Não é apenas a duvidosa qualidade técnica da seleção do técnico Tite que instila desconfiança na veia do brasileiro, que, neste momento de graves expectativas quanto à Copa do Catar, também se preocupa, crescentemente, com as incertezas do próximo governo do eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja posse se dará daqui a 26 dias.
Não se duvida de suas boas e claras intenções na área social. As dúvidas pairam sobre como Lula e sua ainda desconhecida equipe econômica pretendem cumprir as promessas feitas durante a campanha que o elegeu sem pôr em risco a estabilidade fiscal a duras penas alcançada desde o governo Michel Temer. Lula prometeu mais do que permite o já apertado Orçamento Geral da União. O que fazer?
Desde 2014, o governo brasileiro vem gastando mais do que arrecada, produzindo um déficit primário por enquanto bem suportado pela emissão de títulos, cujos juros estão passando dos 14% ao ano.
A relação dívida-PIB, depois de chegar a 89% em outubro de 2020, auge da pandemia, é hoje é de 77,1%, segundo divulgou o Banco Central no dia 31 outubro passado. Estimativas dos economistas indicam que, se o Congresso Nacional aprovar a PEC com o pacote de promessas de Lula, essa relação chegará rapidamente aos 90%. Consequência: mais desarranjo fiscal, mais dívida, mais inflação. Quem quiser saber o que isso significará, é só visitar os sites dos jornais da Argentina, onde a inflação é de quase 100%.
Este é o cenário econômico e financeiro, com repercussão social, que se desenha no plano federal.
No plano estadual do Ceará, todavia, a perspectiva é otimista: o eleito governador Elmano Freitas tem surpreendido o estamento da política e o universo do empresariado industrial, agropecuário e comercial com decisões que sinalizam sua intenção de dar correta sequência à severidade com que, desde 1987, são administradas as contas do governo.
“Aqui, gasta-se apenas o que se arrecada”, como diz e repete a secretária da Fazenda, Fernanda Pacobahyba, a ser preservada no cargo por feliz e antecipada decisão do futuro governador.
Ao indicar na semana passada, com o aval da atual governadora Izolda Cela, somente nomes técnicos para compor a diretoria da CIPP S/A, empresa que administra o Complexo Industrial e Portuário do Pecém e a ZPE Ceará, Elmano Freitas mandou positivo sinal ao setor produtivo, que poderá ter, nos próximos dias, outra boa notícia: a indicação de um nome reconhecidamente competente para o comando da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), pela qual transitam todos os assuntos ligados ao Hub do Hidrogênio Verde do Pecém e à geração de energias renováveis.
Como esta coluna já adiantou, há dois nomes na corrida pela Sedet – o do deputado estadual Salmito Filho, com sólida formação acadêmica na área econômica, e o do economista Célio Fernando Bezerra Mello, hoje secretário Executivo de Inovação da Casa Civil do Palácio da Abolição.
Mas um terceiro nome, também com as mesmas credenciais, poderá ser o escolhido, o que leva o empresariado a apostar nas reiteradas falas de Elmano Freitas, que promete ser “governador de todos os cearenses”, inclusive dos que não votaram nele. É assim que se passa na democracia.
E que projetos serão prioritários na gestão de Elmano Freitas?
Fora os da área social, que desde a origem já fazem parte da carteira de prioridades de sua próxima gestão, o governador eleito já listou, em encontros com líderes da produção, o Hub do H2V; o já licitado Ramal do Salgado, último trecho do Projeto São Francisco de Integração de Bacias, que reduzirá em 100 km a viagem das águas do Velho Chico até a barragem do Castanhão.
Há mais, ainda:
O redesenhado Arco Metropolitano, estrada de pista singela mas de padrão Dnit que ligará a BR-116 em Pacajus até o Porto do Pecém; a conclusão da duplicação do IV Anel Viário de Fortaleza; a nova ampliação do Porto do Pecém, vital para o Hub do H2V e para a instalação dos parques de geração de energia eólica offshore no litoral norte do Ceará; a aceleração dos projetos de inovação na área da C&T, para o que a comunidade científica já está sendo convocada; e infraestrutura de logística capaz de consolidar o Ceará como polo nacional de fruticultura e de permitir o ressurgimento da cotonicultura, algo que avança em alta velocidade na Chapada do Apodi e em terras do Cariri.
Hoje, se há dúvidas federais, há, porém, boas esperanças estaduais no Ceará.