Quem acompanha o noticiário, provavelmente, sabe o que está acontecendo no Rio Grande do Sul. Naquele estado, um evento atmosférico de grandes proporções produziu volume de chuva enorme e elevou o nível dos rios a patamares catastróficos para as populações locais com mortes e perdas materiais. Bairros às margens do rio Guaíba, em Porto Alegre, ficaram submersos, o aeroporto foi afetado fortemente, assim como estádios de futebol e o centro da cidade.
Já falei neste espaço sobre a necessidade de cuidar dos rios urbanos. É importante, mas insuficiente. Diante do caso gaúcho e de outros tantos a acontecer, fica evidente a importância de desenvolvimento urgente de políticas e planos mais abrangentes, atentos às escalas regionais e não exclusivamente aos trechos dos recursos hídricos no interior das cidades.
Todo rio está inscrito num sistema de drenagem chamado bacia hidrográfica. Essa unidade do território, com rios principais e afluentes, interage constantemente, com efeitos tanto a montante (nascentes) como a jusante (foz). Comumente, as bacias percorrem o território de mais de um município e, por vezes, de mais de um estado. Isso significa que os problemas a afetar uma dada cidade podem ter sua razão decorrente das ações transcorridas em áreas urbanas e rurais bem distantes.
Por exemplo, quando uma cidade com baixa capacidade de tratamento dos seus esgotos lança os resíduos no rio, as populações que vivem nas urbes a jusante recebem diretamente o efeito daquela poluição.
Se há desmatamento e o rio assoreia, seu canal torna-se raso e sua área de alagamento se alarga, sendo, dessa maneira, capaz de alcançar territórios antes inatingíveis.
Outro aspecto a considerar é a reciprocidade dos processos. A modificação desregrada dos componentes naturais da bacia hidrográfica (aterros, barragens, desmatamento, impermeabilização do solo, etc) tende a acelerar as mudanças climáticas pois os rios são decisivos nas trocas de matéria e energia entre superfície terrestre e atmosfera.
Por outro lado, quando as mudanças climáticas geram efeitos extremos, as mesmas alterações nos rios potencializam os efeitos negativos de secas ou de enchentes.
Em resumo, se as soluções propostas forem pontuais, a tendência é resolução parcial ou mesmo a geração de novos problemas para as cidades rio abaixo ou rio acima. Para evitar novos impactos são bem-vindos projetos com abrangência espacial a dar conta da totalidade das bacias hidrográficas. Vale lembrar que existem os Conselhos de Bacia e muita ciência já foi desenvolvida em relação a esse tema. Infelizmente, o que nos falta é uma política de integração tanto em âmbito estadual como interestadual.
Não há outra opção viável. Se os municípios, coordenados pelos governos estaduais ou da União, juntamente com empresas e sociedade, não iniciarem uma política compartilhada de proteção das bacias hidrográficas, os jornais destinarão páginas e páginas a outros eventos da magnitude do que tem ocorrido no sul do Brasil.