Em mensagem a esta coluna, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informa que tem participado ativamente das discussões em torno do Real Digital desde o início dos trabalhos técnicos do projeto junto ao Banco Central. E adianta que criou um novo grupo de trabalho para contribuir com o regulador para o início do desenvolvimento do projeto-piloto, que começa neste mês.
Inicialmente, participarão cerca de 15 representantes de bancos associados que focarão seus debates técnicos em questões como segurança, resiliência, interoperabilidade e escalabilidade da moeda digital.
No último dia 6 de março, o BC anunciou o calendário de testes para implementação do projeto-piloto do Real Digital, que foi batizado de Piloto RD, e detalhou as diretrizes do projeto. O objetivo é concluir a parte de testes até dezembro deste ano. Até março de 2024, serão feitas as avaliações.
Resolvidas as questões principais de segurança, de funcionamento da infraestrutura e de privacidade das informações, com previsão até o fim de 2024, será a vez de começar a participação da população.
O Real Digital é uma CBDC (moeda digital emitida por um Banco Central, na sigla em inglês). O projeto permitirá, por exemplo, que o cliente peça ao seu banco a geração de um token (ativo digital) de um depósito bancário, de qualquer valor. Esse token poderá ter valor parcial ou integral do montante que o cliente tenha na instituição financeira. Com isso, poderá pegar esse token e fazer transações financeiras fora do horário comercial e nos finais de semana, como comprar um título público.
“Em um primeiro momento, o real digital provavelmente terá mais aplicabilidade para a pessoa jurídica. Não será utilizado em larga escala por pessoas físicas. O mercado ainda vai desenvolver-se. O que estamos construindo é uma infraestrutura que permita a tokenização desses depósitos. E, a partir daí, você abre um leque de oportunidades para outros produtos e serviços no sistema financeiro”, avalia Leandro Vilain, diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Febraban.
O diretor explica que o projeto estará embasado em uma plataforma de blockchain - uma inovação em tecnologia da informação que, usando criptografia, permite criar registros, sem controle centralizado, encadeados e dependentes entre si (não há como alterar um registro sem modificar todas a cadeia de informações). Essa capacidade permite operações mais eficientes e seguras no sistema bancário.
“Se você pensar em uma transferência bancária simples, o Pix já supre essa necessidade. A questão é que a tecnologia em blockchain abre um portal para outras transações mais complexas que chamamos tecnicamente de DvP, que só se concretizam mediante a entrega de um serviço - você reserva um pagamento, mas só se efetiva quando o serviço da contraparte estiver feito”, destaca o diretor.
Desde 2018, a Febraban começou a coordenar grupos de trabalhos para a melhor compreensão do uso do blockchain para transações financeiras e os bancos passaram a aplicar estas tecnologias em casos específicos de uso. E em 2021, a Federação começou a avaliar os diferentes casos de uso do Real Digital.
No ano passado, a Febraban também participou do Lift Challenge, projeto do Banco Central que reuniu participantes do mercado financeiro para avaliar casos de uso da moeda digital.
A Federação apresentou um projeto de DvP direcionado a grandes transações no atacado. Nele, o dinheiro da transação sai da conta do pagador e permanece “em ambiente de blockchain” até que os negócios sejam efetivamente concluídos. A liquidação financeira só ocorre após a concretização de um evento no mundo real - neste exemplo a entrega do ativo financeiro.
“A tokenização da economia pode significar uma mudança muito significativa para o sistema financeiro, porque o cliente sai de um mundo onde está acostumado a ter dinheiro numa conta corrente e passa a ter dinheiro num token ou numa representação digital. Será uma mega inovação para o sistema financeiro, transformacional”, conclui Vilain.