas em suas confortáveis cadeiras-algoritmos, cada uma imersa em sua bolha de realidade. À medida que o tempo passa, suas visões de mundo tornam-se tão homogêneas e polarizadas que qualquer tentativa de furar a bolha é vista como uma ofensa pessoal.  

A psicologia chama isso de “viés de confirmação”. É uma característica linda da mente humana: buscamos informações que reforcem nossas crenças e rejeitamos violentamente aquelas que as desafiem. Então, é claro que a violência vem. Primeiro, nas redes sociais, onde as cadeiras permitem que você xingue confortavelmente do sofá. Depois, nas ruas, onde as cadeiras se transformam em barricadas invisíveis entre os "certos" e os "errados". 

O algoritmo, sempre pronto para servir, alimenta essa animosidade com mais do mesmo. E o mercado? Ah, o mercado! Ele adora essa massa uniforme de pensadores monocromáticos. Philip Kotler já ensinava que "o comportamento do consumidor é influenciado pela cultura". O que ele talvez não tenha previsto é que o algoritmo se tornaria a cultura. Uma vez que os consumidores estão perfeitamente alinhados em suas cadeiras, não há esforço para vendê-los. Quer comprar um produto da marca X? Claro que sim! Todos na sua bolha estão comprando. E quem ousaria questionar a qualidade do produto, ou, mais ironicamente, o caráter duvidoso do influenciador que o promove? 

A cadeira é confortável demais para que você se levante. Daniel Kahneman, autor de “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar”, explica que a mente humana prefere atalhos – o que ele chama de “heurísticas”. E o algoritmo, um mestre em heurísticas, sabe como guiar você, sentado em seu trono, pelo caminho mais fácil: o caminho que exige menos reflexão, menos dúvida, menos desconforto. E, ao fim dessa jornada, o que temos? Uma massa de consumidores passivos, fiéis às marcas e aos influenciadores que o algoritmo escolheu por eles, prontos para qualquer tipo de comportamento que reforce sua bolha. 

A ironia cruel é que, enquanto estamos sentados confortavelmente nessa cadeira, acreditamos estar no controle. "Eu sei o que quero", você pensa. "Sou crítico, sou independente." Mas será mesmo? Será que não somos apenas mais uma peça em um grande tabuleiro de manipulação, onde o conhecimento é diluído em memes e o comportamento de consumo é determinado pela última tendência de marketing digital? 

A cadeira, meu caro leitor, é mais poderosa do que parece. Ela não é apenas um assento. Ela é o trono de uma nova era de controle, na qual a violência se espalha silenciosamente por meio de likes e dislikes, onde o conhecimento é domesticado por algoritmos, e onde o mercado, sempre astuto, usa essa massa homogênea de consumidores para lucrar em cima de suas certezas. 

E você, já está confortável na sua cadeira? Ou prefere jogar ela longe e começar a pensar por si? Aaaah, é óbvio, mas convém falar que você jamais deverá jogar a cadeira no coleguinha, pois, se a mira é o oponente, você já virou a própria cadeira: facilmente manipulável, onde todos podem sentar em você.