O vestido estava desconfortável, lembra Jaiana. E Pedro, apesar da responsabilidade, mantinha a calma. São flashes de 24 de setembro de 2005, quando os dois primos de quarto grau, ainda crianças, foram daminha e pajem no casamento de familiares. Nunca imaginariam que, 18 anos depois, a história faria curva e redesenharia a rota do amor.
Para entender esse percurso no qual surpresas e coincidências andam de mãos dadas – tal qual o casal faz hoje por onde quer que vá – é preciso voltar aos primeiros instantes. Pedro e Jaiana são da mesma família materna. A avó dela é irmã da bisavó dele. Criados juntos, sempre foram de se ver, brincar de pique-esconde, correr na largura dos terreiros.
Havia cumplicidade. Mais ainda: havia carinho, aquela alegria inveterada e pura que só a infância consegue ter. Em reuniões tradicionais, marcavam presença e gostavam da companhia um do outro. Celebravam aniversários, faziam coro aos outros primos. O Conjunto Esperança, em Fortaleza, residência do núcleo familiar, tornava-se, pouco a pouco, reduto de memórias luminosas e coloridas.
Até que houve aquele convite feito pelos parentes Onésio e Gláucia para que as crianças entrassem com as alianças no casamento deles. Os pequenos toparam, claro. Pedro com 10 anos, Jaiana com oito. E lá foram eles, de vestido desconfortável e tranquilidade aparente. Saíram em fotografia capaz de selar História com “h” maiúsculo. Um dia especial.
Mas as coisas mudaram depois dali. A adolescência chegou. Cada um seguiu o próprio rumo sem aquela proximidade de outrora. Conheceram outras pessoas, habitaram outros lugares. Foram felizes. Começaram a atinar para o futuro, sobre o que gostariam de ser agora que estavam maiores, crescidos. Período necessário, de amadurecimento total.
O amor só entrou na trilha de novo quando a bisavó de Pedro faleceu. Triste, o enlutado encontrou consolo em Jaiana. Ela chegou perto e, mais que falar palavras de força, trocou abraço e se disponibilizou a estar mais junto. Pedro até já tinha superado a fase inicial do luto, mas não quis que Jaiana desaparecesse. Convidou-a para ir ao cinema.
Depois para outros encontros – contatos pequenos, mas muito divertidos. Movimento de re-conexão. “Eu ia para viver aquelas experiências, e, como já o conhecia há muito tempo, sempre me senti muito confortável”, conta Jaiana.
“Mas, de minha parte, nosso namoro foi construído, não foi tão ‘de cara’. Ele era uma pessoa que eu já conhecia, que tinha muito carinho, mas esse amor romântico foi sendo erguido ao longo dos primeiros meses do nosso relacionamento”. Da parte de Pedro, porém, já havia atração por Jaiana. Os próximos passos foram no intuito de encantá-la.
E ele conseguiu. Juntos conseguiram. Oito anos de namoro para que, em 26 de outubro de 2023, casassem no civil, e exatamente três meses depois, em 26 de janeiro deste ano, numa cerimônia conduzida pela celebrante Sarah Coelho – por onde essa história chegou até nós – selassem oficialmente a união. Não se furtaram a reproduzir a clássica foto de daminha e pajem. Agora era diferente: caminhar até o altar e lá ficar. Noiva e noivo.
Quem foram daminha e pajem no dia? Isso mesmo, Onésio e Gláucia – aqueles que os convidaram para estarem juntos casamento deles e que, de alguma forma, inauguraram pacto bonito com o destino. A aliança resplandecendo nas mãos do casal veterano. O outro par de anéis ali, a metros de distância de quem iniciava a vida a dois.
Vida que, de fato, é todo dia, na leveza e na peleja. Como esquecer a vez em que uma ventania quase destruiu o escritório da Jaiana? E o primeiro almoço na casa nova – galeto servido em cima do colchão? Gargalham alto ao voltar no tempo e perceber que já fará um ano desde que tomaram a decisão de dividir teto e estender cumplicidade.
Pergunte a Pedro quem é Jaiana. Ele dirá que o cabelo dela começa liso e termina cacheado. Que ela adora usar coque e tem uma covinha na bochecha esquerda capaz de ressaltar a simpatia. Sente-se à vontade ao lado dela porque a esposa proporciona um ambiente difícil de ele sentir com qualquer outra pessoa. Jaiana estica os caminhos.
Para ela, Pedro é extremamente calmo, prático, atencioso. Tem o abraço mais poderoso do mundo, capaz de dissipar o que é pesado e fortificar o que é suave. Por vezes, é mais atento a ela do que a ele mesmo, e isso diz muito sobre a serenidade que provoca em quem escolheu passar a vida acordando todos os dias ao lado.
“Acho que amor é algo que precisa ser construído aos poucos, com bastante paciência, confiança e sacrifícios. E, por mais que haja esses sacrifícios, o amor pode superar qualquer barreira para acontecer”, diz Pedro de um lado.
“Amor também é intencionalidade porque está dentro de algo muito mais amplo. Não basta só ele para manter um relacionamento. Não é só o sentimento. Amor é construção com finalidade. É como colocar cada tijolo numa casa”, diz Jaiana do outro, antecipando o desejo de colocar mais um CPF no mundo e seguir erguendo castelos para a emoção.
Pouca gente diz que essa nossa passagem pela Terra é assombro atrás de assombro. E que a maioria não está sequer imaginado. Não cabe na rota, no mapa. Tem a ver com abrir o coração. Olhar para alguém e perceber as covinhas. Enfurnar-se em braços capazes de curar. Permitir que vestidos sejam desconfortáveis. Apontar flechas para o futuro.
*Esta é a história de amor de Jaiana Cândido e Pedro Gonçalves. Envie sua história de amor para diego.barbosa@svm.com.br. Qualquer que seja a história e o amor