João Soares Neto, empreendedor do Shopping Benfica, está em Buenos Aires e de lá manda mensagem a esta coluna, dizendo que está muito bem impressionado com o que se passa na economia da Argentina, cujo governo – liderado desde 10 de dezembro de 2023 por “um doido e desarrumado”, referindo-se ao presidente Javier Milei – segue impondo uma política de duríssimo ajuste fiscal, que já cortou em 30% os seus gastos.
A gestão do despenteado presidente argentino teve de enfrentar – e ainda enfrenta – a oposição peronista, as corporações do serviço público e do setor privado e, ainda, de parte da mídia.
O preço social desse arrocho – necessário para recolocar a grande nação do Sul nos trilhos do desenvolvimento – foi o aumento da pobreza: hoje, 52% da população da Argentina estão, digamos assim, sem comer sua picanha nacional, famosa e consumida em boa parte do mundo, mas esperançosos diante do que anunciou o presidente Milei em sua mensagem de Ano Novo de 2025: a partir de agora, “vamos começar a colher o que plantamos, e as coisas melhorarão”.
Para João Soares Neto – que é cônsul honorário do México em Fortaleza e nesta condição, por dever de ofício, procura estar bem-informado sobre o que ocorre em toda a América Latina – “o que se passa na Argentina é digno de estudos de especialistas em ciência econômica e de cientistas políticos, pois a economia e a política estão sendo profundamente transformadas aqui”.
Ele tem razão. Quando Milei tomou posse, a inflação argentina era de 25% ao mês – vale repetir, ao mês. Hoje, ela é de 3% com viés de baixa. O país tinha a fama de mau pagador e era rejeitado pelos investidores. Hoje, tem relações estreitas com o FMI, que já lhe concedeu dois financiamentos.
O peso argentino, desvalorizado e desmoralizado em dezembro de 2023, foi uma das moedas que mais se valorizaram no mundo em 2024 – mais do que o real brasileiro.
Sua Bolsa de Valores, igualmente, teve em 2024 uma valorização espetacular: o retorno do principal índice da bolsa argentina, o S&P Merval, em dólares, foi de 114,91%, enquanto o Ibovespa, que é o índice da bolsa brasileira, teve uma queda de 29,92% no mesmo período.
Para alcançar o estágio em que se encontra hoje – após pouco mais de um ano de gestão – o governo Milei peitou o peronismo e sua líder nacional, a ex-presidente Cristina Kirchner, condenada recentemente a seis anos de prisão por corrupção, sentença ratificada pela Suprema Corte. E encarou, também, a oposição do ex-presidente Alberto Fernandez, acusado formalmente pela Justiça de agredir sua esposa, de quem se divorciou.
Os grandes sindicatos de trabalhadores da Argentina, incluindo os dos servidores públicos, foram às ruas para protestar contra as medidas austeras do governo Milei, mas essas manifestações malograram: as medidas de redução dos gastos públicos prosseguiram e seguem sendo impostas com o inacreditável apoio do Parlamento, onde o governo não tem maioria.
Pelo que está observando em Buenos Aires, o empresário e intelectual João Soares Neto assinala que, neste momento, ainda não surgiu na oposição um nome forte para impedir a reeleição de Milei em 2027.
Seu partido, o Liberdade Avança, que tinha, em 2023, três deputados e nenhum senador, tem hoje 39 dos 257 deputados e 7 dos 72 senadores, “devendo ampliar essa bancada no pleito de outubro de 2027”, como prognostica João Soares Neto.
Nesta semana, aconteceu a primeira privatização na Argentina sob o governo Milei. A estatal Impsa, grande empresa de metalurgia do país, teve a maioria do seu capital transferida para a norte-americana ARC Energy. O ministro da Economia, Luís Caputo, disse que a decisão de privatizar a Impsa “está de acordo com o objetivo de déficit zero’ e de não alocação de recursos federais para empresas privadas, abrindo a possibilidade de a empresa continuar sua atividade de forma saudável dentro de uma estrutura de economia de mercado”. Simples assim.
Na observação de João Soares Neto, que retornará no fim de semana a Fortaleza, “o Estado existe para, em troca dos tributos recolhidos dos contribuintes, devolver, em contrapartida, serviços públicos de boa qualidade, e isto só é possível com um aparelho estatal enxuto e forte, moderno e necessário para atender às demandas da população”.
Ele conclui: “É neste sentido que agem o presidente libertário Javier Milei e o seu governo, transmitindo bom exemplo aos demais países sulamericanos”.