No mercado financeiro, o assunto de destaque foi a queda das criptomoedas, em especial do Bitcoin, que amargou quedas espetaculares, sobretudo nas últimas duas semanas, que superaram perdas de 45%.
Mas, afinal, o que aconteceu para os preços desabarem?
Os fatos mais marcantes que fizeram o preço desabar, do Bitcoin e de outras criptomoedas, têm origem na China, em razão da sinalização de restrições às instituições financeiras e empresas de pagamentos; e mais recentemente, de possível regulamentação mais rígida, para, além de coibir a negociação, atuar no sentido também de reprimir a mineração de Bitcoin.
O fator China, sem dúvida, é elemento-chave na queda do Bitcoin e de suas moedas irmãs. No entanto, uma figura singular do mundo empresarial, Elon Musk, também agitou o mercado das criptomoedas, ao dizer que suspenderia a venda de seus carros Tesla com pagamentos em Bitcoin; e também mostrar sua preocupação com as questões ambientais, sobretudo pelo uso de combustíveis fósseis para geração de energia na mineração de bitcoin.
China e Elon Musk, em grande medida, foram os elementos catalisadores da queda recente das criptomoedas. Outros fatores foram preços elevados em relação às médias históricas, inflação norte americana e gerenciamento de riscos dos investidores (ordens stop loss).
Então, podemos dizer que será o fim do Bitcoin?
Acredito que não. As criptomoedas ainda têm muita “lenha pra queimar”. Apesar de suas idiossincrasias, o Bitcoin vem suportando inúmeras tentativas de desconstrução e até mesmo anúncio de seu fim.
O site 99bitcoins, em interessante levantamento, chamado de Bitcoin Obituaries, em tradução livre, Obituário do Bitcoin; registra que o Bitcoin “já morreu” 415 vezes, desde seu início, em 2009, até a última sexta feira, 21/05. O que de fato ainda não aconteceu.
Entre todas as variáveis que jogam contra o Bitcoin, acredito que a onda Enviroment, Social e Governance – ESG, é aquela que deve mais preocupar os proprietários de criptomoedas no curto prazo.
A narrativa ESG é robusta, vem tomando proporções cada vez maiores, e os defensores dos criptoativos ainda não conseguiram um contra-argumento para neutralizar a crítica energética.
O alto consumo de eletricidade do Bitcoin, conforme pesquisa recente da Universidade de Cambridge, chama bastante atenção, na medida em que representa o consumo de energia em mais da metade de todos os data centers do mundo; supera em 1.700% do consumo do Google.
Se a criptomoeda mais conhecida, o Bitcoin, representasse um país, estaria em 29º maior consumidor de eletricidade do mundo. Suécia, Noruega e Argentina, são exemplos de países que consomem menos energia que o Bitcoin, segundo a pesquisa publicada.
Como se não fosse suficiente, estimativa de Cambridge aponta que apenas 39% de todo consumo de energia de mineração do Bitcoin é originado de matriz renovável. Ou seja, a questão ambiental é um problema sério e de curto prazo.
No médio e longo prazo, os proprietários de criptomoedas devem também permanecer atentos sob a ótica de regulação, pois os países, por meios dos seus bancos centrais, podem atuar de forma repressiva. Será de interesse destes a promoção de uso de suas moedas digitais.
Tenho uma certeza: além da narrativa ESG, de que as criptomoedas precisam repensar sua estratégia, estamos no limiar do maior embate monetário da história econômica. De um lado, as criptomoedas descentralizadas, como o Bitcoin e Ethereum, e de outro, o sistema monetário tradicional e as moedas digitais dos próprios bancos centrais.
Grande abraço e até a próxima semana!
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.