A água e o trem estão atrasados, mas o Ceará tem sorte

Com o Ramal do Salgado, o estado ganhará uma condição especial: terá duas entradas para as águas do S. Francisco. O trem e a água chegarão juntos em 2027. É a promessa (mais uma) de Lula

Noves fora os problemas que atormentam o PT cearense, onde todos brigam e ninguém tem razão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva baixou ontem em Iguatu, capital do Centro-Sul do Ceará, trazendo um sorriso no rosto e a vontade de massagear o ego dos cearenses, principalmente os ligados à atividade agropecuária. Ele o fez. 

Assinou, sob o testemunho do governador Elmano de Freitas e do seu ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Goes, a tão sonhada Ordem de Serviço para o início da construção do Ramal do Salgado, um canal de pouco mais de 30 quilômetros de extensão, quase todo a céu aberto (há um trecho que será vencido por meio de um sifão) que reduzirá em 150 quilômetros a viagem das águas do rio São Francisco até o açude Castanhão. Obra que, a preço de hoje – de hoje, vale repetir – custará R$ 600 milhões. 

Sua construção demorará três ano ou 36 meses. É muito tempo para a execução de um projeto hídrico para o qual a engenharia brasileira tem expertise – é só reler a crônica do Canal do Trabalhador, que, com 90 quilômetros, foi feito em apenas 90 dias, em 1993, na gestão do então governador Ciro Gomes.

Antes de pousar em Iguatu, a aeronave presidencial sobrevoou as obras de implantação da infraestrutura da Transnordestina, a estrada de ferro que há mais de 10 anos a iniciativa privada constrói para ligar o Sudeste do Piauí – onde explode a agricultura empresarial – aos portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco. 

Essa ferrovia transportará a produção agrícola, industrial e mineral do Piauí, Ceará, Bahia e Pernambuco. Mas, até que seja concluída e entre em operação, a Transnordestina – um caminho de ferro de bitola larga – absorverá investimentos públicos e privados da ordem de quase R$ 8 bilhões. O prazo para a sua conclusão é o ano de 2027.

O Ramal do Salgado, por sua vez, representará a segurança hídrica para as populações das cidades da região do Baixo Jaguaribe, onde prosperam um polo de cotonicultura, outro de fruticultura e outro de pecuária leiteira, todos na mesma área geográfica onde funciona a pleno duas grandes indústrias cimenteiras – uma das quais a Apodi, fruto da sociedade meio a meio da família cearense Dias Branco com a gigante grega Titan.

Há uma otimista expectativa dos agentes econômicos em torno desse que é o derradeiro trecho do Projeto de Integração do Rio São Francisco às Bacias do Nordeste Setentrional. 

Com água na porta – o Castanhão – será possível assegurar o abastecimento humano e a dessedentação animal do vale Jaguaribe e, ao mesmo tempo, garantir o insumo à atividade econômica da área, o que significará a manutenção de milhares de empregos formais no campo.

Haverá, também, a certeza de que a população humana e as atividades econômicas de Fortaleza e das cidades de sua Região Metropolitana terá água em eventuais casos de colapso do sistema de açudes que abastecem a região.

Com o Ramal do Salgado, o Ceará ganhará uma condição especial única, pois disporá de duas entradas para as águas do São Francisco, as quais poderão ter destinos diferentes. A barragem do Jati, no extremo Sul do Estado, continuará recebendo águas do S. Francisco bombeadas pela Estação Elevatória de Salgueiro (PE), despejando-as no Cinturão das Águas do Ceará (CAC), empreendimento do Governo do Estado, que as utilizará conforme suas necessidades estratégicas. 

Agora, a outra entrada: para garantir águas para o Baixo Jaguaribe e para a Região Metropolitana de Fortaleza, o governo Lula construirá o Ramal do Salgado, partindo de uma bifurcação com o Ramal do Apodi. 

Quem imaginou o Ramal do Salgado é um gênio; quem imaginou o do Apodi é outro. Falta, agora, que também sejam geniais as autoridades responsáveis pelos recursos hídricos do Ceará.  Com um bom inverno, com todos os seus açudes públicos e privados cheios, o volume de água represado em todo o Estado chega à fantástica marca de quase 19 bilhões de m³. Um presente dos céus viabilizado pela engenharia.

Administrar esse oceano de água doce – 100% estocados na superfície – é tarefa para inteligências privilegiadas, e a Secretaria de Recursos Hídricos, a SRH, as tem, e o engenheiro Ramon Rodrigues é uma delas.  Sem se falar nos brilhantes consultores, entre os quais pode ser citado o engenheiro Hypérides Macedo, que conhece de cor e salteado todas as bacias hidrográficas brasileiras. 

Resumo: o Ceará está com sorte.