Termelétrica do Pecém prevê investimento de até R$ 4 bilhões para transição energética no Ceará

O presidente da Energia Pecém, Carlos Baldi, calcula investimentos de R$ 800 milhões a R$ 4 bilhões para descarbonizar a Termelétrica Pecém I, instalada no Complexo Industrial e Portuário (Cipp), na Região Metropolitana de Fortaleza. A definição da cifra dependerá do leilão de reserva de capacidade (LRCAP 2024), previsto para ocorrer no fim deste ano.

“Como não sabemos as condições de contorno, pois a portaria não saiu ainda, desenvolvemos algumas opções de configuração”, explica Baldi. O pregão permite a contratação de potência para usinas termelétricas e hidrelétricas. 

No dia 21 de agosto, foi publicado, no Diário Oficial do Estado (DOE), um memorando de entendimento entre a empresa e o Governo do Ceará para converter a usina (hoje movida a carvão mineral) para gás natural, com o objetivo de iniciar a transição energética. Depois, a ideia é utilizar o Hidrogênio Verde (H₂V), a ser produzido no Estado, no próprio Cipp. 

O prazo para iniciar a mudança também dependerá do resultado do leilão, podendo levar de seis a 36 meses. O número de empregos será estipulado após a definição do projeto.

“O conceito é desenvolver soluções para conseguirmos migrar do gás natural para o H₂V, quando estiver disponível em volume e condições econômicas adequadas”, observa. 
Carlos Baldi
Presidente da Energia Pecém

Para o ex-secretário executivo de Energia e Telecomunicações do Ceará, Adão Linhares, que esteve à frente da discussão durante a gestão, essa decisão é positiva para os negócios e para o desenvolvimento sustentável no Estado.

“A termelétrica é um investimento de 30 anos, portanto, não se pode destruir um ativo assim por ser de carvão. É importante aproveitar para descarbonizar a usina, mas é um processo de transição, começando com o gás para depois aproveitar o Hidrogênio Verde”, avalia. 

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Gás Natural não é a melhor alternativa para descarbonizar, segundo instituições 

Assim como na Termelétrica Pecém I, o Brasil e mundo afora têm considerado o gás natural uma opção para substituir o carvão e o diesel para a descarbonização, principalmente do setor elétrico. No entanto, segundo a Coalizão Energia Limpa, formada por organizações da sociedade civil, esse não é o melhor caminho. 

“O uso e o investimento de GNL em termelétricas resultará em uma dependência do país nessa fonte de energia fóssil, justamente quando a economia global precisa aceleradamente zerar a emissão líquida de carbono para respeitar a meta de aquecimento global máximo de 1,5ºC estabelecida pelo Acordo de Paris”, explica o relatório. 

Conforme a coalizão, a produção de gás natural tem um aumento planejado de 130 milhões para 276 milhões de m³ por dia até 2030. 

“A percepção do gás natural enquanto combustível imprescindível para a descarbonização da matriz energética global atrasa a transição e compromete investimentos em formas e fontes renováveis de energia no longo prazo”, aponta.

Como alternativa, o documento sugere o uso de fontes eólica e solar, acompanhado de termelétricas movidas à biomassa para complementar a geração variável e contribuir para a energia de base no período seco das hidrelétricas.

Integram a coalizão: Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), Instituto Internacional Arayara, Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e ClimaInfo.

4 pontos que você precisa saber

O que é ESG?

ESG é a sigla, em inglês, para Ambiental, Social e Governança (Environmental, Social and Governance). O conjunto de práticas visa reduzir os impactos ambientais provocados pelas empresas e desenvolver um sistema econômico justo e transparente. Por isso, pode contribuir para a descarbonização da economia, termo usado para a redução da emissão de dióxido de carbono (CO₂), principal gás responsável pelo efeito estufa. ESG surgiu em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2004, e também está atrelado aos Objetivos de Desenvolvimento da ONU.

Por que o ESG é importante para o consumidor?

O ESG é importante para toda a sociedade, considerando que o País é marcado por assimetrias socioeconômicas, herança do período colonial, escravista e de uma cultura patriarcal. Por isso, pode promover mudanças de equidade no mercado de trabalho, além de reduzir os impactos ambientais dos negócios, sobretudo em um contexto de crise climática. Compreender a importância da agenda ESG ajuda a tomar decisões de consumo baseadas em práticas ambientais e sociais, pressionando os negócios a se adequarem.

O que é a Agenda 2030?

A Agenda 2030 é um compromisso global firmado pelos 193 Estados-membro da ONU, com o objetivo de gerar desenvolvimento sustentável nas dimensões econômica, social e ambiental, considerando as prioridades de países e localidades. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são parte da Agenda 2030

O que é o Acordo de Paris?

O Acordo de Paris é um pacto internacional voltado para conter o aquecimento global, aprovado como lei doméstica por 194 países e pela União Europeia, em 2015. Pelo tratado, a meta era manter o aquecimento abaixo de 2ºC e, na medida do possível, 1,5ºC.