O que é transição de carreira e como fazê-la sem equívocos

Entenda, na prática, quais os cuidados que você precisa ter para uma transição de carreira “pé no chão”. É isso mesmo. Você não leu errado. Muitos “gurus” apresentam esse processo de uma maneira muito simplista, mas, na verdade, essa decisão e a forma como ela é tomada podem afetar significativamente a sua vida. Positivamente ou não! Vamos entender?

O que é transição de carreira

Transição de carreira é um movimento durante o qual um profissional muda a sua área de atuação ou o seu posicionamento atual. 

Esse processo nem sempre é uma escolha que acontece quando tudo está bem. Às vezes, essa decisão vem à tona quando o profissional está insatisfeito com a atividade atual; inseguro com relação às mudanças do mercado de trabalho; com dificuldades de evoluir na carreira atual; almejando desenvolver novas habilidades; sem perspectiva de crescimento na empresa; ou por outros fatores que não necessariamente estão sob o seu controle. Geralmente, o motivo tem camadas mais profundas a serem compreendidas. 

O que as pesquisas apontam?

Em 2022, ministrei cinco turmas da disciplina Autodescoberta e Gestão de Carreira na Pós-graduação da Universidade de Fortaleza. No início de cada turma, apliquei uma pesquisa sobre o status de carreira dos participantes e o estudo contou com a participação de 331 respondentes.

Destes, 12% estão em processo de transição de carreira; 34% estão insatisfeitos com seus respectivos trabalhos; 31% estão investindo em aperfeiçoamento profissional; e o mais preocupante, 30% não têm o hábito de planejar a carreira. 

Uma pesquisa mais recente, realizada em novembro de 2022 pela plataforma Empregos.com.br, ouviu 517 trabalhadores. O resultado mostrou que três em cada quatro profissionais (77,2%) pretendem mudar de emprego em 2023.

O principal motivo é a insatisfação com seus trabalhos atuais, a qual atinge 81,1% dos entrevistados. O estudo mostra ainda que 70% dos profissionais almejam melhores salários no mercado de trabalho; 22,4% consideram importantes os benefícios concedidos pelos potenciais empregadores; e 7,5% acham importante que a vaga possibilite o home office.

A insatisfação profissional de Anna

Lembro-me de uma aluna que atendi na Pós-Unifor em uma sessão de mentoria de carreira. Ela é advogada e tinha ingressado em um MBA na mesma área. Fiz uma série de indagações sobre o motivo de sua escolha:
- Por que você escolheu esse MBA, Anna? 
- Porque foi a escolha mais óbvia para o que faço hoje, professora! 
- Mas, qual o seu sonho, Anna? 

Nesse momento Anna ficou com os olhos cheios de lágrimas e demorou a responder....

- Professora, na verdade sempre sonhei em atuar como psicóloga. Mas, minha família toda é composta por advogados. Não posso cogitar trilhar outro caminho. Meu noivo disse que, se eu quisesse, ele pagaria a minha graduação em Psicologia, mas desisto só de pensar no transtorno que isso causaria. 
- Anna, como você se vê em cinco anos, seguindo a carreira de advogada? É o que você realmente quer? 
- Não, professora! Um dia terei coragem para cursar Psicologia....

Depois de um tempo em silêncio, Anna perguntou o que deveria fazer quanto a isso. Conversamos longamente sobre as perdas e ganhos que envolviam a sua tomada de decisão e, depois de quase duas horas, nos despedimos. 

Seis meses depois, recebi uma mensagem de Anna, compartilhando que tinha conversado com os seus pais e feito a sua matrícula no curso de Psicologia. Marcamos um café e foi maravilhoso vê-la. Ela estava radiante!

Comentou que seus pais estavam felizes com a sua felicidade e que, na verdade, eles não tinham noção de que ela desejava um caminho diferente. 

Principais equívocos com relação ao processo de transição

Para uma transição de carreira consciente, o profissional precisa ter clareza dos seus objetivos profissionais e entender que um processo como este requer planejamento e disciplina. 

Alguns erros são cometidos com frequência. São eles: 

1. Agir sob pressão do cenário atual 

Quando agimos sob pressão, por vezes, perdemos a racionalidade e a ação por impulso pode trazer arrependimentos. Quando o indivíduo está insatisfeito com o ambiente de trabalho e pensa em pedir demissão, por exemplo, é importante que investigue os porquês desse desejo e como essa decisão afetaria a sua vida. 

2. Não ter uma reserva financeira de emergência

Não podemos deixar de considerar possíveis problemas no caminho. Ter uma visão simplista demais do processo pode fazer com que o profissional enfrente uma situação de “precariedade”, consequentemente tenha urgência de se recolocar e, assim, tenha que aceitar a primeira proposta que surgir. 

3. Procurar uma profissão ou posição focando somente na alavancagem financeira

Pode haver um tempo em que essa escolha aconteça, mas precisa ser de maneira consciente e planejada. Sucesso financeiro é muito bom, mas é recomendado que seja consequência de um conjunto de talentos em movimento norteados por um propósito. Quando a decisão tem o dinheiro como foco principal e o profissional não está ciente de como isso impactará sua vida, muito provavelmente ficará insatisfeito com a carreira. 

4. Ter apego ao status/posição

Muitas vezes precisamos dar um passo para trás, focando uma evolução em médio prazo. Se o profissional tem apego aos cargos que ocupou e/ou à remuneração que pensa que “merece”, estará propenso a perder oportunidades que poderão dar mais sentido a sua carreira. 

Etapas para uma transição consciente

1. Analise os porquês! 

  • Avalie o seu momento profissional atual e reflita sobre os porquês de desejar fazer uma transição: 
  • O que deixa você insatisfeito na sua carreira hoje? Se o que o deixa insatisfeito hoje não existisse, você ainda entraria nesse processo? 
  • O que motivou você a pensar sobre isso? O que aconteceu com você ao longo da sua carreira, que o trouxe até este momento, com essa decisão? 
  • Quais talentos você deseja colocar em prática no seu novo ciclo? 
  • Que “chamado” você ouve internamente? Que missão você deseja abraçar em sua nova jornada? 

Quando analisamos os porquês, racionalizamos a tomada de decisão para agirmos no momento certo. Lembre-se: manter a sua reputação ilesa é importante nesse momento de transição. Não crie rupturas desnecessárias no seu currículo rompendo a relação de trabalho sem os cuidados necessários. Preserve a sua marca pessoal. 

2. Prepara-se financeiramente

Para que você passe por esse momento com tranquilidade, é necessário ter uma boa reserva financeira. O desequilíbrio financeiro comprometerá a sua vantagem nas negociações das propostas. 

Se você foi surpreendido com uma demissão, antes de entrar no processo de transição, é importante analisar como isso impacta o seu padrão de vida e, se necessário, fazer alguns ajustes financeiros. 

3. Defina o seu estado desejado e pesquise o mercado em que você deseja atuar

Defina os seus objetivos profissionais envolvendo questões sobre área de atuação ou tipo negócio; atividades que gostaria de fazer; pessoas ou grupos com os quais gostaria de trabalhar e/ou ajudar; posição hierárquica; entre outros aspectos. 

Depois pesquise as tendências, inovações e perspectivas desse mercado e, por fim, analise como você está com relação ao seu estado desejado. O que você precisa aprender, desenvolver, melhorar e eliminar para estar mais apto para este novo desafio. 

Faça uma análise comparativa entre o presente e o que você deseja. Pense sobre os prós e os contras, perdas e ganhos, o tempo que separa o hoje do amanhã (você está perto ou longe do que deseja?) e os impactos que esse novo projeto de vida provocarão em sua vida. 

4. Elabore um Plano de Carreira

Elabore um plano que contemple metas que estruturem o seu estado atual e o leve ao futuro de carreira desejado. É importante entender que não conseguiremos avançar com questões atuais que podem impactar negativamente a conquista dos resultados esperados. Se você não tem reserva financeira, terá dificuldades para investir na sua qualificação, por exemplo. Uma ação importante desse plano é elaborar uma planilha de gastos e analisá-la. 

Elabore metas ligadas à vida pessoal e profissional (currículo, qualificações, plano de negócio etc.). 

Elenque, para cada objetivo, possíveis obstáculos que possam atrasar ou impedir o alcance de suas metas. 

5. Invista na sua qualificação e no seu networking 

O mercado de trabalho e o mundo dos negócios não têm espaço para amadores. A procura por profissionais qualificados e por empresas que entregam uma experiência de valor está cada vez maior. Opte por desenvolver novas habilidades e competências que estejam alinhadas ao futuro do trabalho. 

O networking é uma rede poderosa para conseguir boas oportunidades. As plataformas digitais, como sites de colaboração e as redes sociais, facilitam essas conexões. Alimente conexões com pessoas e empresas que tenham convergência com os seus objetivos, mas cuidado com o uso das suas redes sociais. Elas também devem estar alinhadas aos seus objetivos e à marca pessoal que você deseja criar ou fortalecer. 

Nesta coluna, trarei para você assuntos relacionados a carreira, liderança, coaching e tendências sobre os assuntos. Contribua deixando sua pergunta ou sugerindo um tema de sua preferência, comentando este post ou enviando mensagem para o meu instagram: @delaniasantoscoach

Será maravilhoso ter você comigo nesta jornada. Até a próxima! 

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.