Quantas vezes na vida nos esquecemos de quem somos?

Esquecemos muito rápido. Talvez por isso estejamos cada vez mais nostálgicos, inclusive pelo que passou há alguns dias, há poucas horas; avalie há tempos atrás

“As lembranças se apoiam nas pedras da cidade.” A escritora Ecléa Bosi nos disse isso ainda no século passado, quando discorreu sobre a memória, o tempo e sua influência nas relações sociais. Além de tantas outras questões que nos atravessam a vida - e a memória - pelas marcas do tempo. 

A memória de um povo é uma das coisas mais preciosas que podemos ter na vida, e da vida. Registrar os acontecimentos, os fatos, os fenômenos e os marcos históricos dos sujeitos e de seus territórios é imprescindível para que tenhamos consciência política sobre quem somos, de onde viemos e o que explica, muitas vezes, o rumo que nós, enquanto indivíduos e sociedade, tomamos. 

É imprescindível guardar a memória individual, os registros sobre nós mesmos, nossos sentimentos, sensações; nossas escolhas e também o que rejeitamos. Conservar informações pessoais e também subjetivas faz parte de vários processos, inclusive o de autoconhecimento, seja em favor da saúde mental, seja para juntar peças que contam a(s) história(s) do mundo - e de nós. 

Às vezes esquecidas, às vezes desconhecidas. Somos compostos de muitas memórias de vida; o que fazemos, vivemos e sentimos forma o conjunto homogêneo e latente da nossa existência dia-a-dia. Ainda assim, as nossas histórias de vida são tantas vezes esquecidas por nós mesmos e por quem está ao nosso redor diariamente. 

Quantas vezes na vida nos esquecemos de quem somos, o que vivemos, mas também o que experimentamos junto a outras pessoas? Ou também nos recusamos a conhecer a história de quem está ao nosso lado no banco da igreja, do trabalho, da escola. Não sabemos o que contam ou sentem grande parte de quem amamos ou julgamos na vida. É inevitável perceber que são também parte de nós.

Desconhecemos o passado longínquo, mas também quantas vezes esquecemos o ontem vivido a risos ou prantos. Em muitos momentos, nem costumamos refletir sobre as lembranças perdidas, simplesmente um dia as esquecemos, perdemos dentro da rotina acelerada os fragmentos de tempos atrás guardados. 

Talvez por isso estejamos cada vez mais nostálgicos, inclusive pelo que passou há alguns dias, há poucas horas. Avalie há tempos atrás. Por isso a ideia do #TBT, a moda retrô ou as “músicas das antigas”. Sentimos falta do que nem conhecemos bem, porque o que temos tem passado rápido demais. E, então, não sentimos quem somos e muito menos quem está ao nosso redor.

É por isso que, às vezes, me pergunto de quem é a responsabilidade de multiplicar - por meio da memória oral mesmo do dia a dia - as nossas histórias de vidas, inclusive as de quem chegou há tempos e convive com diferentes gerações. Quem deveria recontar momentos a fim de perpetuar lições de vida? Será que somos todos guardiões?