A cantora Sandy anunciou o fim do casamento com o músico Lucas Lima nesta segunda-feira e gerou instantaneamente um efeito cascata de choque na internet: "o amor verdadeiro acabou mesmo", "estou abalada", "que choque!". Construída sob o estereótipo da mocinha perfeita desde que iniciou a carreira na infância, o fim do casamento é só mais um capítulo de uma vida inteira rotulada e idealizada por um país que fez cobranças machistas e encheu de estigmas uma mulher que merece poder viver em paz.
"A gente sabe que é pedir demais, mas vamos pedir mesmo assim: por favor, respeitem nosso momento, nossa família", suplica Sandy no anúncio feito junto com o agora ex-marido nas redes sociais. Em vão? As redes já estão cheias de questionamentos sobre o que pode ter ocorrido em 12 dias, entre o post de uma imagem amorosa do casal em uma viagem à Disney e o anúncio do término.
As perguntas sobre a intimidade chegaram à Sandy antes mesmo que ela pudesse entender algo sobre relacionamentos adultos, amor e sexo. Criança, respondia sem graça em programas de televisão sobre quando iria casar, se namoraria primeiro que seu irmão Júnior, se já tinha algum pretendente. Enquanto tudo sobre a dupla de sucesso virava produto, ela ia perdendo cada vez mais suas liberdades e privacidades.
"Falavam demais e me criavam rótulos injustos e muito engessantes", desabafa Sandy na série "Sandy e Junior - A história", disponível na Globoplay. As perguntas sobre o tema não paravam nos programas de televisão. Eram feitas insistentemente. Vai dizer que você nunca beijou um garoto da escola? Você nunca namorou? Nenhum beijinho? Não sente falta de um namorado? Um dos beijos mais comentados das telenovelas brasileiras foi o que deu no ator Guilherme Fontes, na ficção, como protagonista de "Estrela Guia".
As respostas acanhadas da cantora viraram combustível para criar em Sandy a imagem de moça certinha, de santinha. Virou a virgem do Brasil. Algumas vezes, foi chamada de careta. Mas não poderia ser virgem para sempre, certo? Quando ela decidiu expor o namoro com Lucas Lima para evitar mais especulações, vieram mais e mais perguntas sobre a virgindade, o sexo, a intimidade.
Aos 14 anos, Sandy precisava responder exaustivamente sobre o tema, o que a levou até a mentir sobre o primeiro beijo e o primeiro namorado. Anos depois, já adulta, comentou sobre sexo em entrevista longa à Playboy: "Falando de uma forma geral, eu acho que é possível ter prazer anal. Sim, porque é fisiológico. Não é todo mundo. Deve ser a minoria que gosta".
Parte da declaração, a aspa "É possível ter prazer anal", virou manchete e mais uma vez gerou surpresa em um país que a colocou no pedestal da moralidade e do conservadorismo que ela nunca disse que queria estar. Então agora como aceitar que a princesa, casada há 15 anos com alguém que namorou por outros nove anos, esteja se separando do príncipe?
"Houve uma cobrança muito grande de uma imagem que não fui eu que criei", ela já disse em entrevista. Diante de tanta coisa, decidiu preservar ao máximo a imagem do filho. E foi criticada por isso. O país demorou a perceber que Sandy cresceu. Depois, a colocou como musa, como sex symbol. Mas a cantora antes de tudo é uma mulher, uma mãe e merece viver sua vida com a liberdade e a intimidade que deseja. Vai viver, Sandy!