IA não é solução mágica para as empresas e requer práticas de governança, diz especialista

A inteligência artificial (IA) impôs um novo desafio à governança empresarial. O professor da Universidade da Califórnia e fundador da Pacifica Global, Evan Epstein, chama a atenção para o uso do recurso como se fosse uma solução mágica para todos os problemas, sem levar em conta a implementação de práticas transparentes e responsáveis. 

“Lembram daquele pozinho de fada da Disney? Há um boom, e o Vale do Silício usa para dizer que é uma boa novidade", comparou, durante o Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), nessa terça-feira (8), em São Paulo. 

"Usam a ideia de que IA é um benefício para a humanidade. Eu não sei qual, mas está escrito lá [nessas companhias]", questionou. 

Para não restar dúvidas

O que é governança e por que é importante?

A governança prevê um conjunto de práticas para garantir a gestão transparente e responsável das empresas, ajustando interesses de funcionários, investidores e clientes (stakeholders). Entre as práticas estão: transparência, conselho de administração, código de conduta e equidade.

O que é Vale do Silício?

O Vale do Silício é um centro de tecnologia na Califórnia, nos Estados Unidos, onde estão gigantes Apple, Google, Facebook e outras Big techs.

Quem é Evan Epstein

Evan é professor da UC Law San Francisco e o fundador da Pacifica Global, uma consultoria especializada em auxiliar grandes executivos a superar desafios complexos de governança corporativa. A empresa dele fica em São Francisco, na Califórnia

Para Evan, a trajetória da OpenAI, responsável pelo ChatGPT, ilustra bem o conflito entre inovação e governança. Fundada com o objetivo de promover pesquisas para uma organização sem fins lucrativos, a empresa agora possui um valor de mercado de US$ 157 bilhões. 

Além disso, lembrou, o bilionário Elon Musk, um dos fundadores da OpenAI, entrou com uma ação judicial contra os cofundadores Sam Altman e Greg Brockman, alegando que o negócio desviou-se de sua missão original de desenvolver inteligência artificial para o bem da humanidade. 

Naquele ano, em 2023, Altman foi demitido do cargo de CEO, mas voltou ao posto cinco dias depois. “Foi considerado o maior golpe do Vale do Silício depois da demissão de Steve Jobs, e deixou todos furiosos”, destacou, acrescentando ter sido um grande exemplo de governança inadequada

Após a crise, o conselho da empresa foi reformulado, incorporando novas práticas.

“As pessoas do Vale do Silício não prestam atenção na governança”, completou. 

Outro ponto, destacou, é que a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos já se preocupa com práticas de IA washing, termo que faz referência à greenwashing”, expressão usada para “maquiagem verde” ou “lavagem verde”. Ou seja, quando marcas demonstram ser sustentáveis, mas não são.

Complemente seu conhecimento

O que é ESG

ESG é a sigla, em inglês, para Ambiental, Social e Governança (Environmental, Social and Governance). O conjunto de práticas visa reduzir os impactos ambientais provocados pelas empresas e desenvolver um sistema econômico justo e transparente. Por isso, pode contribuir para a descarbonização da economia, termo usado para a redução da emissão de dióxido de carbono (CO₂), principal gás responsável pelo efeito estufa. ESG surgiu em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2004, e também está atrelado aos Objetivos de Desenvolvimento da ONU.

Por que o ESG é importante para o consumidor?

O ESG é importante para toda a sociedade, considerando que o País é marcado por assimetrias socioeconômicas, herança do período colonial, escravista e de uma cultura patriarcal. Por isso, pode promover mudanças de equidade no mercado de trabalho, além de reduzir os impactos ambientais dos negócios, sobretudo em um contexto de crise climática. Compreender a importância da agenda ESG ajuda a tomar decisões de consumo baseadas em práticas ambientais e sociais, pressionando os negócios a se adequarem.

O que é greenwashing?

A expressão significa “maquiagem verde” ou “lavagem verde”. Ou seja, marcas que demonstram ser sustentáveis, mas não são.

Ceará é destaque em práticas ESG 

A coordenadora-geral do Capítulo Ceará IBGC, Renata de Paula Santiago, disse que as companhias cearenses estão “muito abertas, atentas e conscientes” sobre a importância de ações ESG. 

“O Ceará tem mais empresas listadas na bolsa de valores do que o restante do Nordeste. É um estado que desponta pela força, abrangência e pujança, transformando suas maiores dificuldades em pontos fortes, como o sol e o vento”, avaliou. 

Para ela, a alta adesão do empresariado cearense ao evento, por exemplo, sinaliza uma crescente conscientização sobre a importância da governança e de outras práticas ESG. 

A 25ª edição do Congresso do IBGC ocorre nestes dias 8 e 9 de outubro, no WTC Events Center, em São Paulo, 

*A repórter viajou a convite do Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa