Cajucultura, uma atividade relegada ao abandono

O Brasil, que já foi o primeiro do mundo, é hoje só o oitavo maior produtor de castanha de caju. O líder mundial é a Costa do Marfim. E mais: 1) Vestas e Aeris prorrogam sua parceria; 2) Argentina chora!

Por que a cajucultura brasileira – a do Ceará bem no meio dela – é hoje só uma caricatura do que foi há 20 anos? O Brasil saiu da posição de primeiro do mundo para um lamentável oitavo lugar na lista dos 10 maiores produtores de caju. 

O líder, hoje, é o africano Costa do Marfim, cuja produção já chegou a 900 mil toneladas/ano de castanha de caju. Se for agregada a produção dos países do seu entorno – Benin, Guiné Bissau e Bourquina Faso, sem falar na Nigéria e no Togo – esse volume chega a 1,5 milhão de toneladas/ano.
 
Por que os brasileiros – os nordestinos, na verdade – perdemos o protagonismo da liderança mundial da cajucultura? – foi a pergunta que a coluna fez a um consultor da área, também impressionado “com o abandono a que foi relegada a produção de caju do Nordeste”. 

Eis sua resposta, emitida sob a condição do anonimato:

“Na Costa do Marfim, o governo não perdeu tempo com debates que levam a nada. Ele decidiu plantar e saiu distribuindo mudas de cajueiro anão aos produtores, buscando para eles uma renda mínima para o trabalhador rural. E aí surgiu o ‘cash crops’, que podemos traduzir como ‘safra de dinheiro’. Fizeram a mesma coisa os governos do Vietnã e do Camboja, na Ásia, e de Bourkina Faso e Guiné Bissau, na África. Tudo de forma extensiva. Os marfinenses, agora, têm receita de US$ 3 bilhões/ano só com a exportação da castanha de caju. Na Costa do Marfim, parte do interior do país transformou-se numa gigantesca floresta de cajueiro anão precoce, variedade cuja tecnologia foi criada aqui no Ceará pela Embrapa do saudoso João Pratagil, e já totalmente dominada por eles”.

Para o mesmo consultor, no Brasil “falta decisão, mas sobra discussão”, que envolve tudo, até ideologia partidária. “Na África, decidiu-se fazer, e foi feito”, ele comenta. 
 
“Não se perdeu tempo para discutir projeto, tipo de cultivar, genética ou coisa parecida. Decidiu-se plantar sem parar, e o resultado está aí, eles são líderes”, acrescenta o consultor.
 
No Piauí, acendeu uma luz de esperança: o governo estadual está investindo na produção e distribuição de mudas do cajueiro anão precoce, “e só isto já injetou entusiasmo aos produtores piauienses, que aderiram à novidade biotecnológica”, salienta o consultor, que revela preocupação com o prolongamento da estação das chuvas, algo que pode atrasar e reduzir a safra deste ano, que será colhida a partir do próximo mês de agosto. 

O que fazer para mudar o quadro atual? 

O consultor responde de pronto: 

“Nossa cajucultura necessita, com urgência, do apoio institucional dos governos dos estados produtores, como o Ceará, por exemplo. Aqui, essa atividade está paralisada por vários motivos, entre os quais a falta de interesse do governo e a carência de assistência técnica e de extensão rural, o que é lamentável porque a cajucultura gera emprego e renda no campo, valorizando o produtor. Há poucos extensionistas e poucos núcleos rurais capacitados para entregar a muda e dar a assistência técnica com dedicação exclusiva”. 

Ele continua: 

“No Nordeste, as verbas para a produção e distribuição de mudas caiu muito e ficamos estagnados em 130 mil toneladas de castanha/ano. Do meu ponto de vista técnico, precisamos, aqui, de uma atenção similar à que é dada pelo Ministério da Agricultura à cultura do cacau por meio da Seplac. E precisamos, também, de um líder altamente comprometido com essa transformação para atacarmos de frente – com mais mudas e mais extensão rural exclusiva e dedicada – os núcleos capacitados com gente jovem. Entristece-me ver todos os anos fábricas beneficiadoras brasileiras e de todas as nacionalidades indo processar no local onde a safra acontece, ou seja, lá na África, e o Ceará ficando também nessa rota, apesar de a castanha do caju estar sempre no topo da safra dos produtos agrícolas exportados pelo estado.”

O consultor conclui assim sua exposição: 

“Por fim, o Brasil tem séria miopia macroeconômica, um swing cambial nefasto e um juro básico colossal, que, na minha opinião, não são interessantes ao capital produtivo. Basta copiar o que dá certo mundo afora, e esperar para ver o milagre acontecer aqui também.”

E para encerrar, o consultor pôs uma pimenta no mercado nordestino da castanha de caju:

“Nenhuma empresa beneficiadora de castanha de caju no Nordeste, nenhuma, processa 100 mil toneladas/ano de amêndoa.” 

AERIS E VESTAS PRORROGAM PARCERIA

Foi aditivado o contrato da gigante multinacional dinamarquesa Vestas, maior fabricante mundial de turbinas de geração de energia eólica, com unidade industrial instalada e em operação em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza, com a brasileira Aeris, que fabrica pás eólicas no Complexo do Pecém.

O aditivo celebrado prorroga o prazo do atual contrato para 2024 e estende o prazo mínimo de fornecimento do modelo atual de pás até o fim de 2026.

Para 2025 e 2026, a Aeris poderá receber da Vestas um complemento de ordens de fornecimento de pás eólicas de múltiplos modelos que, combinado com o incremento de ordens de 2023 e 2024, representará uma capacidade equivalente a 7,3 gigawatts de potência, dependendo das vendas da Vestas.

As duas empresas têm uma parceria de mais de seis anos. A quantidade de pás eólicas entregues pela Aeris à Vestas soma hoje mais de 6,7 gigawatts de potência.

Por causa da assinatura desse aditivo, as ações da Aeris dispararam no pregão de ontem da Bolsa de Valores B3, alcançando valorização de 13,6%. 

ARGENTINA

Está faltando papel higiênico nos supermercados da Argentina. 

A economia do vizinho e rico país dá sinais de que entrou em parafuso.

Faltam dólares, cuja cotação foi para a estratosfera, e as importações desabam.

Eis o resultado do populismo kirchnerista.