Transnordestina: agora há muita confiança, otimismo e... desconfiança

Renovada promessa do presidente da Transnordestina Logística, Tufi Daher Filho, de que a obra estará pronta em 2027 entusiasma alguns empresários, mas outros duvidam da engenharia financeira

Diante da ênfase e da segurança com que está falando Tufi Daher Filho, presidente da Transnordestina Logística (TLSA), sobre o cumprimento de sua promessa, feita em abril passado ao presidente Lula, segundo a qual a maior estrada de ferro da região Nordeste estará concluída e em operação em 2027 – ou seja, daqui três anos – empresários cearenses, ouvidos ontem pela coluna, manifestaram-se otimistas e confiantes, alguns, e mais desconfiados, outros.

Daher disse à coluna que, até o fim de 2025 – véspera de um ano de eleição ou reeleição presidencial – os primeiros trens de carga da Ferrovia Transnordestina circularão entre Paes Landim, no Sudeste do Piauí, e Quixadá, no Sertão Central do Ceará. Esta já é uma excelente notícia.

Mas o presidente da TLSA não se entusiasma pela metade. Ele reafirmou 100% da promessa de que até, dezembro de 2027, toda a infraestrutura da ferrovia (pontes, viadutos, túneis e sistema de drenagem) e ainda toda a linha permanente (dormentes, trilhos e sinalização) estarão também concluídas e em operação naquele ano. Falta pouco tempo.

Tufi não disse, mas esta coluna o faz: o que pode atrasar esse cronograma é a liberação de recursos do FDNE – Fundo de Desenvolvimento do Nordeste, algo em torno de R$ 1 bilhão. Essa liberação é a parte que cabe ao governo, sócio minoritário do empreendimento por meio de fundos públicos.

É exatamente aqui, neste ponto que diz respeito aos recursos financeiros necessários à continuidade acelerada das obras da ferrovia, que se instalou a preocupação no empresariado. Ouvido ontem por esta coluna, um industrial da construção pesada, pedindo e obtendo o anonimato por óbvios motivos, comentou que a Transnordestina é um vultoso empreendimento, um dos maiores em execução no país na área da infraestrutura.

“Estamos tratando de um projeto que mistura recursos privados e dinheiro público oriundo de fundos como o FDNE e o Finor. Ora, o lado privado, o grande investidor, só investe se tiver a certeza, e na mão, da contrapartida dos recursos públicos, cuja liberação depende de providências burocráticas que são demoradas, mesmo tendo o governo, neste caso, todo o interesse de ver logo concluída essa estrada de ferro. A TLSA fala na liberação de R$ 1 bilhão do FDNE. É muito dinheiro. Numa fase de aperto por que passa o governo, será uma façanha e tanto obter a liberação, de uma só vez, desse bilionário recurso”, analisou o industrial, para quem essa dificuldade poderá atrasar a execução do cronograma da obra.

Iniciadas em 2006, a Ferrovia Transnordestina é um dos grandes sonhos da população nordestina, principalmente do setor produtivo da região. Já se passaram 18 anos e essa obra ainda não terminou. Nesse mesmo período, a China construiu milhares de quilômetros de ferrovias energizadas, de bitola larga e dupla linha (indo e voltando), que hoje transportam passageiros e carga em alta velocidade.

Na China, os trens circulam a mais de 300 km por hora – um trem da TLSA leva dois dias de Pecém a São Luís do Maranhão.

“Mas isso vai mudar com a Transnordestina, que será uma estrada de ferro moderna, com padrão internacional, com locomotivas e vagões também modernos e tecnologicamente atualizados, embora limitados a uma velocidade de não mais de 80 quilômetros por hora, o que já será um ganho extraordinário, tendo em vista que, hoje, o transporte ferroviário disponível na região Nordeste é franciscano e preguiçoso, para dizer o mínimo” – afirma o mesmo empresário da construção pesada, que torce “para que 2027 chegue antes de 2026 “.

A propósito: o sócio e diretor de uma grande empresa cearense da área de logística disse ontem à coluna que está “com a pulga atrás da orelha” em relação ao anunciado projeto de instalação de um porto seco em Quixeramobim, para aproveitar a próxima operação da Ferrovia Transnordestina, em 2027.

Na sua opinião, esse empreendimento, o porto seco, se não for bem esclarecido em seus objetivos, poderá transformar-se em mais um elefante branco construído à custa de financiamento subsidiado, concedido por bancos públicos.

“Onde há fumaça, há fogo”, advertiu ele.