Deputados precisam conhecer melhor o agro e a indústria do Ceará

Maioria dos parlamentares federais e estaduais desconhece os avanços da economia primária e secundária do estado. A culpa também é das entidades empresariais.

Há um antigo problema de comunicação entre o setor produtivo e a maioria dos parlamentares federais e estaduais do Ceará. Esta coluna já testemunhou, em várias oportunidades, a ignorância total de alguns desses parlamentares – homens e mulheres – em relação à atividade da indústria e da agropecuária cearenses.
 
Eles sabem quase nada sobre o que produz a siderúrgica do Pecém e menos ainda a respeito do seu dono, o gigantesco grupo indiano ArcelorMittal, um dos três maiores do mundo no setor; também conhecem, só por ouvir falar, a brasileira Aerys e a dinamarquesa Vestas – aquela é uma fábrica de pás eólicas no Pecém, enquanto esta é a maior do mundo na produção de turbinas de geração eólica, com unidade industrial localizada em Aquiraz, onde produz a VC-150, uma turbina com potência de 4.2 MW.

Ignoram, também, o avanço da tecnologia da cultura protegida, sob cujas estufas abrigam-se e dilatam-se, na Serra da Ibiapaba,  grandes empresas locais e nacionais, que cultivam e vendem para todo o país diferentes hortifrutis, incluindo tomates de todas as variedades e até pimentões coloridos, tudo com alta tecnologia importada.

Nossos parlamentares – com raras exceções contadas nos dedos das mãos – ainda não perceberam a revolução que está a acontecer na Chapada do Apodi, onde a agricultura irrigada trouxe de volta, com tecnologia da Embrapa, a cotonicultura e já inaugurou a fase da sojicultura, tudo de forma mecanizada e tudo bancado pelo investimento privado, algo que chegará, nos próximos meses, à Chapada do Araripe, onde os grandes produtores do Mato Grosso já investem na compra de boas terras. 

Por que esse pouco conhecimento dos deputados cearenses a respeito do que estão fazendo e ainda farão agropecuaristas e industriais do Ceará? 

Há várias respostas, e a que surge de modo repentino não surpreende: é por puro desinteresse. 

Houve um tempo em que o Parlamento estadual do Ceará foi uma casa de parlamentares bem-informados sobre a sua economia, a respeito da qual emitiam, de sua tribuna, em apurados discursos, suas opiniões e sugestões.

Muitos deles eram cultos, liam os clássicos e seus pronunciamentos davam gosto de ouvir, e este colunista, ouvinte atento, recorda bons oradores como Almir Pinto, Barros dos Santos, Fernando Melo, Pontes Neto, Paes de Andrade, Flávio Marcílio, José Martins Rodrigues, Parsifal Barroso, Plácido Castelo, Figueiredo Correia, Dorian Sampaio, Themístocles de Castro e Silva e Mauro Benevides – todos eles se expressavam de modo erudito e rigorosamente obedientes às formas gramaticais. Sabiam tudo sobre a indústria, ainda incipiente naquele tempo, e sobre a agricultura, que era apenas de subsistência.

Quando a Federação das Indústrias (Fiec) promove eventos – e isto acontece quase semanalmente – para o debate de temas ligados às energia renováveis, à produção do Hidrogênio Verde e à expansão do Porto do Pecém e de seu complexo industrial, a presença de parlamentares federais é muito discreta; a dos estaduais é mais discreta ainda, o que deixa triste quem, como o editor desta coluna, moureja para tornar positiva, agradável e rica a informação que, por dever de ofício, tem de transmitir aos seus leitores e teleouvintes.

O presidente do Legislativo estadual cearense, Evandro Leitão, e o também deputado estadual e agora secretário do Desenvolvimento Econômico, Salmito Filho, são, digamos assim, algumas das poucas exceções que, na Assembleia Legislativa cearense, põem luz no espaço político, pelo qual caminham os projetos de interesse da economia do Ceará. 

No plano federal, o deputado Danilo Forte é outra exceção, e o seu talento está sendo, neste momento, emprestado ao esforço do Congresso Nacional de dar ordem legal e sensata à proposta do Orçamento Geral da União para 2024, do qual é o relator.

Mas sejamos justos: a culpa não é só dos parlamentares, mas também das entidades que congregam os agropecuaristas e os industriais, ou seja, a Faec e a Fiec. As duas entidades poderiam promover uma manhã de reunião com os parlamentares, apresentando-lhes o cenário atual da indústria, da agricultura e da pecuária estaduais.

A Fiec criou, desenvolveu e opera com sucesso o Observatório da Indústria, elogiado por autoridades e empresários nacionais e estrangeiros; a Faec, por sua vez, seguindo as mesmas pegadas, idealizou, instalou e opera, também com êxito, o seu Centro de Inteligência e Inovação do Agro Cearense (Ciagro).

Ambas são plataformas digitais com objetivos semelhantes: fornecer ao investidor todas as informações indispensáveis à tomada de decisão para o investimento. 

Os deputados federais e estaduais cearenses precisam, o quanto antes, conhecer essas duas inovadoras iniciativas, que, com toda a certeza, melhorarão bastante, e imediatamente, o seu conhecimento sobre a indústria e o agro do Ceará.